sábado, 9 de novembro de 2019

Review - Danganronpa: Hope's Academy and Despair's Students


Faz quanto tempo desde quando eu disse no let's play desse jogo que eu escreveria uma review dele? Sei lá, eu perdi a conta... E não importa também, pois aqui está a review, antes tarde do que nunca!

Então... Danganronpa. Meu primeiro contato com essa série foi quando uma amiga minha tinha jogado a versão de PSP traduzida do primeiro jogo beeeem antes da série receber uma localização oficial e se tornar popular aqui no ocidente, ela não parava de falar sobre como esse jogo é incrível e eu totalmente devia jogar ele porque é a coisa mais pica das galáxias do mundo ou algo assim. Então eu joguei esse tal de Danganronpa, terminei o primeiro capítulo e... Meio que larguei lá, não por ter desgostado, na verdade eu não sei por que eu não continuei, mas só fui fazer isso uns anos depois quando a série já havia ficado popular, o pessoal me falou pra gravar um let's play e eu resolvi aceitar a proposta. Aí eu terminei Danganronpa nesse let's play e... Meio que fiquei sem saber o que diabos pensar desse jogo, honestamente. Eu gostei? Desgostei? Uhhh... Bem, pra isso eu estou aqui, tentando escrever uma review, eu acho.

Criado por um bando de japoneses que assistiram muito Jogos Mortais e jogaram muito Ace Attorney, Danganronpa é uma espécie de Visual Novel de mistério e horror psicológico com uns elementos de gameplay de ação e aventura colocados lá porque naquela época Visual Novels estavam despencando em popularidade e os caras queriam fazer o jogo deles se destacar mais. Acho que não preciso dizer que isso funcionou, né? Afinal, Danganronpa vendeu muito bem lá no Japão, rendeu uma adaptação em anime (infelizmente rushada) e sequências... Muitas sequências... Então sim, foi uma boa decisão da parte do pessoal da Spike.

E não, eu não joguei as sequências ainda, queria gravar elas, mas Danganronpa 2 ficou lento quando tentei gravar um let's play dele, aí eu não sei se jogo em off e escrevo review aqui ou se deixo pra quando der pra gravar. Por mim tanto faz qualquer uma das duas opções, pra ser sincero, vocês que sabem aí. De qualquer forma, isso é coisa pra depois, agora a gente vai focar no primeiro jogo da série, e apenas ele. Sigam-me os bons!

Detalhe: Essa review é da versão de PSP traduzida por fãs, não da localização oficial, portanto alguns termos provavelmente estarão diferentes do que o pessoal que jogou a versão oficial localizada tem costume.

Danganronpa se passa em... Algum lugar do Japão, mas é um lugar bem importante, pois nele fica uma escola de ensino médio especial chamada Academia Kibougamine, que aceita estudantes com talentos especiais em diversas áreas, conhecidos como Super Duper Highschool Students, indo de coisas como idol, programador e modelo pra... Motoqueiro de gangue e herdeiro de família, que eu nem sabia que eram áreas de profissão, mas ok então. Porém, um deles é o nosso protagonista, Makoto Naegi, um garoto normal que não tem nenhum talento especial e foi selecionado pra entrar na escola apenas por sorte, assim conseguindo o título de Super Duper Highschool Luckster.

Assim que Naegi entra em Kibougamine, no entanto, ele perde a consciência e acorda dentro de uma sala de aula vazia, de lá ele encontra os outros estudantes da escola, cada personagem se especializando em uma coisa específica. Por exemplo, a Sayaka Maizono é a Super Duper Highschool Idol, a Junko Enoshima é a Super Duper Highschool Model, o Leon Kuwata é o Super Duper Highschool Baseball Player, e por aí vai. Nossa turminha se encontra trancada dentro da escola, que agora é comandada por um urso de pelúcia esquisito chamado Monokuma, que age como se fosse o diretor e basicamente quer fazer com que os estudantes matem um ao outro pela chance de ganhar um prêmio e sair da escola, caso o assassino consiga enganar o restante dos alunos provando sua "inocência" no caso.

O que diabos tá acontecendo? Quem xerecas é o Monokuma e por que ele tá fazendo isso? Por que tem que ser especificamente com estudantes do ensino médio? Será que todos os 15 estudantes de Kibougamine sairão vivos dessa situação? Obviamente não, mas essas são as questões que ficarão na sua e nas cabeças de todos os outros personagens daqui enquanto eles vão explorando a escola pra desvendar todos os mistérios e talvez conseguir trazer um final feliz a essa putaria toda. Basicamente, em cada um dos seis capítulos da história o Monokuma aparece oferecendo um incentivo pra algum filho ou filha da puta do grupo matar alguém e tentar sair como inocente no caso, e através disso a gente vai vendo mais coisas sobre os personagens centrais de cada capítulo enquanto a escola também vai sendo explorada mais a fundo.

O modo como Danganronpa cria os mistérios em volta desses assassinatos é... Complicado, porque em certos capítulos os mistérios por trás dos assassinatos são bem feitos e os plot twists realmente me pegaram de surpresa, enquanto em outros o negócio tava tão óbvio que eu conseguia ver como tudo ia se desenrolar antes mesmo de chegar na etapa final com o julgamento. O capítulo 1 mesmo, que vem logo depois do prólogo, não passa lá a melhor primeira impressão possível quando se trata do assassinato e o mistério de quem estaria por trás dele, só tem um único suspeito de verdade e é fácil reparar na evidência que confirma isso, talvez até seja por causa disso que eu acabei não me interessando tanto assim em continuar antigamente. Por outro lado, o capítulo 2 foi muito melhor nesse aspecto, a morte ocorreu de um jeito mais elaborado, vários personagens pareciam suspeitos e eu não tinha certeza de quem eu deveria confiar... E na hora de ver quem foi o assassino, era alguém que eu nem imaginei que seria.

Ok, então o capítulo 1 era só uma introdução com um mistério óbvio pra gente pegar como as coisas funcionam, o 2 é o que mostra como o resto vai ser definitivamente, certo? Uhhh... Não exatamente, porque o capítulo 3 também deixa as coisas bastante óbvias, ou pelo menos fáceis de prever. Não sei se é porque esse jogo tem mais de um roteirista e obviamente o melhor deles em fazer mistério trabalhou em capítulos como o 2, o 4 e o 5... Ou se é só um roteirista e o cara simplesmente umas vezes acerta e outras erra mesmo, mas de qualquer forma, a qualidade dos elementos de mistério não é lá muito consistente.

Não que isso seja totalmente o aspecto que define Danganronpa, mas com certeza a trama do jogo está no seu melhor quando os assassinatos ocorrem e tanto as investigações quanto o processo de chegar ao culpado são engajantes pelo modo como o roteirista tá mexendo com a sua cabeça, te fazendo suspeitar de qualquer um ali por ter evidências que possam ligar a mais de uma pessoa. Porém, isso não fica tão interessante quando a história acaba fazendo um personagem específico parecer suspeito demais, e no fim das contas é exatamente esse personagem mesmo porque não poderia ser outro... A menos que o roteirista tire uma informação nova do cu que nunca havia sido sequer indicada antes e taque lá de última hora pra culpar outro personagem como algum tipo de plot twist, mas isso aí já seria sinal de escrita ruim.

Apesar disso, Danganronpa também tem bons personagens... Em maioria, uns são mais interessantes do que outros, mas é meio difícil jogar esse jogo e não chegar a gostar de pelo menos uns 3 personagens. Mesmo os capítulos que não se saem tão bem assim com os assassinatos e os mistérios em volta deles pelo menos fazem um bom trabalho em explorar os personagens centrais deles, dando uma profundidade a mais pra personagens que normalmente são arquétipos de anime até bem exagerados, coisa da qual o próprio jogo se mostra auto-consciente. Um bom exemplo disso é justamente a Super Duper Highschool Idol, Sayaka Maizono... Sim, eu xinguei ela bastante naquele let's play, mas aquilo foi mais pra efeito cômico do que qualquer outra coisa, eu não realmente acho a Maizono uma personagem ruim e nem nada do tipo. Muito pelo contrário, ela foi bem caracterizada e teve um conflito interessante enquanto ela durou.

Superficialmente, a Maizono parece uma waifuzinha genérica de anime, toda simpática e adorável ao ponto de ser a primeira personagem ali a fazer amizade com o Naegi e provavelmente o interesse amoroso dele. Só que a Maizono é uma idol, nada menos do que a maior idol daquele mundo, com todos os atributos "perfeitos" tanto de personalidade quanto aparência que fazem com que uma idol tenha apelo e agrade o máximo de pessoas possíveis, então é natural que ela pareça "perfeita" a princípio até mesmo pro Naegi. Mas essa coisa de idol mexe bem mais com a cabeça dela do que parece a princípio, ter que manter uma imagem positiva que agrade todo mundo fez ela desenvolver uma ansiedade que se agravou mais ainda agora que ela tá trancada dentro de uma escola longe dos olhos do público com chances bem baixas de sair.

O que vai acontecer la fora? E as outras garotas do grupo de idols dela? As pessoas vão sentir falta da Maizono? Será que já se esqueceram dela e viraram seus olhos pra outra pessoa que agora ocupa o lugar e talvez até faça o trabalho melhor? O que ela vai fazer se tiver sido esquecida a esse ponto depois de dedicar a sua vida ao que é essencialmente uma personagem que ela finge ser pra agradar os outros? É bem legal ver como através de perguntas como essas, a imagem de waifu perfeitinha da Maizono vai se desfazendo na medida em que ela vai ficando mais estressada e desesperada pra sair de Kibougamine até culminar na sua tentativa de matar o Leon e incriminar o Naegi, o que pode até ser inesperado pra maioria das pessoas que começam a jogar e esperam que a história vai ser algo como o Naegi sendo o protagonista e ela a sidekick com possível interesse amoroso.

Pra uma personagem que o jogo usa no começo pra você ter alguém amigável por ali, e também pra mexer com as suas expectativas de como as coisas vão ser, isso é um arco de personagem bem executado apesar de curto. Só não entendi por que diabos de todos os 14 estudantes que tavam ali junto, a Maizono foi escolher justo o Leon pra tentar matar... Sim, o Leon, um cara que joga beisebol e tem capacidades físicas e stamina obviamente superiores às dela, quando tava ali o Yamada ou o Hagakure que provavelmente se dariam mal em uma briga e seriam fáceis de enganar também, mas tanto faz.

Outros personagens como Mondo Oowada, Chihiro Fujisaki e Sakura Oogami também têm arcos parecidos que me surpreenderam enquanto jogava pela primeira vez. A Sakura em particular é uma personagem que eu podia jurar que seria só uma personagem de piada porque tipo... Ela é uma mulher, mas chega a parecer até algum tipo de sátira, porque ela tem um corpo que daria a ela uma facilidade absurda pra ser protagonista de um anime de machão inseguro com personagens bombadões que se surram até a morte, tipo um Hokuto no Ken da vida, e ela é a Super Duper Highschool Fighter, ela tem uma força completamente sobrehumana. Na real, eu cheguei a pensar que ela poderia ser um homem, mas nem era esse o caso, ela é uma mulher e tem um papel importante pra caralho na história, assim como também é uma das personagens mais confiáveis e humanas do bagulho todo. A Sakura tem consciência da aparência dela e isso causa problemas pra ela aceitar que tem um lado mais feminino, e a amizade dela com a Asahina acaba ajudando ela a se sentir melhor consigo mesma, o sacrifício da Sakura no capítulo 4 e o modo como a Asahina lida com isso é um dos momentos mais fortes da trama, não só pelo drama em si ser excelente, mas também porque isso coloca um fim na matança e nenhum dos estudantes que sobraram tentaram matar um ao outro mais.

Talvez o que ajuda também com essa quebra de expectativa que ocorre com certos personagens de Danganronpa é o design desses personagens, que não só são todos bem distintos uns dos outros como também intencionalmente reforçam a imagem de arquétipos de anime que eles passam e funcionam bem como parte da narrativa. Bem, não que todos os personagens de Danganronpa sejam assim, o próprio Naegi mesmo é um protagonista meio sem graça pra ser honesto... E sim, eu sei que o ponto é ele ser sem graça e tal, mas acontece que o personagem dele não tem muito além disso, é um protagonista de anime padrão, inofensivo... E passivo e otimista ao ponto de ser irritante algumas vezes até. Mas não o considero um personagem necessariamente ruim, tem até uns elementos interessantes quando você olha pros outros personagens com relação a ele.

Com exceção do Naegi, todos os personagens nisso aí são pessoas altamente talentosas que parecem ter uma vida feliz já garantida nas suas áreas. Apesar disso... A grande maioria deles não é lá muito feliz com eles mesmos: O Leon é um jogador de beisebol talentoso, mas ele nem gosta de beisebol e ao invés disso tá querendo mesmo é formar uma banda de rock, já falei sobre o problema da Maizono com a imagem de idol dela, tanto o Fujisaki quanto o Mondo querem se tornar mais fortes das suas próprias maneiras, ao ponto do segundo mencionado ter criado um complexo por causa disso e matado o primeiro como resultado... Enfim, esses personagens têm problemas, eles querem ser diferentes de como eles são. O Naegi, no entanto, não é particularmente talentoso e nem nada, mas ele tá perfeitamente ok com isso, ele aceita essa condição e tenta viver do jeito que dá, o que torna ele até relacionável em certo nível, mas não o deixa muito menos sem graça em comparação com outros personagens daqui.

Normalmente o Naegi fica um pouco mais legal de acompanhar quando ele tá interagindo com a Kirigiri, que de certa forma é a protagonista secundária da história. A relação entre os dois, o modo como a lógica dela é balanceada pelas emoções dele, como eles vão aprendendo um com o outro e criando uma confiança mútua é bem feita e culmina naquele momento decisivo do final do capítulo 5. Minha única reclamação quanto a isso é que a Kirigiri algumas vezes pode parecer um pouco conveniente demais... Quer dizer, ela é uma detetive incrível que tá sempre um passo à frente de todo mundo nas investigações e quase sempre tá certa nas suas deduções, e normalmente isso me incomodaria, mas considerando a ideia dessa escola de juntar pessoas que são as melhores em certas áreas, faz sentido que a Kirigiri que é a Super Duper Highschool Detective seja muito melhor do que o Naegi e os outros em... Bem... Ser detetive. O meu problema é que algumas vezes ela simplesmente aparece bem na hora certa com as soluções pros mistérios e isso é meio sem graça, mas não é como se fosse tão frequente assim.

Os personagens restantes são... Ok, eu acho. A Asahina e a Celes são legais e os capítulos 3 e 4 dão uma expandida nas duas personagens, o Hagakure tem uns momentos divertidos apesar de ficar meio largado lá, o Yamada e o Ishimaru são personagens de alívio cômico de uma piada só e não demora muito pra ficarem enjoativos, o Leon não faz muita coisa, e a Fukawa e o Togami são personagens que eu não poderia achar mais cagáveis. Aparentemente, eles são personagens que muitas pessoas têm como favoritos, mas pra mim o Togami é só um playboy arrogante genérico que tenta parecer inteligente e acaba sendo burro sem auto-consciência e tem um desenvolvimento de personagem bem previsível, enquanto a Fukawa é... Bem, ela mesma não tem nada especial, mas a gimmick dela trocar de personalidade com a Genocider Shou é interessante, pra se dizer o mínimo, ao menos a própria Genocider é uma personagem bem mais divertida do que a outra personalidade dela. Ainda assim... Togami e Fukawa são os dois personagens entre os estudantes aí pros quais eu não consegui ligar nem um pouco mesmo.

Dito isso, a inconsistência no modo como os mistérios são executados nem é um problema tão grande assim pra mim, é só algo que eu gostaria que fosse feito melhor mesmo, mas consigo lidar pelo jogo acertar em outros aspectos, em especial nos personagens. Mas... Meu problema com o enredo de Danganronpa não é apenas esse, na verdade tem um outro beeeeem maior, que até amargurou um pouco a minha experiência e me deixou quase totalmente apático ao terminar o jogo.

Então... Tem o Monokuma, que é um vilão bem divertido de se ver por causa da sua personalidade sádica e ao mesmo tempo brincalhona que reforça o senso de humor negro presente no jogo. Ele faz umas piadinhas infames, mexe com a cabeça de todo mundo e não tá nem aí, porque tá tudo sob o controle dele, eu adoro esse tipo de vilão quando é bem feito! Personagens como o Coringa, o Vaas Montenegro e o Kefka Palazzo são bons por isso, os caras são filhos da puta de um jeito que só eles mesmos poderiam ser, e de alguma forma eles ainda conseguem ter carisma mesmo sendo pessoas horríveis, além de serem difíceis de prever também, e o Monokuma passa uma aura similar. Não só isso, mas também o jogo hypa bastante esse mastermind por trás do Monokuma, a pessoa misteriosa que tá manipulando essa merda toda, especialmente depois do capítulo 4 quando nossos heróis pararam de tentar matar um ao outro e passaram a se focar em descobrir quem é o Monokuma e o que ele quer.

Ok, a única coisa que a gente sabe sobre o Monokuma durante o jogo inteiro é que aparentemente ele quer induzir todo mundo ao desespero, e ele gosta bastante de fazer isso em especial depois da pessoa ter tido alguma esperança. Então o jogo vai hypando bastante esse lance do Monokuma, de desespero e esperança e tal... Até que chega nos dois últimos capítulos que são inteiramente dedicados a desvendar o mistério por trás da escola toda, a identidade do Monokuma e por que essa merda toda tá acontecendo. Os capítulos em si são engajantes e eu me diverti tentando ficar um passo à frente do jogo e adivinhando o que pode ser a resposta praquilo, os plot twists que ocorrem durante as investigações são ótimos e tudo parece estar seguindo pra um clímax satisfatório. Exceto que... Não, na verdade o payoff dessa construção toda é decepcionante e o final da história chega até a ser meio brega.

Sabe aqueles plot twists de última hora que mudam todo o escopo da história e deixam uma caralhada de perguntas no ar que nunca vão ser respondidas dentro dessa mesma história? Então, Danganronpa manda uma dessas no último capítulo, e faz isso de um jeito nem um pouco agradável e muito menos apresenta essa revelação de modo que pareça algo crível. Ao mesmo tempo, a história revela tudo o que estava por trás do Monokuma e dessa situação toda... E Jesus, isso é tão estúpido que eu realmente tive dificuldades pra levar a sério! Basicamente, a pessoa por trás disso tudo é ninguém menos do que a Junko Enoshima, não a que morre lá no começo do jogo, aquela era na verdade a Mukuro Ikusaba, a irmã da Junko que estava se passando por ela esse tempo todo... Por algum motivo.

E não é só isso, a Junko na verdade comanda uma organização chamada Super Duper Highschool Despair que tem o objetivo de... Espalhar o desespero pelo mundo todo... E de alguma forma essa organização criada por uma estudante do ensino médio conseguiu causar um apocalipse no mundo todo. Sim... É sério isso, eu não tô inventando nada do que você tá lendo aqui. E qual diabos é o propósito de espalhar o desespero pelo mundo e causar o apocalipse? Nenhum! A Junko não tem motivo nenhum pra fazer isso, ela sequer pode ser considerada a porra de uma personagem, inclusive, porque ela não tem personalidade nenhuma, ela não tem motivações, não tem nada! Tentaram dar uma gimmickzinha pra ela ali onde ela fica mudando de personalidade de um segundo pro outro, mas isso é claramente uma ferramenta barata do roteirista pra tentar disfarçar o quão vazia e sem personalidade a Junko realmente é. Diabos, ela é de longe a pior personagem disso, ela é malvadona, ela acha desespero muito bom e... É isso, não tem mais nada, ela sinceramente conseguiu acabar com qualquer impressão positiva que eu tava tendo do último capítulo desse jogo.

Isso sem contar os furos de roteiro que esse plot twist da reta final acaba causando. Se o Monokuma, que era a Junko o tempo todo, faz questão que as regras da escola sejam seguidas e até pune os estudantes que desobedecerem... Então por que a Junko, que também é uma estudante, passou o resto da história toda sem ir pro seu dormitório no período noturno como todos devem ir? Ou por acaso você tá me dizendo que ela fez isso na calada toda santa vez? Porque isso é ridículo, alguém teria visto ela fazer isso, se passaram vários períodos noturnos e já tiveram personagens saindo dos seus quartos nesse período. E a Genocider então? Por que diabos ela não se lembrou da Junko se as memórias dela em específico não foram apagadas como as dos outros estudantes e ela reconheceu todos eles por causa do período que ela passou com eles antes? Também nunca explicam o que diabos foi aquele incidente da malefação que o nome é difícil de lembrar, mas que aparentemente afetou o mundo todo... Eles aludem a isso e depois o negóicio meio que é esquecido. E sim, eu sei que Danganronpa tem sequências que provavelmente vão dar mais sentido pra esses plot twists, mas... São sequências, esses negócios dentro da história desse jogo aqui são completamente jogados lá de qualquer jeito e fazem parecer até que o resto da trama antes deles não importa tanto assim.

Pelo menos o conflito principal dos personagens dentro da escola é resolvido, e eu acho que dá pra dizer que o tema central da história sobre esperança e desespero também é aprofundado decentemente. Essa não é uma história ruim no geral, mas quando o jogo passa tanto tempo hypando essas grandes reviravoltas que vão surgir depois na história dele, eu espero no mínimo que essas reviravoltas sejam relevantes pra história desse jogo e não um "comprem o nosso próximo jogo ae kkkkk" no fim das contas. Existindo sequência ou não, pra mim uma história ainda precisa funcionar de forma independente, e a de Danganronpa funciona na maior parte do tempo, mas dá uma cagada bem grande na reta final tentando aos 45 minutos do segundo tempo deixar de ser só uma história de estudantes talentosos presos dentro de uma escola tentando matar um ao outro pra sair.

Bem, eu falei bem mais da história do que eu imaginei que fosse falar. Não é culpa minha, Danganronpa ainda é uma Visual Novel afinal de contas, e história é praticamente o ponto principal desse tipo de jogo... Em alguns casos, o outro ponto importante seria a apresentação, as músicas e os visuais, já que gameplay em VN costuma quase não existir com exceção de alguns casos como Ace Attorney ou Symphonic Rain. Danganronpa felizmente tem tanto uma identidade visual forte quanto um gameplay interessante, além de uma trilha sonora que também não faz feio. Os gráficos podem até parecer esquisitos à primeira vista por serem uma mistura estranha de cenários 3D com personagens representados por sprites 2D que mais parecem recortes de papelão ali, mas com o tempo você vai criando costume e talvez até apreciando esse estilo, é diferente do normal pelo menos.

Apesar de assassinato ser um assunto um tanto pesado, Danganronpa ainda é um jogo bem colorido, provavelmente feito com intenção de criar um contraste mesmo, e na maior parte do tempo isso funciona, mas... É, eu ainda não sou muito fã do sangue rosa, acho que essa é a minha única reclamação quanto aos visuais mesmo. A trilha sonora é muito boa, até hoje eu ainda me lembro de várias das músicas que tocaram enquanto eu gravava o let's play, ainda que fosse com áudio mais baixo por motivos de gravação, eu procurei pela trilha sonora de Danganronpa pra ouvir melhor algumas das músicas. Minhas favoritas são a DISTRUST (inclusive esse também é o nome da versão protótipo do jogo), o tema do Monokuma, Beautiful Dead e Despair Syndrome, mas a grande maioria da OST me agradou bastante. Essa versão de PSP tem dublagem japonesa apenas, já que ela não foi localizada pra ganhar uma dublagem americana como a de PC, porém eu gosto bastante de dublagem japonesa e a desse jogo aqui não é muito diferente, não tenho muito o que dizer além do fato de que as vozes combinam bem com os personagens e as falas são bem interpretadas.

Danganronpa é um bocado diferente das VNs comuns no sentido de que nem tudo no gameplay se baseia em escolhas e menus, mas sim em você de fato poder andar livremente pelos cenários. Com uma câmera de primeira pessoa e a movimentação básica de andar ou correr, você sai explorando a escola enquanto um cursor fica na tela e você usa ele pra poder interagir com os vários objetos e pessoas que ficam espalhados pelos cenários, bem estilo point and click mesmo. Alguns desses objetos não são muito relevantes pra história e pode até ser mais ou menos uma perda de tempo interagir com eles, mas uma vez ou outra examinar coisas inúteis ou escondidas nos cenários te dá uma moeda do Monokuma que você pode usar pra comprar presentes gerados pela MonoMono Machine e dar pros outros personagens... Sim, você pode dar presentes, isso é parte da mecânica de bonding do jogo da qual eu vou falar com mais detalhes logo logo.

Basicamente, esse jogo é dividido em três segmentos de gameplay: Free Time, Investigação e Class Trial, e esses segmentos são exatamente o que os nomes implicam. Durante o Free Time você basicamente pode fazer o que quiser por aí, explorar a área da escola que tá liberada até o momento, mas o mais encorajado é você interagir com os outros personagens que estão espalhados por aí, podendo ter conversas especiais com cada um deles e assim aprendendo informações novas enquanto sua relação com eles vai melhorando. E é aí que entram os presentes, cada personagem gosta de um tipo específico de coisa, e na medida em que você vai conhecendo esse pessoal melhor, escolher os melhores presentes pra sua relação com cada um melhorar mais rápido fica bem intuitivo. Por exemplo, a Asahina gosta de comer, em vários momentos do jogo ela demonstra uma obsessão não muito sadia por rosquinhas, e uma rosquinha é um dos presentes que a MonoMono Machine pode gerar pra você, obviamente isso é mais apropriado pra dar pra Asahina.

Apesar de ter uma certa profundidade, no entanto, essa mecânica de bonding não é usada de uma forma tão proeminente assim. Quer dizer... Muitos dos personagens provavelmente vão morrer antes mesmo de você conseguir conhecê-los direito, e ficar amigo da galera aí não tem muito impacto no jogo tirando umas skills que eles te dão pro Class Trial e talvez as informações novas sobre os personagens que você vai aprendendo, coisas sobre os passados deles, outros aspectos das suas personalidades que eles não demonstram tanto assim na história normal. Talvez isso nunca teve a intenção de ser uma mecânica tão importante assim pro jogo, é só um meio de te fazer conhecer melhor os personagens caso tenha interesse neles.

O problema é que essas interações acabam não sendo muito relevantes pra história no geral, no máximo elas podem até indicar alguns eventos que vão acontecer depois, ou revelar coisas sobre os personagens que justificam eles agirem do jeito que agem... Por exemplo, o Ishimaru ficou próximo do Mondo e parece que a vida dele acabou depois do Class Trial que revelou que o Mondo era o assassino que matou o Fujisaki. Então através de conversas com o Ishimaru no Free Time, você acaba aprendendo que ele nunca teve nenhum amigo de verdade, o que explica ele ter se apegado tanto ao Mondo e ficado exageradamente devastado quando o único amigo que ele fez na vida era um assassino que acabou sendo executado. Informações desse tipo são interessantes e ajudam a ter uma compreensão melhor dos personagens, mas elas acabam ficando no meio de um monte de interações sem muito propósito onde os personagens meio que só falam das coisas que eles gostam enquanto te fazem umas perguntas, talvez até daria pra chamar isso de filler.

Agora um bagulho que é completamente inútil pro jogo e poderia ser removido é o sistema de Re:Act, basicamente você vê umas partes dos diálogos dos outros personagens marcadas e aperta um botão pro Naegi perguntar sobre elas em específico. O conceito é até interessante, mas o jogo não usa isso de nenhum modo muito diferente de simplesmente fazer o Naegi perguntar automaticamente... Na verdade é até meio irritante ter uma conversa com um personagem, aparecerem múltiplas opções de Re:Act e você ter que perguntar sobre todas pra progredir, porque você vai ter que iniciar uma conversa pra faze um Re:Act, depois falar com o personagem de novo repetindo o diálogo só pra fazer o outro Re:Act... E na maioria das vezes isso é obrigatório, o que é uma merda.

As seções de investigação basicamente se iniciam depois que um assassinato ocorreu e você precisa investigar a cena do crime e outros cantos da escola atrás de evidências, conversando com personagens que podem dizer coisas úteis a respeito do caso em questão e... É meio parecido com Ace Attorney até, né? Inclusive você não tem como progredir na história a menos que tenha investigado todas as áreas relevantes, falado com todos os personagens que podem oferecer algo de útil e coletado todas as evidências pra usar no Class Trial, que de certa forma é a parte principal desse jogo. Caso você fique perdido, basta olhar o mapa que marca os pontos de interesse ou então apertar o botão que mostra todos os pontos dos cenários que dê pra examinar, algumas vezes eu fiquei, mas é porque eu tava jogando e falando ao mesmo tempo, então acabei ficando meio perdido vez ou outra. E eu sei que é fácil comparar Danganronpa com Ace Attorney por causa desses elementos de investigação e uso de evidências em no julgamento, mas as similaridades terminam por aí, porque o modo como os Class Trials de Danganronpa funcionam é bem diferente dos julgamentos nos jogos do Phoenix Wright.

Os Class Trials também são divididos em segmentos de gameplay distintos, mas nesse caso são minigames: Nonstop Debate, Epiphany Anagram, Machinegun Talk Battle, e por último, mas não menos importante, Climax Logic. No Nonstop Debate, as falas dos personagens aparecem como textos na tela e você usa as suas evidências como munição pra atirar na parte do texto que contradiz a sua evidência como se fosse um OBJECTION do Bolsonaro, no Epiphany Anagram você brinca de jogo da forca e atira nas letras certas pra formar as palavras necessárias, o MTB é um minigame de ritmo e o Climax Logic é o momento onde você conta como a história toda aconteceu, montando tudo como se fosse um mangá e escolhendo as cenas certas pra encaixar nos lugares certos.

Cada um desses minigames funciona bem, apesar do MTB não ser muito bem explicado a princípio mesmo com os tutoriais antes e tudo. Uma coisa legal é como eles vão ganhando coisas novas na medida em que o jogo progride pras coisas não ficarem repetitivas, o Nonstop Debate começa a ter munições variadas, depois você ganha a habilidade de pegar algo que um personagem disse e usar como munição em outro caso as suas evidências não sirvam, o Climax Logic vai tendo uns painéis que não têm muito a ver com a história só pra confundir mesmo, o MTB tem umas mecânicas novas que eu não liguei muito porque sou horrível em jogo de ritmo de qualquer forma, mas tá lá. Eu só não ligo muito pro Epiphany Anagram, não sinto que ele acrescenta tanta coisa assim ao jogo e normalmente as palavras são bem fáceis de adivinhar, o que acaba me fazendo perguntar se isso era necessário ou se eu não poderia simplesmente escolher uma evidência que tivesse a ver com essa palavra ou algo assim. Quer dizer, entre esses minigames algumas vezes você precisa responder umas perguntas apresentando a evidência certa... O Epiphany Anagram não é tão diferente assim disso.

E quanto ao MTB... Bem, na verdade o minigame em si é ok, não tem nada horrivelmente errado com ele fora o tutorial não explicando tão bem assim a princípio, você aperta o botão pra mirar nos balões de fala e atirar no ritmo da música, ficando sempre de olho também na sua munição pra recarregar nas horas certas. Porém, as circunstâncias que levam a um MTB na história quase sempre parecem forçadas pra caralho, um personagem simplesmente fica muito puto modo turbo com o Naegi do nada e aí você tem que usar esse minigame de ritmo pra acertar os xingamentos que ele manda e no fim quando a barra de vida dele acabar, você atira a munição pra acabar com ele de vez. Mas quando a sua barra de vida acaba e você perde... De repente todo mundo agora desconfia de você por algum motivo! É tão esquisito e até meio engraçado ver a história desenrolando com o Naegi ali apresentando todas as evidências possíveis contra um personagem tal, provando por A + B que ele é o assassino e todo mundo ali concordando... Aí o personagem começa a xingar, e então esses xingamentos dele "derrotam" o Naegi e agora todo mundo suspeita dele como se não tivesse evidência e nem nada. Que porra é essa, pessoal?

Tem uma galera que não gosta muito do Climax Logic, mas honestamente eu achei bem legal essa ideia de montar um mangá de como os eventos que levaram ao assassinato aconteceram e assim desmascarar de vez o/a meliante do capítulo, até porque apesar do assassino em alguns capítulos ser óbvio, os modos como os assassinatos ocorreram são sempre bem criativos. Algumas vezes pode ficar meio confuso e eu mesmo errei um bocado de vezes enquanto montava as cenas no let's play, mas creio que a intenção tenha sido essa mesmo, caso contrário essa seção nem teria muito desafio, e eu nunca cheguei a falhar totalmente no capítulo por causa disso também, então não acho que chegue a ser algo muito frustrante de qualquer forma. Não que exista muita consequência pra falhar totalmente também, se você perde os cinco corações de vida que tem no Class Trial ou o tempo acaba, você simplesmente tem a escolha de tentar de novo exatamente de onde falhou, com a única consequência sendo talvez... Sei lá, um rank mais baixo no fim do Class Trial? Tem isso, mas creio eu que a única coisa que esse negócio do rank afeta é a quantidade de moedas que você ganha no fim, então tanto faz.

De qualquer forma, os Class Trials são facilmente a melhor parte do jogo pra mim, com exceção do Epiphany Anagram que... Meio que só tá lá sendo o Epiphany Anagram, os minigames são bem desenvolvidos com as mecânicas novas que vão sendo introduzidas neles em cada capítulo novo fazendo com que eles sempre se mantenham interessantes e não caiam na repetitividade. As animações de execução dos assassinos dos capítulos também são criativas e as temáticas delas costumam ter a ver com o talento do personagem em questão, o Leon morre sendo metralhado por bolas de beisebol, o Mondo literalmente vira manteiga depois de ser colocado num globo da morte de moto indo a velocidades absurdas, a Celes tem mais a ver com o desejo dela de ser única, especial... Que acaba não sendo realizado, porque ela ia ser queimada viva como uma bruxa, mas acaba na verdade sendo atropelada por um caminhão de bombeiro, e atropelamento... Meio que é uma causa de morte bem comum.

Com exceção da história principal com todos esses segmentos diferentes de gameplay, acho que não tem muito mais o que se fazer em Danganronpa. Apesar de ser uma VN, a história é bem linear e a maioria das escolhas que você tem são inconsequentes, ou apenas tratadas como questionários onde você precisa escolher a opção certa pra poder progredir pra começo de conversa e escolher as opções erradas podem no máximo dar uns diálogos diferentes, a história vai sempre ser a mesma independente disso. Quer dizer, você pode rejogar pra passar o Free Time com personagens diferentes, explorar cantos da escola que não explorou antes e destravar umas CGs extras, mas isso não chega a dar nada muito substancial como recompensa por rejogar, talvez você ache interessante jogar o jogo de novo em níveis de dificuldade mais altos pros Class Trials, no entanto. A versão de PC tem um modo exclusivo chamado School Mode, que é destravado depois de terminar o modo normal e aparentemente expande o conceito do Free Time e transforma o jogo em algo mais próximo de uma VN comum onde você segue rotas de personagens específicos e tal... Mas é a versão de PC, a de PSP nem tem nada extra desse tipo mesmo.

Então é isso, Danganronpa é um jogo com problemas, mas que no geral eu diria que foi uma experiência positiva. Graças aos capítulos 1 e 3, a primeira metade fica deixando a desejar, e a segunda metade é muito boa até chegar no final do capítulo 6 onde a história dá um tiro atrás do outro no próprio pé enquanto tenta criar um gancho pra sequência e termina de um jeito insatisfatório. Mas os capítulos bons são realmente bons, os personagens são carismáticos e mesmo os capítulos 1 e 3 sendo meio fracos no geral, eles ainda têm seus momentos. O gameplay é uma mistura de gêneros feita de um jeito orgânico, com os elementos se complementando na maior parte do tempo... Com áreas onde pode melhorar com certeza, mas as investigações e os Class Trials são consistentemente engajantes e quase sempre me mantiveram apreensivo.

Será que esse acidente de trem todo com a Junko e a Super Duper Highschool Despair vai ser compensado em Danganronpa 2? Só eu jogando mesmo pra saber, mas gravar um let's play desse jogo como eu fiz com o primeiro vai ser complicado, por isso não sei se gravo ou se jogo em off pra postar review aqui. Mas isso é coisa pro futuro, se está próximo ou distante eu não tenho certeza. Só espero por agora que esse formato de review tenha ficado melhor que o outro, apesar de não ter passado muita impressão de que os textos ficaram mais curtos. Bem, a culpa é do jogo por ter mais foco em história, reclamem do tamanho do texto com a Spike Chunsoft e não comigo!

Nota: 7

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