quarta-feira, 6 de maio de 2020

A questão dos fillers e das histórias originais em animes


Uma coisa que eu vejo muita gente da grande comunidade de desenhos chineses fazer é usar o termo "filler" de uma forma que tá mais frequentemente errada do que certa, assim como automaticamente ver filler como algo negativo, como se a mera ideia de um anime baseado em um mangá, Light Novel ou o que for, ter um episódio que não seja diretamente adaptado do seu material de origem fosse automaticamente uma merda porque não é um episódio mostrando o que o autor escreveu. Pois eu estou aqui pra consertar essa visão e mudar o estigma negativo que rodeia os fillers e conteúdos originais em animes adaptados ou parcialmente adaptados, afinal não é só porque os fillers de Naruto são tão bons quanto fazer um exame de próstata com o Freddy Krueger que significa que qualquer outro anime também siga esse meme aí.

Antes de qualquer outra coisa, vamos definir aqui o que é um filler, a tradução literal disso é algo como "enchimento", ou "enchedor", basicamente algo criado pra encher linguiça, ocupar espaço. Se tratando de animes que são adaptações de mangá, isso significa que o anime está chegando perto de alcançar o ponto onde o mangá parou, então o estúdio precisa dar um tempo pro autor do mangá criar material suficiente pra continuarem adaptando, afinal eles têm um contrato e precisam manter o anime na programação do canal de TV que passa ele. Qual a solução pra isso? Exatamente, criar episódios com conteúdo original inventado pelo estúdio do anime pra ir ocupando espaço até o mangá estar bom pra adaptar novamente! É por isso que Naruto tem tanta merda aleatória entre os arcos de história adaptados do mangá, especialmente o Shippuden que eu não tive nem saco pra ver inteiro, e nem tenho interesse em continuar, de qualquer forma. 

Pra ser justo, isso não é só com Naruto, esse anime apenas se tornou o posterboy de filler pela quantidade notória desses tipos de episódios/arcos que se encontram na série e a baixa qualidade da maioria deles, mas Dragon Ball Z também sofreu com isso, além da Toei ter precisado deixar o ritmo de certos episódios e lutas bem mais lento, Samurai X depois de Kyoto é um monte de arcos filler que variam de bacaninha pra "puta que pariu que desgraça é essa", e eu não assisti Bleach, mas ouvi falar que é outro inferno de fillers. Mas ok, esses são exemplos de animes com fillers ruins, fillers que em sua maioria não oferecem nada de interessante, ou são histórias completamente avulsas e esquecíveis, ou tentam reciclar histórias que já vimos antes no mangá, só que piores. 

Hoje em dia é até meio raro um anime adaptado de mangá precisar de fillers, ou pelo menos todos os estúdios que não se chamam Pierrot estão adaptando mangás shounen mainstream de modo que a quantidade de fillers seja quase nula. A Madhouse adaptou Hunter x Hunter em 2011 e não teve nenhum filler exceto os episódios de recap, a Bones tá aí adaptando Boku no Hero Academia até hoje e quase nada de filler, a A-1 Pictures adaptou Magi e creio eu que não há nenhum episódio inteiro que seja filler, tampouco em Nanatsu no Taizai, que é outra adaptação desse estúdio, Wit Studio também tá adaptando Shingeki no Kyojin sem filler nenhum. Como eles estão conseguindo adaptar tudo direitinho assim? Simples, dividindo os animes em temporadas e dando uma boa quantidade de tempo de uma temporada pra outra, assim o mangá vai ter avançado o suficiente pra garantir a próxima temporada livre de fillers! 

Mas por que filler tem que ser uma coisa ruim que todo estúdio deve evitar, afinal? Quer dizer, fillers de certa forma são uma oportunidade de explorar coisas do universo dessa história que o mangá nunca explorou, podemos ver personagens que o mangá normalmente ignora sendo trazidos pros holofotes e tendo episódios ou arcos dedicados a explorá-los, podemos ter mais worldbuilding, talvez lados diferentes dos personagens principais, ou mostrar eventos que o anime nunca entrou em muito detalhe... Existem diversas possibilidades de coisas boas que podem vir de fillers! Então... Por que tanto filler ruim? Por acaso existe anime que tenha fillers bons? Pois saiba que a minha resposta é um sim, existe.


Aqui está, Hunter x Hunter! Não o de 2011, o primeiro anime mesmo, lançado em 1999.

E sim, eu vou ter que voltar pro formato em que as imagens ficam no meio e ocupam um puta espaço do texto, porque essa BOSTA de novo editor do Blogger não me deixa alinhar elas pra esquerda e colocar o texto do lado delas, só embaixo, o que derrota a porra do propósito de ter essa opção pra começo de conversa. Vai tomar no seu cu, Blogger! Google! Sei lá quem foi o responsável por isso, mas vai dar pra um cavalo, seu merda!

Enfim, eu perguntava pro pessoal se o Hunter x Hunter de 1999 era bom, mas sempre acabava recebendo respostas como "Não, HxH antigo é uma merda, é cheio de filler", "A história é muito enrolada", "Não tem Chimera Ants", e por aí vai. Mas foda-se, decidi dar uma chance mesmo assim, com expectativas baixas porque na minha cabeça ia ser um Naruto de 1999 e a maior parte do anime se consistiria de conteúdo inútil, provavelmente me arrependeria dessa decisão. Pois então, pra minha surpresa, a versão de Hunter x Hunter da Nippon Animation faz um uso bem inteligente de fillers, tanto que provavelmente ninguém desconfiaria que são fillers se o mangá por acaso não existisse. E o motivo disso é bem simples: Os fillers de Hunter x Hunter expandem a história do original de modo natural, se encaixando bem o suficiente pra parecerem que pertencem a ela. Não há muitos episódios inteiros de filler nessa versão também, normalmente eles misturam material do mangá com cenas originais do anime, mas alguns episódios do arco do Exame Hunter são completamente filler sim.

Independente disso, o que Hunter x Hunter faz é explorar coisas que o mangá e/ou o anime de 2011 não detalharam muito, o primeiro episódio dele demonstra bem isso se comparado ao primeiro episódio do anime de 2011 e o capítulo 1 do mangá, todos os três introduzem o Gon, a sua motivação pra se tornar um Hunter e e exploram um pouco da relação dele com a sua tia, Mito... Se eu fosse um canastrão do caralho, eu faria uma piada com o Bolsonaro aqui, mas não farei. Uma coisa que o anime de 2011 omitiu do seu começo por algum motivo foi a aparição do Kaito e o primeiro encontro que o Gon teve com ele, e eu realmente não faço ideia do porquê disso... Sim, eu sei que depois esse encontro é mostrado quando o Kaito aparece no começo do arco das Chimera Ants, mas pra que essa mudança? Ter esse encontro no começo é importante, não só estabelece uma ligação com o Kaito desde o começo como também dá um contexto melhor pra decisão do Gon de se tornar um Hunter depois, já que foi o Kaito quem revelou que o pai dele, Ging, na verdade tá vivo, que ele é um Hunter e tudo mais. Do jeito que o anime de 2011 retratou, ficou parecendo que o Gon quer ser um Hunter porque sim, ou porque o pai dele é um e nada mais.

Mas ok, nesse caso aí eu apenas apontei uma coisa do mangá que o anime de 1999 adaptou no começo e o de 2011 não, e quanto ao filler? Bem, ele explora um pouco mais do passado do Gon além do simples fato de que o Kaito o salvou e explicou tudo sobre Ging e os Hunters, vemos que o Gon não ficou muito feliz em saber que o seu pai aparentemente o abandonou, o Kaito fica em dúvida se o que ele fez foi realmente necessário, já que a vida do Gon com a sua tia era tranquila e feliz na maior parte do tempo... E principalmente, o conflito entre a Mito e o Gon tem mais foco. Ela não quer que ele vá embora, os dois discutem isso um bocado, inclusive a conversa deles a respeito do motivo do Gon se tornar um Hunter nesse anime é muito melhor do que o do mangá ou a versão de 2011, enquanto nos outros dois ele basicamente diz "Eu sei, o meu pai me abandonou pra virar um Hunter, isso é incrível! Ser um Hunter deve ser foda mesmo! *-*", aqui ele diz "Deve ser um trabalho muito digno, pra ele ter que abandonar o próprio filho pra isso", mostrando que o Gon tem alguma maturidade, apesar de ainda ser uma criança. Esse anime também mostra a Mito dando ao Gon a vara de pescar que ele usa no decorrer da série, que antes pertencia ao Ging, e foi só com essa vara que ele finalmente conseguiu pegar o peixão lá e provar pra Mito que ele está preparado pra ser um Hunter.

Uma coisa que no anime de 2011 demorou poucos minutos e no mangá algumas páginas, o anime de 1999 pegou e transformou no foco principal do primeiro episódio, deixando a despedida do Gon pro fim dele, além de fazer algumas mudanças de caracterização que ao meu ver ficaram melhores. O Gon ter um ressentimento do Ging a princípio logo após descobrir que ele foi "abandonado" faz sentido, ainda mais quando ele era uma criança de 10 anos naquele flashback, mostrar o lado da Mito também foi uma ótima decisão que ajuda o público a se conectar melhor com ela, assim como a dá mais ênfase no quanto o Gon é importante pra ela e vice-versa, e isso acabou tornando a cena da despedida deles no fim do episódio mais impactante, foi um excelente primeiro episódio. O ritmo é mais lento que o do mangá ou o anime de 2011? Sim. Essas porções filler são necessárias pra entender a história? Não exatamente. Porém graças a esse filler, os personagens principais do episódio tiveram uma caracterização bem mais forte, pegando o material do mangá e acrescentando coisas sem destoar demais da visão do Togashi.

A norma pros fillers desse Hunter x Hunter é basicamente essa, mais adiante através dos fillers também vemos coisas como a história do passado do Leorio que o anime de 2011 apenas menciona, o treinamento do Kurapika antes do arco de York Shin, além de alguns personagens secundários que participaram do Exame Hunter sendo um pouco mais explorados, em especial o Pokkle e a Ponzu e como eles acabaram ficando amigos. O Togashi aparentemente gostou disso, já que quando os dois apareceram de novo em Chimera Ants, eles já estavam juntos, mas como o mangá e o anime de 2011 nunca chegou a mostrar eles interagindo antes, ficou esquisito e a gente apenas tem que assumir que eles ficaram amigos em offscreen. Mas não no absoluto chad Hunter x Hunter de 1999 que mostra eles interagindo e trabalhando juntos! 

E mesmo alguns fillers mais inúteis ainda são divertidos até, aquele com os finalistas do exame tentando adivinhar qual vai ser o teste final e achando que seria um teste escrito, aí tentando arrumar maneiras de colar porque eles não estudaram porra nenhuma foi hilário. Claro, nem todos os fillers desse anime são bons, às vezes têm uns fanservices bizarros do Kurapika com o Leorio, ao ponto de eu até chegar a acreditar que talvez o diretor pensou que o Kurapika fosse uma garota... E os fillers do arco da Família Zoldyck são bem chatos, mas de modo geral, os fillers do Hunter x Hunter de 1999 são muito bons, me fizeram gostar mais de uns personagens que quando eu assisti só o de 2011 eu não liguei nem um pouco.

Dito isso, eu não sei se existem muitos outros animes com muitos fillers bons assim, o que me vem na cabeça agora é Gintama, aparentemente grande parte do anime é filler e eu nem teria percebido se a minha amiga que tava assistindo comigo não tivesse me falado. Tem Cardcaptor Sakura, que eu nunca assisti, mas diz essa mesma amiga também que metade do anime é filler e os fillers são bons, então confiarei na palavra dela. Se você por acaso conhece algum outro anime com bastante filler e a grande maioria deles são bons, diga aí nos comentários.

Não, Fullmetal Alchemist não é filler, antes que você desça na porra da seção de comentários e bote isso como o asno que você é.


Caso você tenha passado os últimos 17 anos hibernando e acabou de acordar agora, Fullmetal Alchemist tem dois animes: Um lançado em 2003 e o outro, Brotherhood, em 2009. No entanto, o foco do post aqui é o anime de 2003, que havia sido lançado enquanto o mangá ainda estava em andamento e nem havia progredido tanto assim... Então o que exatamente o pessoal da Bones fez? Encheu o anime de fillers enquanto o mangá progredia o suficiente pra ser adaptado? Não, na verdade Fullmetal Alchemist não é nem uma adaptação de verdade do mangá, ao contrário do que muitos acreditam. Sim, eu sei que há muitas coisas do mangá nos primeiros 25 episódios do anime, mas ainda assim ele não é uma adaptação, é uma história original que usa coisas da história do mangá como base. Foi planejado pra ser assim desde o começo, tanto que mesmo na parte "fiel" ao mangá ainda há muitas diferenças entre as duas versões em certos eventos, essas diferenças têm um propósito, elas estão estabelecendo ou indicando elementos que a história original do anime vai elaborar mais depois. O Brotherhood é a adaptação mais fiel, apesar de fazer umas cagadas no começo da história e mudar as ordens de alguns eventos, mas assim que passa do começo é uma adaptação fiel.

Sites como o Filler List acabam espalhando desinformação quando classificam qualquer episódio do anime que não seja diretamente adaptado do mangá como filler, e isso tá errado porque tem uma diferença bem grande entre o filler e a história original do anime. Como eu disse antes, filler é algo que tá ali pra encher linguiça, ocupar espaço enquanto o anime não pode voltar a adaptar o mangá, já uma história original é algo independente do mangá, o anime já divergiu na sua própria história e não vai voltar a adaptar o mangá depois, logo não faz o menor sentido dizer que os episódios dessa história original são fillers, eles não estão preenchendo espaço pra nada e são episódios relevantes pra história do anime. De que forma os episódios 11 e 12 de Fullmetal Alchemist seriam filler se a história contada neles introduz as pedras vermelhas, cópias artificiais da Pedra Filosofal que passam a ser um elemento importante da história desse anime? Pois é, como eu disse, a classificação de filler não faz sentido.

Fullmetal Alchemist não é o único anime a ter uma história original que usa a premissa e alguns eventos do mangá como base, outros animes como Chrono Crusade, Planetes e Bokurano seguem a mesma ideia e são histórias originais perfeitamente boas por si mesmas também. Todos esses animes citados têm temas em comum com os seus mangás, mas normalmente as abordagens são diferentes, ou então um aspecto do mangá é explorado mais a fundo, Fullmetal Alchemist pega o tema de fé cega e se adaptar à realidade que a primeira história do mangá contou e torna esse o tema central, Chrono Crusade pega o simbolismo religioso do mangá que tava lá só por estética legal e fazer ele significar alguma merda de fato, com a sua história montada em cima desse tema de religião, e por aí vai. Vale também ressaltar que todos esses animes aí nunca foram planejados pra ser adaptações fieis, desde o começo eles foram produzidos como histórias originais e por isso eles funcionam bem, diferente de outros que fazem um uso bem porco de material original.

Se por um lado tem esses animes com histórias originais bem planejadas, por outro tem animes como Claymore, Pandora Hearts e Akame ga Kill, que são adaptações geralmente fieis até chegar nos 45 minutos do segundo tempo e de repente virar uma história original relâmpago inventada pra história do anime não ficar num cliffhanger... Normalmente finais assim não são satisfatórios, as partes originais surgem do nada e quase sempre nem ao menos fazem sentido com o resto do anime, isso quando de qualquer forma o bagulho não acaba terminando com cliffhanger mesmo assim, o que acaba derrotando o propósito de ter o material original ali de qualquer forma. Bem, Akame ga Kill já tava ruim bem antes do material original, mas os outros dois aí não, e é uma merda ver as histórias deles sendo desperdiçadas com um final original mal feito que só tá ali porque o anime não vai ter mais temporadas e os caras querem finalizar aquilo de alguma forma. Esse tipo de coisa é o que diferencia material original bom de ruim, e admitidamente quando eu vejo isso sendo colocado na mesma categoria que Fullmetal Alchemist ou Chrono Crusade de "ruim" só por não ser adaptado do mangá, eu fico um pouco irritado e sinto uma leve vontade de mijar na cara da pessoa que tá fazendo isso até ela morrer afogada.

E se você tem algum problema com animes adaptados de mangás que adotam histórias originais simplesmente por não ser a mesma história que a do autor do mangá, ok, eu acho essa opinião incrivelmente retardada, mas respeito o seu direito de tê-la. Caso você tenha interesse em mudar de ideia, no entanto, é só passar a enxergar o mangá e o anime como se fossem universos paralelos, algo como as 500 versões diferentes do Homem-Aranha que existem por aí, são visões/interpretações de autores diferentes de uma mesma obra, e não são mais ou menos válidas que a do autor original por isso, só podem ser apenas histórias melhores ou piores por motivos variáveis.


Brincadeiras à parte, espero ter esclarecido as coisas com esse post, porque quase todo dia me aparece um fazendo essa confusão e eu apenas julguei que seria conveniente deixar esse texto aqui, provavelmente as pessoas o acharão através de pesquisas no Google e estarão mais informadas como resultado! Como sempre, se tiver alguma coisa errada nesse post, é só falar que eu dou um jeito de deixar de ser burro e corrigir a merda que eu falei, afinal de contas isso aqui é um blog sério e profissional, e desenhos chineses são sérias buzinas.

Dito isso, assistam os dois Fullmetal Alchemist, os dois Hunter x Hunter, Chrono Crusade, Bokurano, Planetes, não assistam Akame ga Kill, leiam Pandora Hearts e sejam felizes nessa quarentena aí. Adeus!

segunda-feira, 4 de maio de 2020

Review - Conker's Bad Fur Day


Bem... aqui estou eu. Ryu, o gamer... O gamer mais chato de toda a internet! Quem imaginaria isso? Mas como chegou a esse ponto, você pergunta? E quem são esses furries estranhos que protagonizam meu post? Isso você também pergunta! Bem, é uma longa história. Chegue mais perto e eu te conto. Tudo começou... Ontem. E que dia foi aquele! É o que eu chamaria de... O dia em que eu sentei e joguei Conker's Bad Fur Day depois de todos esses anos pra ver se é tão bom quanto eu me lembro.

Pois bem, quem me conhece desde o blog antigo sabe que Conker's Bad Fur Day era sempre um jogo que... Assim, se o cartucho dele tivesse uma piroca, eu provavelmente a chuparia. Eu dizia sempre que é um dos meus jogos favoritos de todos, desde o dia fatídico por volta de 2010 em que eu baixei um emulad- digo... Comprei um Nintendo 64 e vários cartuchos de jogos consagrados deste console que eu adquiri legalmente. Foi o dia em que eu conheci Mario 64 direito, pois antigamente eu só joguei um pouco dele num Nintendo 64 de alguém que eu não me lembro agora, pois eu era muito novo na época, pude jogar o tal do melhor jogo de todos os tempos, Zelda: Ocarina of Time, e o seu irmão mais novo que é secretamente superior, Majora's Mask, também joguei Banjo-Kazooie, Banjo-Tooie, Diddy Kong Racing, Star Fox 64... Foi uma maravilha! Bem, não totalmente, porque eu também joguei GoldenEye, Perfect Dark, Donkey Kong 64, Star Wars: Shadows of the Empire e Castlevania 64... Digamos que esses jogos não envelheceram bem, isso pra não dizer que alguns desses eram ruins mesmo pra época.

Mas espera, tem um jogo que eu quase ignorei porque já tava meio enjoado do Nintendo 64! Conker's Bad Fur Day, nunca tinha ouvido falar disso na minha vida, mas comprei o cartucho porque tava ali no meio da lista de jogos populares do console. Fui procurar no Google e a primeira imagem que me apareceu foi essa, então pensei "Porra, outro platformer de mascote da Rare? Esses caras não cansam disso não?" e quase acabei não jogando por imaginar que seria mais do mesmo, porém meus instintos me diziam pra dar a esse jogo uma chance, afinal de contas é um platformer da Rare, não deve ser ruim! Ou talvez seja, afinal de contas eles também fizeram Donkey Kong 64, mas eu apenas fiquei com um bom pressentimento nesse caso. Pra minha surpresa, Conker's Bad Fur Day foi completamente diferente não só do que eu esperava, mas também dos outros jogos da Rare, ou de qualquer outra coisa que eu já joguei na vida. E sim, quando eu fui jogar esse jogo, eu havia me esquecido completamente que o Conker era um dos personagens de Diddy Kong Racing.

De fato, o motivo de Conker's Bad Fur Day acabar sendo o que conhecemos agora também vem do fato de que aparentemente o projeto original, Twelve Tales: Conker 64, recebeu críticas por parecer ser apenas outro platformer de mascote da Rare. Hoje em dia todo mundo já sabe que Conker' Bad Fur Day é algo meio próximo de South Park: Estética de cartoon bonitinho e tal, mas o conteúdo em si tá longe de ser um cartoon bonitinho apropriado pra crianças. Não que isso impeça crianças de assistir South Park ou jogar Conker's Bad Fur Day, afinal de contas muitas crianças que eu conhecia antigamente adoravam South Park. E apesar das vendas baixas graças à Nintendo se recusando a fazer propaganda do jogo por pura viadice, e também porque em 2001 ninguém mais ligava pro Nintendo 64, Conker's Bad Fur Day foi aclamado pela crítica quando saiu, mesmo hoje em dia é um título frequentemente citado quando as pessoas falam sobre seus jogos favoritos de Nintendo 64, basicamente se tornou uma espécie de clássico cult.

Já fazem uns bons 10 anos desde quando eu joguei Conker's Bad Fur Day do começo ao fim, e apesar da minha primeira experiência com esse jogo ter sido sensacional, ao ponto de eu realmente considerá-lo um dos melhores jogos que eu já joguei... Os tempos mudam, opiniões também, hoje em dia mesmo eu não tenho tanto tempo livre pra jogar video games quanto eu tinha no começo da década passada, portanto fiquei sem revisitar muitos dos jogos que eu queria. Todos esses jogos clássicos da minha infância e adolescência, me dei a tarefa de revisitá-los nem que seja à força, e postarei review de cada um deles assim que puder! É com Conker's Bad Fur Day que eu estarei iniciando essa jornada, e não faço a menor ideia de qual diabos será o próximo, vou pensar nisso depois. Agora vamos nos focar em Conker's Bad Fur Day... Esse jogo é tão bom quanto as minhas memórias dizem? Ou será que é apenas um produto da sua época que não envelheceu bem e deve ficar no passado como uma boa memória? Vem comigo que a gente chega até a resposta.

A história começa com o nosso protagonista, Conker the Squirrel, que aparentemente se tornou um rei! Exceto que ele não parece nem um pouco feliz em ser o rei daquele lugar... Por que, você pergunta? Pois bem, é uma longa história, mas tudo começou no dia anterior... Ou melhor, na noite anterior a ele, quando Conker foi em um bar beber com seus amigos, exceto que ele bebeu um pouco demais e acabou ficando totalmente chapado... E se perdendo na sua tentativa de voltar pra casa. No dia seguinte, nosso herói acorda em um lugar completamente desconhecido e com uma ressaca fodida, mas graças à ajuda de um espantalho falante chamado Birdy, ele consegue se recuperar e parte em uma aventura pra voltar pra casa, reencontrar com a sua namorada Berri e jogar Donkey Kong Country 2 com ela, como eles sempre fazem.

Enquanto isso, no castelo do Panther King, o rei dessa terra estranha onde o Conker foi parar, a galera se encontra diante de uma grande crise: A mesa ao lado do trono do Panther King está com uma perna faltando, por isso toda vez que ele bebe seu leite e coloca o copo na mesa, ela tomba e derrama tudo! Oh não, e agora? Como possivelmente um problema tão alarmante pode ser resolvido? Felizmente, o professor Von Kriplespac aparece pra nos trazer a solução: Um esquilo vermelho deve ser usado como a quarta perna da mesa, já que ele tem exatamente o tamanho necessário pra preencher o espaço ali. E assim, pra impedir que o reino entre em colapso porque o Panther King não pode beber seu leite sem a mesa derrubá-lo, nossos vilões acabam sendo levados a ir atrás do Conker...

... Que já se desviou do seu objetivo de voltar pra casa e agora está se envolvendo em diversas tretas nessa terra estranha atrás de dinheiro, se metendo em problemas como ajudar abelhas a recuperarem a sua colmeia das vespas e a polinizar uma flor tetuda, lutar contra uma merda gigante cantora de ópera, e por aí vai. No meio disso tudo, a Berri acaba sendo raptada pelos vilões, em uma tentativa de atrair o Conker até eles, e eu sinceramente acho hilário o fato de que o Conker passa a maior parte da história sem fazer a menor ideia de que isso tudo com o Panther King tá acontecendo, ou de que a Berri corre perigo. Ele nem ao menos pensa em nada disso, a partir do momento em que ele ajuda a abelha rainha a recuperar a colmeia e ganha dinheiro em troca, voltar pra casa e ver a Berri de novo ficou em segundo lugar na lista de prioridades dele... Ou talvez em vigésimo lugar.

Aliás, eu já quero dizer aqui que independente de qualquer comentário negativo que eu vá fazer nessa review, o Conker ainda é um dos meus personagens favoritos de video game, talvez até de ficção como um todo, e o modo como ele quebra diversas convenções de herói de platformer é brilhante. De um ponto de vista normal, Conker é uma pessoa horrível, um esquilo rabugento fodido que não leva nada a sério, acha quase todo mundo ao seu redor irritante, enche o cu de bebida alcoólica sempre que pode, não vê problema nenhum em matar ou ferir mortalmente alguém se for conveniente pra ele, e quase sempre quando ele vai ajudar alguém, ele quer alguma coisa em troca... Normalmente dinheiro. Como picas alguém consegue gostar de um cachaceiro egoísta e ganancioso desses? Bem, a escrita do Chris Seavor e do Robin Beanland certamente ajudam bastante com isso, existe um contraste entre essas tendências negativas do Conker e a personalidade calma, sarcástica e até bem educada que deram pra ele, é quase como se as tendências negativas dele fossem subconscientes e ele mesmo nem se tocasse do quão terrível ele realmente é.

Essa personalidade do Conker que já tem um contraste com as atitudes dele, tem um contraste ainda maior com os outros personagens que ele encontra no decorrer da aventura. A maioria deles são... Bem, eles não parecem estar de muito bom humor. Tem um peso de sei lá quantas toneladas puto porque a mulher dele que também é outro peso se assustou com um rato e subiu nele, uma lata de tinta, um pincel e um ancinho tentam matar o Conker só como passatempo, uma engrenagem com dupla personalidade onde uma é calma e educada enquanto a outra parece a Dercy Gonçalves em um daqueles dias, um monte de besouros rola bosta que tratam quem chega na terra deles como se a pessoa tivesse acabado de falar publicamente que gosta de Sword Art Online... É complicado. De qualquer forma, parte do humor nas cutscenes vem do Conker interagindo com esses personagens, educadamente tentando tirar vantagem deles, e algumas vezes eles mesmos interagindo entre si também, a cena do ancinho tentando se enforcar, por exemplo, é provavelmente a melhor piada com suicídio que eu já vi em qualquer coisa. De resto, tem muito humor de banheiro envolvendo mijo, bosta, genitais, violência e todas essas coisas que achávamos hilárias quando víamos vídeos do Mundo Canibal em 2006, além de paródias e referências de cultura pop.

Por incrível que pareça, o humor de banheiro e a violência desse jogo têm um propósito, não é algo que tá ali apenas pra chocar os jogadores e agradar aquele pré-adolescente que desenha jebas quilométricas nas paredes e mesas da escola e morre de rir quando outra pessoa encosta nos desenhos dele. O que Conker's Bad Fur Day faz, na verdade, é pegar coisas comuns em platformers e apresentar de uma forma mais próxima da realidade... Porque platformers na verdade são jogos bem violentos, a gente só não percebe porque a violência deles é extremamente amenizada de modo que fique agradável pra crianças. O Mario amassa a cara de Goombas com a sua bunda, o Banjo e a Kazooie literalmente explodem alguns dos inimigos deles em pedaços, o Donkey Kong taca barris de dinamite nos outros como se não fosse nada, o Megaman literalmente mete bala nos inimigos dele... Apesar deles serem robôs, mas ainda assim são robôs autoconscientes.

Além do mais, alguns desses jogos mais family-friendly podem ser meio nojentos se você parar pra pensar, tem fases se passam literalmente em esgotos, ainda assim guiamos nossos personagens por esses locais e em alguns casos até chegamos a entrar na água que provavelmente tá uma imundice. Olha só pra Megaman 2, a terceira fase do Dr. Wily é a porra do esgoto do castelo, e olha essa água que deve ter tanto mijo, tanta merda e outras sujeiras acumuladas que já ficou até amarela meio bege com umas camadas pretas formadas nas paredes... E o Megaman entra nessa água como se não fosse nada, o absoluto homem louco! Agora você entende por que o jogo do Conker fazendo essas coisas funciona? É uma paródia desconstrutiva de platformers, você pode rir do quão absurda é a ideia de que um jogo com um esquilinho vermelho fofo tenha tanto gore e derramamento de sangue, e que você tenha que nadar em águas cheias de merda e mijo, mas fica mais engraçado quando você acaba jogando um platformer normal e percebe que não é muito diferente, só não é apresentado da mesma forma.

Mas não é só por isso que eu gosto tanto da história e principalmente do personagem Conker, apesar que mesmo hoje em dia esse jogo não falha em colocar um sorriso no meu rosto com o seu humor e a grande maioria dos personagens que Conker encontra em sua aventura. De certa forma, eu me identifico com o Conker, tanto como pessoa quanto como jogador de video games, ainda hoje em dia eu sou meio ganancioso, mas na minha juventude eu era mais... Sério, o Ryu de 15 anos em 2009 era tipo, o CEO da ganância e do cinismo, me recusava a fazer qualquer tipo de esforço grande a menos que eu recebesse algo em troca, e se eu pudesse usar a confiança de outra pessoa pra me beneficiar sem ter que encarar alguma consequência negativa, assim eu o fazia sem o menor remorso. Mas eu não fazia isso apenas por cuzice, eu meio que esperava que outras pessoas fizessem o mesmo comigo também caso tivessem oportunidade, por isso eu não pedia ajuda pra alguém a menos que eu tivesse uma maneira de retribuir, e nem pedia algum jogo ou coisa do tipo emprestada pra alguém sem emprestar um meu também.

É a maneira como eu cresci, as pessoas ao meu redor naquela época eram falsas e aproveitadoras, logo eu acabei aprendendo a agir de modo parecido. Isso também se refletia na maneira como eu jogava meus jogos, não via muito sentido em fazer coisas que não tivessem recompensas que valessem o esforço, o que me interessava em uma sidequest de um JRPG ou alguma missão alternativa do tipo não era ajudar o personagem da quest e dar um final feliz à história dele e sim o que eu ganharia com isso, resolver o problema dele era só o que eu tinha que fazer pra ganhar a minha recompensa. Sim, isso é meio que o oposto dos personagens dos jogos que eu jogava, que geralmente queriam ajudar mesmo e tal... Exceto o Conker, o Conker já sai perguntando "Beleza, e o que você tem pra mim aí?" em resposta a um pedido de ajuda, e quanto mais ele se beneficiar com essa atitude, melhor é pra ele.

Pois bem, durante boa parte do jogo, essa atitude do Conker é uma piada, de certa forma o charme dele, mas isso também é parte do arco de personagem pelo qual ele passa até o fim da história. Vez ou outra ele demonstra se importar com alguns dos outros personagens que ele conhece, em especial a Berri, mesmo tendo "se esquecido" do seu objetivo de voltar pra casa e ver ela de novo, ele ainda claramente gosta muito dela, ao ponto de encarar o Panther King e a máfia do Don Weaso pra resgatá-la. Porém, a Berri acaba sendo morta, o Panther King é morto pelo Xenomorfo descontrolado que o Von Kriplespac criou, e o Conker só consegue se salvar desse bicho por causa de um bug que deu no jogo e permitiu que ele conversasse com os designers pra arrumarem um jeito de consertar e dar a ele uma arma pra vencer a luta. Em um ato final de egoísmo, Conker acaba esquecendo de pedir aos designers pra trazerem a Berri de volta, e quando se lembra, já é tarde demais, não há como conversar com eles de novo... Dessa vez foi diferente, Conker foi egoísta, pensou em si mesmo primeiro e em outra pessoa depois, mas talvez pela primeira vez na sua vida, ele se arrepende amargamente disso e fica sem escolha a não ser encarar as consequências.

A trama termina com Conker, agora o novo rei, tendo absoluto poder sobre toda aquela terra, toda a reverência e o dinheiro que ele sonhava em ter... Mas e agora? Será que era isso mesmo que ele queria? Talvez não, talvez voltar pra casa e ver a Berri de novo tenha sido o que ele queria de fato, mas ele não percebeu, pois a grama sempre é mais verde do outro lado da cerca. Da forma mais inesperadamente dura e cruel, nosso herói aprendeu que nós nunca realmente damos valor ao que temos até perdermos. Isso foi uma excelente quebra de expectativa por si só, especialmente porque o jogo te encoraja a não levar mortes tão a sério assim, e também me afetou bastante a um nível pessoal, porque eu conseguia ver algo assim acontecendo comigo. Não, não ir parar em um mundo diferente e me tornar um rei deprimido, mas sim me arrepender de não ter dado valor a algo ou alguém que eu tinha do meu lado até não ter mais. Também ajuda que na época em que eu joguei Conker's Bad Fur Day, meu ensino fundamental havia acabado e eu estava pra mudar de escola, então tinha uma possibilidade de conhecer pessoas novas, que fossem diferentes daquele monte de gente duas caras que tinha na escola anterior. Então... Sim, de certa forma, Conker's Bad Fur Day contribuiu pra que eu tivesse pensamentos mais positivos pro ano de 2010 que estava apenas começando, foi um jogo muito importante pra mim.

Enfim, talvez eu tenha divagado, mas eu precisava explicar por que Conker's Bad Fur Day se tornou um dos meus jogos favoritos durante aquela época, e mesmo tendo essa experiência novamente, a maior parte do roteiro ainda é muito boa. Mesmo se por acaso você achar que o jogo em si não envelheceu muito bem, é meio difícil não gostar da escrita, do humor ou do final, especialmente se você for um fã de platformers de mascote, é uma excelente homenagem ao gênero em si.

Falando em coisas que envelheceram bem ou não, os gráficos e visuais desse jogo continuam absurdos de bonitos, puta merda! Grande parte dos jogos do Nintendo 64 graficamente envelheceram tão bem quanto uma caixa de leite aberta, mas a Rare de alguma forma conseguia fazer jogos bonitos pra esse console, Banjo-Kazooie e Tooie são lindos, Donkey Kong 64 não faz feio também, e Conker's Bad Fur Day é de longe o jogo mais bonito que a Rare já fez no console, isso se não for o jogo mais bonito de todos os que foram lançados pra ele. Não, eu não tô exagerando, o jogo nem ao menos precisa de um Expansion Pak que nem Donkey Kong 64, Majora's Mask e Perfect Dark, e ainda assim consegue ter muito mais detalhes tanto nos cenários quanto nos modelos dos personagens, que têm até mesmo expressões faciais variadas e sincronia labial até complexa com as falas, trouxeram a direção de arte variada e vibrante à vida da melhor forma que podiam em um jogo de Nintendo 64. Claro que isso teve um preço, em alguns pontos o jogo sofre com slowdowns, especialmente quando tem uma quantidade grande de inimigos na tela, mas isso não é tão frequente assim.

E sim, eu disse "falas", acompanhando esse belíssimo cartoon adorável cheio de violência e obscenidades temos a dublagem... Que em grande parte é apenas o Chris Seavor fazendo vozes diferentes pros personagens, com exceção do Great Mighty Poo que é dublado/cantado pelo Chris Marlow enquanto as personagens femininas são dubladas pela Louise Ridgeway, a animadora principal da equipe. Sim, isso parece algo que acabaria num desastre, mas por incrível que pareça, foi justamente o contrário, a dublagem em Conker's Bad Fur Day é boa pra um caralho, talvez em grande parte pelo jogo não se levar muito a sério e ter aquela atmosfera trashzona, mas o Chris Seavor faz uma voz perfeita pro Conker, capturando a personalidade sarcástica dele de uma forma tão impecável, que eu não consigo imaginar outro dublador o substituindo e fazendo um trabalho tão bom quanto. Sim, é verdade que por ser um cartucho o áudio disso aqui ainda soa como se alguém tivesse enfiado um microfone no cu e se gravado falando, mas era o máximo que dava pra fazer, e apesar dessa limitação, as vozes soam bem.

Isso significa que o áudio das músicas também é meio abafado, naturalmente, mas por sorte isso nunca impediu jogos de Nintendo 64 de terem trilhas sonoras boas, e Conker's Bad Fur Day não é exceção a isso, Robin Beanland criou uma das trilhas sonoras mais memoráveis e criativas que um jogo já teve. É, eu sei, boa parte dessa trilha sonora se consiste em pegar a Windy e fazer uma caralhada de variações dela pras áreas diferentes do jogo, mas... Funciona! Os arranjos e instrumentações diferentes transformam a Windy em praticamente outra música, toda vez, cada versão tem um ritmo e uma atmosfera completamente diferentes, com a única coisa reconhecível sendo a melodia característica da Windy. Escuta só a Uga Buga, dá pra ouvir a melodia da Windy nela, mas de resto é uma música completamente diferente. E mesmo as músicas mais originais não ficam muito atrás, você é um mentiroso fodido se não bateu os pés no ritmo da Rock Solid ou com a Surf Punks... E eu nem preciso falar da música do Great Mighty Poo, né?

Ok, ok, gráficos bonitos, músicas boas, roteiro bem escrito e tal... Mas e o jogo em si como se sai? Afinal de contas, é pra isso que estamos aqui, certo? Video games têm o propósito principal de ser jogados e não assistidos ou ouvidos! Bem, pelo menos na maioria dos casos, mas em platformers é definitivamente isso. Apesar que... Conker's Bad Fur Day não é exatamente um platformer, ou ao menos não puramente um, a primeira parte do jogo, Hungover, funciona como um tutorial e tem algumas seções de platforming bem básicas pra você pegar o jeito de como controlar o Conker e o que ele pode fazer: Andar/correr, pular, fazer cosplay de Tails pra planar por um curto período de tempo após um pulo... E acertar seus inimigos com uma frigideira. Provavelmente o menos usado desse moveset é a frigideira, esse não é exatamente um jogo cheio de combate, e mesmo as seções de combate que existem normalmente são encaradas com alguma gimmick que substitui o botão da frigideirada, e essa é basicamente a mecânica principal do jogo, o platforming não chega a ficar muito mais complexo do que o que vimos na Hungover.

Basicamente, em certos momentos do jogo existe um pedaço do chão com a letra B, chamados de B Pads, ficando em cima deles e apertando B, ao invés de um golpe de frigideira, você faz com que o Conker tire alguma bugiganga do cu e a use praquela seção específica onde ele está. Isso varia de um estilingue pra atirar nozes nos besouros rola-bosta que querem te expulsar da casa deles, facas pra arremessar em fios elétricos, rolos de papel higiênico pra jogar na boca do Great Mighty Poo, até coisas como lança-chamas pra repelir morcegos, ativar a lanterna do capacete que o Conker usa em seções escuras, e ficar bêbado e ganhar a habilidade de mijar nos seus inimigos. Nem tudo isso se ativa nos B Pads, algumas vezes o Conker vai comunicar em uma cutscene que o B ganhou uma nova função e em outras é só chegar em determinado ponto do cenário que uma lâmpada vai acender acima da cabeça do Conker e esse é o momento de você apertar B.

Mas então, como fica a execução de todas essas ideias? Bem, eu diria que isso aqui é um caso bizarro onde um jogo esteve à frente do seu tempo, e ao mesmo tempo também é um produto do seu tempo. Quantas vezes eu pretendo dizer "tempo" na mesma frase? Sei lá, não há tempo pra contar isso porque preciso continuar a review e finalizá-la a tempo. O que importa é que o Conker tem controles bons, a esse ponto a Rare já dominou esse aspecto dos seus jogos e não há problema algum em se movimentar, pular e nem nada, tudo funciona e responde perfeitamente bem. Só existe um pequeno delay na animação da frigideirada, ele demora 1 segundo pra de fato dar o golpe, e isso pode exigir um pouco de tempo pra se acostumar, especialmente quando o jogo quer que você corra atrás de certos bichos e acerte eles com a frigideira. Não é algo que o jogo te pede pra fazer com frequência, mas ainda assim acertar queijos e levar pro rato 3 vezes até ele explodir fica repetitivo, acertar os milhos pra levar até onde o Great Mighty Poo se esconde é tão empolgante quanto tentar beber uma garrafa de 2 litros de água usando um garfo... E nem me faça falar da parte em que eu fiquei perseguindo as malditas das engrenagens e tinha que acertar uma frigideirada nelas.

Existem também uns problemas de câmera, é claro... Isso é um jogo de Nintendo 64, claro que ia ter câmera problemática, diabos! Mas olha, na maior parte do tempo ela é até bem decente, especialmente considerando que você vira ela com os botões C ao invés de só usar pra mudar de ângulo pré-determinado como costuma ser, então quando o jogo te deixa no controle da câmera é perfeitamente ok, na maior parte do tempo você até nem mesmo precisa mexer muito a câmera porque ela já se posiciona bem por si só. Por outro lado, há momentos em que a câmera só coloca em uma posição fixa e você não pode mexer com ela, e digamos que ela não se coloca lá no melhor dos ângulos em momentos como a seção de equilíbrio na Bat's Tower, ou a Clang's Lair, que é uma seção aquática labiríntica onde você não só tem que se preocupar com o oxigênio do Conker embaixo d'água, como também precisa evitar os peixões metálicos gigantes que em certos pontos a câmera faz um trabalho de merda em mostrar com seus ângulos pré-definidos e passar acaba se tornando algo mais baseado em sorte do que qualquer outra coisa.

Há quem reclame do fato de que esse jogo tem dano de queda, pular de lugares altos demais resulta em perda de uma parte considerável da barra de vida, ou até mesmo o Conker se despedaçar todo e morrer assim que atinge o chão. Bem, isso é uma coisa, mas honestamente não me incomodou tanto assim, o mais próximo que chegou disso foi a Bat's Tower porque é uma torre cheia de platforming vertical, e é um longo caminho até lá embaixo de volta. Ehhh, você pode simplesmente descer a torre de novo da mesma forma que a subiu, o jogo até acomoda isso bem o suficiente, ou você pode decidir que isso é uma perda de tempo e resolver pular lá de cima... Obviamente do topo da torre não, a menos que cê queira morrer, mas depois de descer um pouco, dá pra arriscar um pulo e perder uns 2 ou 3 pedaços do seu chocolate de vida, supondo que você esteja com a barra cheia. De qualquer forma, isso é meio inconveniente sim, o jogo devia oferecer um modo mais prático e rápido de voltar pra baixo ao invés das suas escolhas serem quebrar o seu ritmo ou levar dano pra progredir.

Quando eu disse que Conker's Bad Fur Day é um jogo à frente do seu tempo, mas também um produto do seu tempo, o motivo se encontra mais nas próprias gimmicks e mecânicas introduzidas no botão B através de ações específicas pra cada contexto. Platformers 3D no fim dos anos 90 e grande parte dos anos 2000 tinham uma obsessão fodida em incorporar elementos de outros gêneros em si, Sonic Adventure e Crash Bandicoot: Warped fizeram isso, mas os gêneros diferentes não exatamente se misturavam ao gameplay principal desses jogos, eram separados em personagens ou fases diferentes que se focavam em tais elementos. Por outro lado, o jogo do Conker não é muito de ficar dividindo isso em seções ou personagens diferentes, a única exceção seria a seção de surf na lava do Uga Buga. Lembro dessa seção ter sido bem mais frustrante quando joguei pela primeira vez, mas jogando de novo agora eu surpreendentemente não tive muita dificuldade, e olha que faz uns bons 10 anos desde a última vez que eu joguei isso, consegui manter a minha velocidade alta, desviar do dinossauro que passa por aí em certas seções e acertar os moleques que me roubaram sem muitos problemas. Admitidamente, desviar dos dinossauros parece ser meio baseado em sorte, encostar neles te mata de uma só vez e a hit box deles não é lá a coisa mais generosa do mundo, mas dessa vez eu o fiz de primeira, milagrosamente.

Deixando essa seção de lado, o elemento principal incorporado no gameplay aqui é o de shooter, primeiro o jogo te ensina a jogar em seções assim quando você chega no B Pad onde precisa usar o estilingue, as facas, os rolos de papel higiênico e afins, além de ter uma seção onde você usa a metralhadora embutida da colmeia da abelha rainha pra atirar nas vespas... E alguns capítulos são inteiramente dedicados à mecânica de shooter. Explico um de cada vez, primeiro as seções de shooter até são bem divertidas, graças à violência cartunesca excessiva aqui, atirar nos inimigos normalmente faz eles explodirem de formas grotescas em vários pedaços, o que torna a experiência bastante satisfatória. No entanto, tem um problema: A mira não é lá a coisa mais precisa que existe, não só pelos controles dela em si serem mais sensíveis do que deveriam, coisa que acontecia bastante em shooters do Nintendo 64, como também o fato de que por algum motivo essas seções não possuem retícula de mira e nem nada do tipo, então você precisa se acostumar com isso e tentar pegar a trajetória dos seus projéteis pra acertar os tiros precisamente.

O negócio da retícula é até administrável, até porque apenas nas seções de shooter iniciadas por B pads não há retícula, e elas são simples o suficiente, mas a sensibilidade dos controles de analógico do Nintendo 64 realmente torna algumas dessas seções mais difíceis do que normalmente seriam. A luta contra as vespas e a seção de torreta do It's War, por exemplo, podem ser um inferno por causa da dificuldade em mirar nos inimigos que são bastante ágeis. De fato, It's War é uma das partes que eu menos gosto do jogo por causa disso, além de começar com uma missãozinha de escolta sem graça, a parte da guerra em si é cheia de tentativa e erro com mecânicas de shooter que não se dão muito bem com inimigos ágeis como os Tediz, e a última seção onde você tem que escapar, seção essa que pode ir tomar bem no olho do cu, você tem que ter um timing praticamente perfeito pra sair das coberturas e acertar os tiros nesses cornos desgraçados antes que eles atirem primeiro e te matem com os tiros de bazuca one-hit kill deles!

Em contrapartida, Spooky é um capítulo bem legal, também focado na mecânica de shooter, mas lutar contra os zumbis é legal porque eles são lerdos e há lugares seguros de onde despachar eles. Tanto esse capítulo como o It's War fazem o Conker tirar uma arma do cu e isso mudar o gameplay, você anda usando os botões C e mira com o analógico graças à falta de um segundo analógico no controle do Nintendo 64, então demora um tempo pra se acostumar. Depois de pegar o jeito, meter bala nos zumbis com a sua escopeta ou nos Tediz com as metralhadoras fica legal... Mais nos zumbis do que nos Tediz, mas ok, e piedosamente o jogo coloca uma retícula ou uma mira a laser pra você saber exatamente onde diabos atira nessas seções.

Outros estilos de gameplay alterativo incluem voar por aí como um morcego cagando em aldeões e levando eles a moedores de carne, ficar bêbado e mijar nos demônios de fogo pra acabar com eles, lutar contra um touro e usá-lo pra fazer as vacas beberem laxante chifrando elas, um dos bosses tem um dinossauro no qual você monta e usa pra estraçalhar os capangas dele, e depois a bunda dele também... Variedade é o que não falta aqui, Conker's Bad Fur Day é o tipo de jogo que tá sempre mandando alguma coisa nova pra você, se certificando de que cada um dos seus capítulos seja único de uma forma ou outra. Sim, nem todas essas tentativas são bem sucedidas, mijar nos demônios de fogo é do caralho, mas quando você também precisa fazer isso pros guardas do Rock Solid rolarem até o buraco... Bem, guiar eles com o mijo que é tão impreciso no jogo quanto é na vida real é bem mais chato do que deveria. Mas ei, em qual outro platformer 3D você pode mijar nos seus inimigos pra começo de conversa? Só a novidade já vale alguma coisa, pelo menos.

Apesar do jogo transbordar criatividade no seu design e nas ideias de gameplay, mesmo que nem todas tenham lá a melhor das execuções, eu infelizmente não posso dizer o mesmo sobre os bosses. Sim, eu mencionei o boss do Uga Buga onde você usa o dinossauro pra acabar com os capangas dele e depois meter uma mordida no saco e na bunda dele e tal, mas aquele meio que é o melhor boss do jogo inteiro, os outros em sua maioria não chegam exatamente nesse mesmo nível, apesar de nenhum deles ser necessariamente ruim também...

"COMO ASSIM, ANDRÉ? O GREAT MIGHTY POO É MUITO MAIS MELHOR DE BOM QUE ESSE BOSS CHATO DA PRÉ-HISTÓRIA, SEU ARROMBADO DA BUCETA, ESTÁ CANCELADO!!!"

Não, cara, não. Você não gosta do Great Mighty Poo por causa da luta contra ele em si, você gosta por causa da música que ele canta... E a ideia absurda de estar lutando contra um boss que é literalmente uma merda gigante que canta ópera, esse é o apelo do Great Mighty Poo. Mecanicamente falando, a luta contra ele é o que? Bem, ele fica brotando em uns trechos do cenário, joga bosta em você, e quando ele abre a boca pra cantar, você vai e taca um rolo de papel higiênico na boca dele. Se não fosse pelas cutscenes dele cantando aquela música maravilhosa, isso não seria muito mais do que um boss básico com um padrão simples, o que até faz sentido, visto que é o primeiro boss grande do jogo. Sim, é isso, é o primeiro boss grande, não tem nada muito impressionante ou desafiador sobre a luta contra ele em si. Isso significa que o personagem e a música dele deixam de ser memoráveis? Claro que não!

Mas é... Os bosses tão longe de ser o ponto mais forte de Conker's Bad Fur Day, a maioria deles são extremamente simples, além dos seus padrões não mudarem muito na medida em que a luta progride. Talvez o maior problema seja esse mesmo, tá faltando aquela dificuldade que vai escalando na medida em que o boss se aproxima da morte, um modo de pânico quando falta só mais um hit ou algo assim... E não, isso não significa que os bosses sejam ruins, como eu disse lá em cima. Eu até gosto do boss do It's War, mesmo esse capítulo não sendo lá a melhor coisa do mundo, e o Xenomorfo também é legal, a luta contra ele é pelo menos climática, sem falar que o final do jogo mais do que compensa isso.

Então, o que mais tem pra fazer nisso além de chegar ao fim do jogo? Não muito, surpreendentemente. Esse aqui não é um collect-a-thon cheio de conteúdo extra como outros platformers 3D da Rare, o único coletável aqui é o dinheiro que você já precisa pegar pra poder progredir na história de qualquer forma. O que Conker's Bad Fur Day tem que outros platformers 3D da Rare não tiveram, no entanto, é o Multiplayer, que tem uma caralhada de modos de jogo diferentes e basicamente se joga como um TPS online, provavelmente o motivo principal da falta de conteúdo extra na campanha. Mas olha só, eu não ligo pra Multiplayer e muito menos tenho com quem jogar mesmo se eu ligasse! Oh bem, que azar.

Agora sobra a pergunta: Mesmo hoje em dia, em pleno apocalipse coronaviral do ano de 2020, seria Conker's Bad Fur Day um jogo que eu recomendaria? Pra todos os efeitos, eu diria que sim, especialmente pra quem é fã de platformers e ainda por algum motivo não jogou, isso aqui é uma paródia e uma carta de amor ao gênero ao mesmo tempo. Você vai ter que se acostumar com o gameplay ser datado em alguns aspectos, assim como a maioria dos jogos 3D mais antigos, não havia muito o que a Rare podia ter feito sobre isso, considerando as limitações do Nintendo 64. O que torna Conker's Bad Fur Day um jogo interessante é o quanto ele foi inovador pra época e tentou usar o máximo possível do potencial do seu console, não existia nenhum jogo parecido com isso antes, e dá pra argumentar que mesmo hoje em dia não há nenhum platformer 3D com a mesma personalidade e disposição pra tomar riscos, possivelmente devido ao fato de que esse jogo não foi exatamente um sucesso comercial na época, mesmo tendo sido aclamado pela crítica.

Acima de tudo, Conker's Bad Fur Day é um jogo muito importante pra mim, poderia até dizer que tem um valor sentimental, e por isso eu tive tanta dificuldade pra escrever essa review de modo que parecesse satisfatório... E talvez até um pouco de receio de rejogar isso e acabar não sendo tão bom quanto eu me lembrava. Bem, de certa forma não é, pra algo que na minha cabeça era o Santo Graal dos video games, isso aqui inevitavelmente acabou se revelando um jogo que não envelheceu muito bem em certas áreas, e que provavelmente não seria tão memorável se não fosse pelo roteiro, os visuais e a trilha sonora, já que o gameplay é onde se encontra a maior quantidade de deslizes. Teria sido muito melhor se o jogo não tivesse essas curvas de dificuldade zoadas na segunda metade, fosse menos repetitivo em algumas partes e refinasse um pouco mais as mecânicas de shooter, mas ainda assim ele não faz feio no geral.

E quer saber? Apesar disso, eu continuo amando Conker's Bad Fur Day tanto quanto antes, mesmo que o jogo acabasse sendo uma bosta hoje em dia, isso provavelmente nem mudaria tanto. É ok amar coisas que tenham falhas, e o fato de que você ama algo assim não significa que você não saiba que existem falhas, eu sei muito bem das falhas em Conker's Bad Fur Day e aceito a existência delas, o nome disso é "crescer", ou algo assim. Há muito o que se gostar aqui, mais do que o suficiente pra compensar essas falhas com as quais eu tive que lida, as várias ideias diferentes com níveis variados de sucesso na execução, os momentos cômicos que arrancaram uns sorrisos do meu rosto e mantinham a experiência divertida, as músicas marcantes, e principalmente a lição que eu aprendi com esse jogo, chegando até a última parte e vendo aquele final, são coisas que eu vou levar pra minha vida toda. Então... Eu não me arrependo nem um pouco de ter rejogado Conker's Bad Fur Day e percebido que o jogo tá longe de ser uma obra prima em termos de gameplay, na verdade isso só me fez rearfirmar que, apesar da idade ficar mais evidente do que nunca agora, esse ainda é um dos meus jogos favoritos de todos os tempos.

E eu ainda quero ver uma sequência de verdade disso aqui, Microsoft filha da puta!

Nota: 7

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2020

Review - Death Note: Tokubetsu Yomikiri


Ora essa, que conveniente que pouco tempo depois de eu ter reassistido Death Note o Ohba Tsugumi e o Obata Takeshi resolvem fazer material novo dela! Por acaso eu estou em algum anime de plebeu nota 4/10 ou o que? Alguém me tire daqui e me leve pra Legend of the Galactic Heroes agora mesmo!

Enfim, Death Note... Não li o mangá, mas assisti o anime lá por volta dos anos 2000, assim como praticamente todo mundo que eu conhecia. Sim, eu sei que Death Note ficou com fama de anime de otaquinho vergonha alheia com o passar dos anos graças a quantidade absurda de otacos que ficavam falando que iam anotar o nome de quem fala mal de anime no Death Note deles, que anime não é pra criança, essas merdas do tipo. Não é o único, outros animes como Mirai Nikki, Elfen Lied, Another, Akame ga Kill e Blood-C também viraram marca registrada do argumento "anime nn eh pra criansa olha aqui oh tem muito sangue e putaria muito adulto O_O" que esse pessoal adorava usar naquele período de 2009 até 2014. Só que, diferente desses outros animes mencionados, Death Note é legitimamente bom, mesmo hoje em dia, nem de longe merece estar na mesma categoria que esses aí.

Esse rewatch meio recente que eu fiz de Death Note foi legal, me livrei do leve receio que eu tinha do anime não ser tão bom quanto eu me lembrava, já que eu não o assisti de novo depois da primeira vez que foi 11 anos atrás. No entanto, minha opinião sobre o anime de modo geral não mudou muita coisa: Até o episódio 25 a história é brilhante, depois dele o resto da trama tem uma boa construção, mas se caga toda no final. Caso queiram uma opinião mais detalhada, esperem até o dia em que eu tiver afim de escrever uma review de Death Note... Que não seja essa aqui, pois essa se trata do one-shot especial que saiu recentemente, Tokubetsu Yomikiri, ou como eu o chamarei daqui pra frente: Justice or Evil, porque é bem mais fácil de digitar e eu sou um preguiçoso filho da puta. Caso você ainda não tenha lido Justice or Evil, clique aqui pra ler e só volte pra cá depois de terminar, porque eu vou spoilear isso aqui sem dó e nem piedade como eu faço em todas as outras reviews. Se você não ligar pra spoilers, então tanto faz.

Justice or Evil na verdade tinha sido anunciado no começo do ano passado e as reações ao anúncio foram cautelosamente otimistas, visto que Death Note é uma história fechada e... Bem, você sabe como sequências de histórias que estavam fechadas são, ninguém queria um Boath Note ou um Death Note Super. Bem, pelo menos eu tava com expectativas relativamente baixas, assim como fico com qualquer sequência de história que eu não vejo necessidade de ter uma sequência, mas tento não descartar a possibilidade de acabar tendo uma surpresa agradável que faz algo novo com os elementos chave do seu antecessor e expande a história de forma bem sucedida. Pra minha felicidade, Justice or Evil não chega nem perto de ser tão ruim quanto uma sequência de história fechada poderia ter sido, mas pra minha infelicidade... Eu terminei de ler com aquela sensação de que podia ter sido bem melhor.

Cerca de 10 anos após a sua última visita à Terra, o Shinigami Ryuk tá muito afim de comer maçãs de novo e por isso resolve retornar pra encontrar algum humano pra quem ele possa dar o Death Note e em troca ser alimentado com maçãs e talvez arranjar algum entretenimento porque Shinigamis não fazem porra nenhuma da vida a não ser ficar jogando Yu-Gi-Oh naquela dimensão, plano de existência ou sei lá o que diabos é o lugar onde eles vivem. Pois bem, Ryuk acaba encontrando o felizardo: Tanaka Minoru, um estudante do ensino fundamental que tem um QI absurdamente alto, porém tira notas péssimas nas matérias escolares, principalmente inglês. Apesar disso, Minoru acaba se dando relativamente bem com o Ryuk e reconhece o Death Note como a arma que o Kira usou pra se tornar o maior terrorista da história recente, através do Ryuk nosso protagonista fica sabendo das regras do caderno que ele pede pra traduzir aí porque ele não manja de inglês, e de como o Kira usou o caderno com as regras e tudo.

Porém, tem um problema: Se o Minoru tentar fazer o que o Yagami Light antes dele fez, ele vai ser pego rapidamente, porque o caso do Kira ocorreu 10 anos atrás e aquela foi uma era completamente diferente da atual. Hoje em dia, câmeras de segurança estão por todo canto, até mesmo dentro de veículos de transporte, mensagens pela internet poderiam facilmente ser rastreadas, assim como chamadas de telefone. Em outras palavras: O mundo agora tá mais do que preparado pra lidar com um novo Kira. Então qual seria a melhor maneira de usar esse caderno sem acabar indo parar no xilindró em questão de minutos? Minoru pensa em um plano e renuncia a posse do caderno, dizendo ao Ryuk pra voltar depois de 2 anos e dar novamente o Death Note a ele, e junto com o caderno as memórias relacionadas a ele e o plano todo. Assim foi feito, basicamente, o plano do Minoru, agora um estudante do ensino médio, é... Vender o Death Note em um leilão online! Não, eu não esperava isso, provavelmente ninguém esperava, mas é uma direção interessantíssima pra uma história nova de Death Note tomar, esse foi o momento do mangá que pegou meu interesse de vez.

Pois bem, já que uma mensagem online seria facilmente rastreada, Minoru então manda o Ryuk invadir uma transmissão ao vivo do jornal da TV Sakura pra anunciar através de um pedaço de papel que o Death Note está à venda e quem der a oferta mais alta em dólares americanos usando a hashtag #powerofkira no Twitter vai ganhar. Com as pessoas no estúdio e a grande maioria dos telespectadores não podendo ver o Ryuk na TV, isso causa um estranhamento generalizado... Porém, o Near, que agora é o atual L, e os agentes Matsuda e Aizawa puderam ver o Ryuk na TV, já que eles tocaram no Death Note durante os eventos de 10 anos atrás. De qualquer forma, aparentemente as pessoas acreditaram nisso, já que no dia seguinte haviam milhões de dólares sendo oferecidos por diversos usuários do Twitter... O que mostra que o Ohba talvez não sabe muito bem como o pessoal da internet reage a essas coisas, provavelmente ninguém levaria esse bagulho a sério e ao invés disso estariam postando memes e montagens com mensagens diferentes aparecendo ali no meio do jornal. Um "escrevi e saí correndo pau no cu de quem tá lendo" pelo menos tinha que ter, né?

Apesar disso, depois de uma segunda mensagem dizendo que o leilão acaba em uma semana, o Matsuda interfere no meio da transmissão e fala pra todo mundo que o Death Note é uma arma horrível e tal. Aparentemente, essa interferência do Matsuda fez com que os governos de diversas nações entrassem no leilão e passassem a oferecer bilhões, trilhões e por aí vai, o que é bem conveniente pro Minoru, que passa a ser chamado de A-Kira pelo Near. Bom saber que se passaram 10 anos e o Matsuda ainda é um mongolão que age por impulso e acaba deixando a situação pior na maioria das vezes, aparentemente ele não amadureceu nem um pouco de lá pra cá. Pois então, as coisas caminham muito bem pro Minoru, que finge não ter nada a ver com a situação e não deixa nenhum rastro que o Near e os outros possam seguir, já que o Ryuk se move por debaixo do chão de modo a não ser pego pelas câmeras de segurança e se mantém a uma distância boa o suficiente pra poder observar o Minoru sem precisar interagir diretamente com ele. É um plano perfeito, e basicamente a única função do Near nessa história é ficar nos lembrando que esse plano perfeito é de fato um plano perfeito e o Minoru é muito fodão.

Pra ser sincero, eu achei que isso tudo correu de um jeito um pouco conveniente demais pro Minoru. As pessoas acreditando de cara assim na mensagem, o Matsuda aparecendo e fazendo merda bem no lugar certo e na hora certa, e também o Near não pensando nem mesmo na possibilidade de que talvez esse novo Kira esteja em algum lugar próximo da TV Sakura e mandando investigarem aquela área toda. Quer dizer, com a segurança melhorada eu imagino que isso seria mais fácil de fazer, mas o fato de que o Near nem fez nada nessa história além de ressaltar que o plano do A-Kira é perfeito e não há como pegar ele me incomodou mais do que só um pouco. E sim, eu sei que conveniências de roteiro eram um problema da obra original também, inclusive é o maior motivo pro final dela ter sido a merda que foi, mas eu imaginei que de 2006 pra cá o Ohba tivesse melhorado a escrita dele nesse aspecto pelo menos um pouco. Talvez isso se deva ao fato de que isso é um one-shot com intenção de ser uma história com começo, meio e fim em apenas 88 páginas, então ele não podia fazer muita coisa que prolongasse demais a trama, mas o Minoru nunca realmente é desafiado enquanto põe esse plano dele em execução da mesma forma que o Light era anteriormente.

De qualquer forma, o Death Note acaba indo parar nas mãos de ninguém mais, ninguém menos do que o presidente Donald Trump, que ofereceu 1 quadrilhão de dólares pelo caderno e alega que nunca o usará, em prol da paz mundial! Sim, outra coisa que eu não esperava, e provavelmente ninguém que tava indo ler isso pela primeira vez também. Se tem uma coisa que esse one-shot é bom em fazer, sem dúvida alguma é surpreender com esse tipo de coisa, e não é como se o Trump estivesse aí só porque o Ohba quer enfiar política no meio da história dele e mandar um "Trump bad" em troca da aprovação da galera do Twitter e do Tumblr. Não, o Trump estar aí faz sentido, não é uma versão exageradamente caricata dele obviamente criada pra ser uma sátira/crítica, ele apenas se envolveu em um assunto que seria do interesse de qualquer governo caso uma arma como o Death Note existisse, e caso uma coisa dessas acontecesse no mundo real, o mais provável é que o governo dos Estados Unidos compraria o caderno mesmo.

Um pouco antes do leilão ser fechado, o Ryuk é chamado pelo Rei Shinigami, que não aparenta estar muito feliz com o que andou acontecendo nesses últimos dias. Pouco tempo depois disso, Minoru manda o recado de que a quantia de 1 quadrilhão de dólares seja distribuída igualmente pra todas as pessoas com uma conta poupança no banco Yotsuba e residência registrada em Tóquio, com idade de 60 anos ou menos, assim efetivamente não podendo ser pego pela polícia caso aquela quantidade absurda de dinheiro de repente caia na conta bancária dele. Milhares ou milhões de pessoas têm conta no banco Yotsuba, e no fim das contas acabaram ficando ricas porque cerca de 1 bilhão de ienes caíram nas contas delas, obviamente o Minoru também era uma dessas pessoas, e assim ele efetivamente venceu. Após o Trump ter pago a grana, Minoru manda o Ryuk ir lá entregar o caderno pra ele e nunca mais aparecer na sua frente de novo, renunciado a posse do caderno e se esquecendo de tudo relacionado a ele no processo... Ryuk então revela ao Trump a nova regra que o Rei Shinigami colocou no caderno: Qualquer humano que vender ou comprar o Death Note irá morrer. Obviamente, Trump recusa o caderno e resolve apenas anunciar que ele tem o poder do Kira, porém nunca o usará, enquanto Minoru morre por causa do fato de que o Ryuk anotou seu nome no caderno, seguindo a nova regra.

Ehhh... Eu tenho sentimentos mistos quanto a esse final, e na verdade quanto a Justice or Evil como um todo, mas uma coisa de cada vez. Vi muita gente reclamando da nova regra sendo adicionada de última hora, disseram que foi um deus ex machina, que o autor tirou ela do cu só pra fazer o Minoru morrer de forma injusta no fim e tal. De certa forma, realmente isso passa a impressão de que o autor inventou a regra de última hora pra poder fechar a história dentro desse one-shot ao invés de deixar o final aberto pra uma possível continuação, e pra ser honesto eu adoraria ver uma nova série de Death Note onde o caderno agora se encontra na posse do fodendo Donald Trump, um dos, se não o homem mais poderoso do mundo. O que diabos o nosso presidente laranja favorito faria com o Death Note? Ele usaria? Como ele usaria? E se ele usasse, quem diabos iria pará-lo? Existem várias possibilidades de direções pra uma história dessa tomar! Porém... Nah, não foi isso que o Ohba resolveu fazer, infelizmente.

Porém, eu discordo que esse seja um final necessariamente ruim. Diabos, foi melhor construído do que o final da história do Light, aquilo sim foi literalmente um plot twist que o autor tirou do cu aos 45 minutos do segundo tempo porque ele tinha que fazer o Kira perder de alguma forma. Esse aqui não, o Rei Shinigami já havia chamado o Ryuk antes, a partir daquele ponto já dava pra perceber que alguma coisa ia acontecer... E olhando essa situação toda não do ponto de vista do Minoru, mas sim do Rei Shinigami, que é implicitamente o criador do caderno. Você cria o Death Note, um caderno literalmente feito pra matar pessoas, fazendo com que o tempo de vida restante dessas pessoas mortas pelo Death Note seja usado pra manter os Shinigamis vivos. Então um dos Shinigamis leva o caderno pro mundo dos humanos e dá ele a um humano que não só tenta se beneficiar do Death Note vendendo ele como também ignora completamente o propósito do caderno, que é matar pessoas, assim basicamente quebrando o seu sistema. E aí? Cê vai deixar isso acontecer e o cara simplesmente ficar mais rico assim sem nenhuma consequência? Mas é claro que não, você é um deus da morte, cê não tem obrigação de ser justo com a porra de um humano que tá tentando abusar do seu sistema pra benefício próprio!

Eu gosto da mensagem curta e grossa que essa história toda passa: Não tente brincar com poderes que estão além da sua compreensão. Apesar de ser muito inteligente, o Minoru ainda é só um humano, um humano que não sabe nada sobre os Shinigamis fora o fato de que eles têm o Death Note, e o erro dele foi justamente achar que ele poderia usar o caderno e as regras dentro dele da forma como bem entender sem nenhuma consequência. Sabe qual é a melhor forma de ter contato com o Death Note e se dar bem no final sem fazer nada a ninguém? Apenas recuse-o.

Pois bem, eu disse que tinha sentimentos mistos quanto a esse final, então agora acho que seria uma boa hora pra falar do que eu não gostei sobre ele. Primeiramente... Que diabo de ideia é essa de que os atos do Minoru melhoraram a economia do Japão? Quer dizer, eu não sou nenhum especialista em economia e nem nada do tipo, mas eu tenho quase certeza essa injeção absurda de dinheiro faria os preços das coisas no Japão ficarem extremamente inflacionados e o iene ia passar a valer pouca bosta. E sinceramente, o final teria sido muito mais impactante se a história seguisse essa rota, mostrasse que o Minoru fodeu com a economia do Japão na sua tentativa de ficar rico e dessa forma o A-Kira também seria lembrado como um vilão pelos livros de história, assim como o Kira ficou. Mas não, o Ohba simplesmente escreveu ali que a economia do país explodiu e aparentemente o Kira agora é visto como um herói pela galera.

E também por que caralhos o Trump simplesmente liberou o pagamento antes de receber o caderno? São quadrilhões de dólares em jogo aqui, ninguém com a cabeça no lugar simplesmente daria isso sem nenhuma garantia de que receberia o caderno e algum tipo de confirmação de que ele realmente é a arma que o Kira usou! Aliás, o que diabos o governo dos EUA vai fazer agora que eles perderam todo aquele dinheiro e ganharam literalmente nada em troca? Não existe nenhuma menção a isso nesse negócio, e provavelmente isso também é pelo fato de que se trata de um one-shot com uma história fechada. Tenho a impressão de que Justice or Evil mordeu um pouco mais do que dava conta de mastigar, ou talvez tenham pensado nisso pra ser o começo de alguma história maior, mas acabaram resolvendo deixar como one-shot mesmo. De qualquer forma, o modo como executaram essa transição do dinheiro e o caderno ficou esquisita, provavelmente teria sido feito de uma forma melhor se a história tivesse mais tempo.

Por último, mas não menos importante... Eu não gostei tanto assim do Minoru como personagem. Ele funciona pra história desse one-shot, mas não tem muita coisa interessante sobre ele tirando esse plano perfeito que ele criou, ele não é uma pessoa muito interessante e a falta de conflito ou desafio acabou me deixando meio apático com o esforço dele, o plano dele foi perfeito e tudo correu da forma mais conveniente possível pra ele. E não, caras, ele não era uma pessoa muito melhor do que o Light... Eu tô dizendo isso porque muita gente acha que por ele ter "melhorado" a economia do Japão e não ter matado ninguém enquanto tava com o Death Note, ele é algo como um Kira do bem, sendo que não é. Sim, ele não matou uma caralhada de gente, mas ele usou o Death Note querendo beneficiar literalmente apenas ele mesmo, os outros ficarem ricos juntos era apenas algo que ele precisou fazer pra ninguém suspeitar. Se houvesse um jeito dele ficar com todo aquele dinheiro só pra ele, com certeza ele ficaria. Ele nem ao menos liga pro perigo que um governo de uma nação ganhar uma arma como o Death Note pode trazer talvez até pro mundo todo, desde que ele ganhe o dinheiro, qualquer pessoa pode ficar com o caderno e usar como quiser. Ele é simplesmente uma má pessoa assim como o Light era, porém sem a exploração psicológica que o Light teve na história dele, graças ao fato de que isso é apenas um one-shot, isolado do seu plano o Minoru é um personagem bem vazio.

Creio que eu não tenha muito mais o que comentar sobre Justice or Evil. Digo, a arte e os designs de personagem do Obata continuam impecáveis, é facilmente a melhor coisa desse one-shot, mas como eu olho mais a história do que essas outras coisas nessas reviews... Seria mentira se eu dissesse que não fiquei um pouco decepcionado com Justice or Evil. Não foi necessariamente uma história ruim, tem várias ideias legais, uma proposta muito boa de como alguém usaria o Death Note nessa era atual, e o final é inteligente apesar de não ter sido feito da melhor forma possível. A maioria das coisas negativas aqui provavelmente vêm do fato de que é só um one-shot que tenta contar uma história fechada por si só, como eu já disse antes: A falta de conflito, alguns personagens tomando decisões questionáveis pra que o plano do Minoru pudesse seguir adiante, o Near não tendo muito propósito aqui... Bem, pelo menos ele ficou bonito de cabelo grande. De qualquer maneira, provavelmente vale a pena ler Justice or Evil se você realmente sentia falta do mundo de Death Note e queria ver o Ryuk e os seus outros personagens favoritos de novo, ou se a ideia do Death Note ser dado a alguém na época atual te interessa muito. Pra mim? Eh, é a definição de "pacote misto", e quem acha que o Minoru devia ter se dado bem no final é burro/a. Tchau!

Nota: 5

sexta-feira, 31 de janeiro de 2020

Review - Sword Art Online


Existe alguma série mais fácil de odiar na internet do que Sword Art Online?

Não, sério, eu acho que não existe, pelo menos não atualmente. Tem tantas pessoas que falam mal de Sword Art Online na internet, tantos textos de blogs, reviews do Youtube por diversas "celebridades" de anime diferentes, tudo isso literalmente dissecando Sword Art Online, falando de tudo o que há de errado com essa série aos mínimos detalhes e de como o Reki Kawahara devia ser condenado à guilhotina por ter criado uma aberração tão asquerosa quanto essa... Você praticamente nem precisa assistir a porra do anime pra odiar ele! Os caras já contam tudo o que acontece na história e todos os erros, daí pra ser um dos garotos legais da comunidade de animes, basta apenas repetir o que essa galera aí diz que você logo será aceito como um dos "conhecedores" da arte de criticar desenho chinês da internet, é um caminho facílimo, assim como odiar qualquer coisa mainstream, especialmente aquelas que têm falhas mais óbvias, te faz parecer legalzão.

Por mais que alguns me digam que eu sou assim... Eu não sou, eu não tenho ódio de coisas mainstream. Diabos, meu anime favorito é Fullmetal Alchemist: Brotherhood, o anime que tá no topo do ranking do MAL e de várias outras listas genéricas de "melhores animes" por aí! E se isso não te convence ainda, eu também amo Dragon Ball, Code Geass, Angel Beats, Death Note, Steins;Gate... Todos esses aí são mainstream, são conhecidos e referenciados até por gente que sequer gosta de anime, e também todos esses são criticados por uma parcela considerável de pessoas das quais algumas têm pontos válidos nas suas críticas e dá pra entender o porquê delas não gostarem, e outras só odeiam o bagulho porque é mainstream, um monte de gente gosta e eles querem ser os diferentões que nadam contra a maré. E é por isso que... Eu não queria odiar Sword Art Online, muito pelo contrário, eu adoraria gostar dessa série e encarar o pessoal que odeia que nem eu faço com os outros citados aí, mas infelizmente eu não consigo...

Acho que Sword Art Online dispensa introduções, todo mundo já sabe que foi um dos animes mais bem sucedidos e influentes da década passada, por bem ou por mal, causou um impacto na indústria e fez com que ela mudasse de alguma forma, o reflexo disso agora é o fato de que toda santa temporada tem algum isekai genérico esquecível graças ao fato de que Sword Art Online popularizou o gênero. Pois bem, apesar do anime ter ficado tão insanamente popular quando saiu lá pros últimos suspiros de 2012, eu não assisti ele naquela época, já havia perdido meu interesse em animes e não tava afim de assistir mais nenhum, mas eu sabia que Sword Art Online existia porque tanto as pessoas na internet quanto os meus colegas de sala do curso de jogos digitais que eu fazia na época comentavam sobre. Mesmo assim, não me interessei, e continuei sem assistir anime nenhum até ir voltando aos poucos pra isso em 2016.

Então quando eu considerei dar uma olhada em Sword Art Online, pra minha surpresa todo mundo parecia odiar isso, e eu não queria assistir um anime que todo mundo dos meus círculos tava falando que é uma bosta, provavelmente eu não ia gostar também. Mas será que isso pode ser tão ruim assim? Eu li a sinopse e parecia legal, um anime sobre pessoas que ficam presas dentro de um video game de realidade virtual e morrer no jogo significa morrer na vida real... Video games, caras, eu gosto de video games! Um dia, a curiosidade acabou falando mais alto e eu fui assistir Sword Art Online, me preparando pra isso ser o pior anime já feito e me broxar de anime por mais 4 anos que nem Mirai Nikki fez em 2011-2012. E honestamente... Não, Sword Art Online não chegou nem perto de ser tão abismal quanto esse pessoal faz parecer, mas eu definitivamente concordo que é um anime ruim de modo geral, e eu me senti frustrado por esse anime ter sido ruim.

Ainda assim... Não, caras, não é a pior coisa do mundo. Eu posso citar pelo menos uns 10 animes que são bem piores que Sword Art Online aqui e agora. Quer ver? Lá vai: Mirai Nikki, School Days, Guilty Crown, Deadman Wonderland, Aldnoah.Zero, Blood-C, Erased, Musaigen no Phantom World, Domestic na Kanojo e Arifureta. Pronto, não-ironicamente prefiro assistir Sword Art Online do que assistir qualquer um desses aí, e tem mais de onde eles vieram! Agora que eu deixei bem claro que eu não tenho esse ódio visceral de SAO e muito menos acho que é o pior, ou sequer um dos piores animes que eu já assisti, acho que dá pra começar essa review sem os outros tendo ideia errada sobre mim. A propósito, essa é uma review especificamente do anime de Sword Art Online, eu nunca li a Light Novel que é a obra original que foi adaptada aqui, não sei como ela é e nem se ela faz as coisas melhor ou pior do que o anime, só sei que é uma novel que foi escrita e publicada na internet pela primeira vez em 2002, e depois teve a versão física lançada em 2009, continuando até hoje. Essa review também é apenas da primeira temporada do anime, eu faço reviews separadas pras outras quando tiver afim, mas por agora é só a primeira mesmo.

E aí, gamers! Oprimindo muitas minorias nesse belo dia 6 de Novembro de 2022? Que tal jogar esse novo MMORPG chamado Sword Art Online? Um game de realidade virtual com um gigantesco mundo de fantasia criado pra você explorar como nunca antes, travar batalhas épicas, se juntar com outros gamers pra xingar as jogadoras mulheres querendo farmar escravos e depois espancar não só elas, mas os próprios escravos até zerar o HP! Tudo isso é possível em Sword Art Online, essa nova experiência revolucionária que traz a imersão dos video games a um nível completamente novo. O futuro dos jogos eletrônicos está aqui, e você pode experienciá-lo agora mesmo indo na loja de jogos mais próxima da sua casa e comprando seu Sword Art Online junto com o novo console, NerveGear, um capacete que estimula os cinco sentidos do usuário e assim o permite controlar seu avatar do jogo como se fosse ele mesmo! Cortesia da Argus!

E foi isso que o nosso protagonista, Kirigaya Kazuto, um geek de 14 anos mais conhecido como Kirito, fez assim que o jogo lançou, tendo sido um dos 1000 jogadores a terem o privilégio de testar a beta fechada de Sword Art Online alguns meses antes do lançamento do título. Chegando lá, ele encontra um outro jogador chamado BallsDeep69... Digo... Klein... E após ensinar os básicos do jogo a esse noob do caralho que nem deve ser um gamer de verdade e os dois ficarem meio que amigos, Kirito descobre que não tem como dar logout no jogo. Bem, acontece que na verdade o criador do jogo, Kayaba Akihiko, tirou a opção de logout e basicamente prendeu todos os 10000 jogadores presentes ali dentro do jogo, e se eles quiserem sair e voltar às suas vidas normais, eles vão precisar passar dos 100 andares de Aincrad, o castelo enorme onde Sword Art Online se passa. A propósito, quem morrer no jogo morre na vida real, aparentemente o NerveGear vai fritar o cérebro do usuário se ele morrer no jogo ou se alguém de fora tentar tirar o aparelho da cabeça dele, ou algo assim.

Então no episódio 2 já rola um time skip de 2 meses, 2000 dos 10000 jogadores morreram e todo mundo ainda tá no primeiro andar, um outro beta tester chamado Diavel organizou um encontro com outros jogadores pra derrotar o boss do primeiro andar de Aincrad que só agora o grupo dele encontrou. Nisso, os beta testers começam a ganhar uma má fama porque aparentemente eles são um bando de trapaceiros cuzões que tiram vantagem do conhecimento extra que eles têm do jogo pra ficar mais fortes do que o resto dos jogadores e rola toda uma discussão por causa disso, mas no fim todo mundo resolve se juntar em grupos separados pra ir lutar contra o boss, e o Kirito acaba ficando junto com uma garota chamada Asuna. No dia seguinte, a galera vai lá derrotar o boss e tudo parece correr bem, até que o Diavel acaba sendo morto pelo boss porque ele agora usa uma arma diferente do que tinha na versão beta e o Kirito tentou avisar quando ele percebeu, mas já era tarde demais. O Kirito acaba derrotando o boss, o resto dos jogadores acusam ele de ser um beater... Não, não tão chamando ele de punheteiro, é uma mistura de beta tester com cheater, mas o uso desse termo ainda é hilário de qualquer forma.

Kirito então simplesmente assume esse papel de vilão que omitiu informações sobre o jogo só pra ninguém além dele derrotar o boss e ganhar a jaqueta preta que ele dá de loot como recompensa, agindo como um edgelord da internet com os caras enquanto prossegue pro próximo andar. Eu... Entendo a lógica do que ele quis fazer aqui e até gosto da ideia, todos os beta testers tavam sendo mal vistos e isso tava causando uma falta de confiança generalizada nos jogadores, então o Kirito resolveu aproveitar que esse infortúnio aconteceu pra direcionar esses maus olhares que tavam nos outros beta testers pra ele mesmo, assim todos teriam um inimigo em comum e ficariam mais unidos, aumentando as chances do jogo ser terminado. O problema é que não faz sentido culpar o Kirito pela morte do Diavel, ele claramente tentou avisar sobre a arma diferente do boss e o cara não deu ouvidos, e quando ele tava morrendo, o Kirito tentou dar a ele uma poção que ele mesmo recusou... E os outros viram aquilo acontecendo! Então por que diabos o Kirito teria culpa? Ele até podia muito bem falar que ele tentou salvar o Diavel e que os próprios caras que acusam ele agora viram isso claramente, mas ele não o faz porque... Tem que ter algum drama nisso, eu acho.

Acho que é mais fácil falar sobre o que eu gostei nesses dois primeiros episódios de Sword Art Online antes de sair falando dos defeitos. O episódio 1 introduz as coisas muito bem, a gente é apresentado ao Kirito, vemos que ele vive com a mãe e a irmã e aparenta não ser lá uma pessoa muito sociável pelo modo como ele já foi entrando no jogo e indo jogar sozinho, só parando pra ensinar o Klein a jogar depois que ele insistiu um bocado, e nisso as mecânicas básicas do jogo também são bem explicadas. O Kirito menciona que ele se sente mais vivo no mundo do jogo do que no real, o que reforça a ideia de que ele não é muito sociável, diferente do Klein que até tinha um encontro marcado com uma galera dentro do jogo e tentou chamar o Kirito pra ir junto, mas acabou sendo recusado. Os dois personagens foram bem caracterizados e o anime conseguiu fazer os dois parecerem gostáveis e relacionáveis da sua própria forma.

A revelação do Kayaba sobre Sword Art Online ser um jogo da morte, com os avatares das pessoas se desfazendo e se tornando réplicas dos seus corpos reais e tudo foi bem legal também, inclusive essa parte tem um momento onde dois caras após terem os corpos reais revelados falam um pro outro "Você é um homem!" "E você não tem 17 anos!" e isso foi hilário, sem brincadeira, foi uma das melhores cenas do anime inteiro. O episódio 1 no geral foi bem divertido e me deixou curioso pra ver o que vem depois, foi uma ótima primeira impressão! Então vem o episódio 2 que... Não é tão bom quanto o 1, mas foi decente, ver o pessoal se juntando pra lutar contra um boss com esses termos e mecânicas de video game sendo usados num anime assim foi bacana, apesar dos meus problemas com o lance todo dos beta testers e do Kirito, a Asuna também até então parecia ser uma personagem interessante.

Agora sobre os defeitos... Por onde eu começo? Então, se acostume com time skips como esse do episódio 1 pro 2, porque Sword Art Online faz muito isso, especialmente pra justificar os pulos absurdos de nível que o Kirito ganha de um episódio pro outro, e eu honestamente acho isso um jeito bem preguiçoso de fazer a história ir saltando de um evento pro outro sem o autor precisar explicar o que aconteceu entre antes e agora. Sim, eu sei que o Kirito treinou, é óbvio, isso é um RPG, você sobe de nível matando monstros e ainda por cima o Kirito é um beta tester, então ele e mais 999 outros jogadores sabem mais do que o resto e provavelmente conhecem os atalhos pra subir de nível mais rápido. O problema é que o Kirito é praticamente o único jogador disso que fica tão OP assim, os outros beta testers, mesmo tendo tanto conhecimento quanto ele, sequer são relevantes pra história e aparentemente também tão vários níveis abaixo. Onde diabos tavam esses beta testers que supostamente tão usando os melhores lugares pra ganhar exp e subir de nível rápido pra ir lá enfrentar o boss do primeiro andar junto com o Diavel e os outros? Obviamente nenhum dos outros jogadores ali além do Kirito e do Diavel era um beta tester, caso contrário ele saberia o que fazer também.

Aliás, algo me diz que o Kawahara não sabe exatamente como beta testing funciona, porque beta testers precisam jogar o jogo todo, o propósito disso é justamente testar tudo o que tem no jogo pra se certificar que tudo funciona direito, que não haja falhas em lugar nenhum, e as que forem encontradas precisam ser reportadas pros desenvolvedores consertarem. Como diabos isso sequer é um jogo finalizado e tecnicamente estável se os beta testers nem ao menos chegaram até o fim dele? Por acaso a Argus era pra ser uma paródia da Bethesda ou algo assim? Nah, provavelmente eu só tô dando crédito demais pra esse anime pensando isso. Aliás, alguém pode me explicar como diabos os desenvolvedores de Sword Art Online concordaram em fazer esse jogo do jeito que ele é? Ninguém dessa empresa estranhou quando o Kayaba sugeriu que fizessem uma função pro NerveGear que matasse os usuários dele? Por que nenhum dos desenvolvedores desse jogo tomou alguma atitude sobre essa situação toda? Todos eles tavam de acordo com esse plano do Kayaba? Se sim, por que? O que picas eles têm a ganhar com isso?

Existem alguns defeitos menores que valem pro anime todo, como as inconsistências no modo como o NerveGear funciona, porque aparentemente você não sente dor, mas sente frio, sente o gosto das comidas virtuais ali, sente até prazer transando dentro do jogo... É... Pelo visto os caras programaram orgasmo em Sword Art Online, me pergunto como diabos os beta testers testaram essa função. Mas eu não ligo muito pra isso, isso é um anime sci-fi, eu consigo suspender minha descrença ao ponto de acreditar que o NerveGear é avançado o suficiente pra bloquear certos sinais do sistema nervoso e manter outros. Algumas reviews que eu vi por aí também falaram sobre como Sword Art Online não funcionaria como um jogo oficialmente lançado pras massas jogarem porque os bosses dos andares não respawnam depois dos andares, skills exclusivas apenas pra um jogador, etc. Isso seria um ponto válido... Se Sword Art Online fosse um jogo lançado pras massas jogarem, mas não é, isso foi apenas o marketing que fizeram, o plano do Kayaba era prender aquele bando de nerds fedidos no jogo dele pra que ele possa ser o deus do seu próprio mundo ou alguma merda do tipo. Seguindo essa narrativa de que ele quer ser um deus, ou um vilão, e lutar contra algum herói que seja capaz de derrotá-lo e sair do jogo no fim, esse design faz sentido.

Honestamente, eu nem quero ficar entrando em detalhes demais sobre o jogo em si porque esse anime não é exatamente sobre o jogo, mas sim sobre as pessoas que tão nesse jogo e as relações que elas formam dentro dele, assim como o modo como elas se adaptam a essa situação toda. O jogo é apenas uma gimmick, eu não exijo que ele seja 100% precisamente igual a um MMORPG do mundo real... O meu problema é com a história que envolve esse jogo dentro do universo do anime, essas coisas sem sentido que ficam sem explicação e poderiam até ser parte do mistério da trama que ia sendo resolvido aos poucos se o autor tivesse pensado mais nisso, mas ele não pensou. Isso e os time skips constantes são os maiores problemas com o arco de Aincrad, não tem muito senso de conexão de um episódio pro outro, e em alguns desses episódios a história se move em um ritmo rápido demais pra eu me importar com as coisas que ela quer que eu me importe.

Por exemplo... Lembra de quando no final do episódio 2 o Kirito fez toda aquela atuação de anti-herói solitário que trabalha sozinho e até desfez o grupo dele com a Asuna? Pois então, no episódio 3 já tem outro time skip e o Kirito de repente tá ali numa guilda chamada Moonlit Black Cats e se tornou amigo dessa galera! Mas hein? A gente mal viu o cara jogando sozinho e ele aparentemente conheceu/ajudou essa galera em offscreen, inclusive ele já tá no nível 40 nesse episódio e mente pra eles que tá no 20... Por algum motivo. Detalhe que ele também comenta que jogadores solo como ele atacam inimigos isolados e que isso não é uma maneira muito eficiente de subir de nível... O que só me deixa mais curioso pra saber como diabos ele é consistentemente o jogador com o nível mais alto da história se o método que ele aparentemente usa é ineficiente! Sério, o que esse cara faz? Aparentemente já tem vários andares liberados como resultado do time skip, mas por algum motivo ele fica brincando por aí nos andares mais baixos e de alguma forma consegue chegar a níveis absurdos assim. O anime vai explicar isso alguma hora? Mas é claro que não!

Ok, então nesse episódio a gente vê mais ou menos o Kirito ficando amigo desses caras, mas nenhum deles tem muito foco com exceção de uma garota chamada Sachi, que morre de medo de lutar e morrer, e mesmo assim os caras mantêm ela na guilda e levam ela pras quests. Numa certa noite, o Kirito encontra a Sachi por aí e ela continua com medo, então eu te pergunto: O que exatamente o gênio Kirito com toda a sua sabedoria faz?

a) Convencer a Sachi a sair dos Black Cats e tentar viver a vida dela em paz na cidade até alguém conseguir derrotar o último boss, já que as cidades são tratadas pelo jogo como locais seguros onde nenhum perigo alcança e ninguém pode morrer.

b) Encorajar a Sachi a ir lá lutar, mesmo a garota se cagando de medo de morrer.

Se você escolheu a opção B... Meus parabéns, você acertou! E o fato de que o Kirito mentiu sobre o nível dele pros caras enquanto eles foram pegando quests fez com que eles ficarem confiantes o suficiente pra entrar numa dungeon perigosa bem acima do nível deles... Com a Sachi junto... Você imagina que essa seria uma boa hora pra falar "Peraí, pessoal, olha, eu tava mentindo e eu tô num nível bem acima do de vocês, é melhor não fazer isso se não cês vão morrer", mas não, esse imbecil do caralho não fala nada! Pra surpresa de ninguém, todo mundo morre, inclusive a Sachi, e o Kirito é o único sobrevivente. Nosso herói, pessoal!

Depois desse desastre todo com os Black Cats, Kirito tenta consertar o seu erro indo lá pro 35º andar atrás de um item que pode reviver outro jogador, porém outras guildas também estão atrás desse item e já se reuniram pra derrotar o boss que dá ele. Felizmente, o Klein aparece com a guilda que ele montou com o passar do tempo e luta com os caras enquanto o Kirito vai lá derrotar o boss, no fim das contas não adiantou muita coisa porque o item de reviver só funciona quando é com um jogador que tá morto há até 10 segundos, então ele dá o item pro Klein e se manda pra casa onde ele vai ter uma crise emo por causa da própria burrice que causou a morte dos Black Cats. Lá ele acaba encontrando uma mensagem que a Sachi gravou antes dessa merda toda dizendo pra ele não se culpar pela morte dela e e tal... Exceto que a morte dela foi totalmente culpa dele sim, porra! Ele podia ter evitado literalmente tudo de ruim que aconteceu nesse episódio se tivesse sido honesto com os caras, tenho certeza que eles não se importariam em saber disso logo de cara, considerando que todos eles eram bem amigáveis com o Kirito.

Foi a partir do episódio 3 que eu comecei a pensar "Hmm... Ok, talvez esse anime seja uma merda... Talvez...", porque vendo o 1 e o 2 eu tava gostando. Apesar disso eu me enganei, Sword Art Online não fica um lixo completo desse episódio em diante, eu diria até que dá uma melhorada por um tempo, mas Jesus, esse episódio foi ruim... E poderia não ter sido. Eu gosto da ideia desse episódio: O protagonista comete um erro que acaba custando a vida de uma ou mais pessoas que eram importantes pra ele, deixando ele com um sentimento de culpa no fim. Isso mostra que o personagem tem falhas, ele comete erros e na teoria aprenderia com eles na medida em que a história progride e ele se desenvolve. Então sim, eu entendo pelo menos a intenção por trás disso, e por mais que essa tragédia que houve com os Black Cats tenha sido mais forçada que a minha quinta punheta da madrugada, ainda dá pra ver algum potencial ali.

Só que o Kirito não aprende porra nenhuma com isso e nem cresce de maneira alguma também. Ou pelo menos o anime não faz parecer que sim, porque depois desse episódio já tem outro time skip e outra história sem conexão alguma com o anterior, com o Kirito aparentemente ficando de boa e ajudando a loli desse anime aí a ressuscitar o dragãozinho morto dela... Porra, Kawahara! Ou A-1 Pictures... Ou seja lá quem for o culpado por isso! Você faz um episódio inteiro focado num evento trágico que afetou o protagonista da sua história emocionalmente, e faz ele superar isso em offscreen? Mas o que caralhos, velho? Por que? Vocês são alérgicos a escrever personagens lidando com as consequências dos seus atos ou algo assim? E não é como se isso fosse um evento que assombra o Kirito apesar dos time skips, como se isso ainda ficasse na mente dele por uma boa parte do tempo ou algo assim, ele sequer menciona a Sachi ou os Black Cats por todo o resto do anime.

O único efeito disso que a gente vê mais ou menos é o Kirito continuando a ser um jogador "solo" e supostamente ficando mais distante dos outros, mesmo que em 90% dos episódios desse arco ele esteja sempre acompanhado de alguém, normalmente alguma garota que ele para pra ajudar e que depois se apaixona ou fica atraída por ele de alguma forma, ou a Asuna depois de reencontrá-la. Se o Kirito realmente tem um arco de personagem nessa história no qual ele começa tendo receio de se aproximar das pessoas, especialmente depois do que aconteceu com a Sachi e os Black Cats, e aos poucos vai aprendendo a confiar mais nos outros e em si mesmo através das histórias que ele presencia dentro desse mundo e a relação dele com a Asuna... O anime comunicou isso mal pra caralho, a impressão que ficou é que o Kirito muda de personalidade de um episódio pro outro de acordo com o que for mais conveniente pra história andar no momento. Provavelmente é por causa dos time skips... Sério, o maior problema com esse arco é a porra dos time skips.

Não, eu não acho time skips uma coisa automaticamente ruim, mas acontece que no caso desse anime aqui eles não têm propósito nenhum fora o de dar ao autor uma desculpa pra não ter que explicar o Kirito sendo o jogador mais OP do bagulho o tempo todo, impedir que o anime dure mais de 100 episódios explorando todos os 100 andares de Aincrad, o que é compreensível e nem eu ia querer isso... Mas o provável maior motivo pra esses time skips é o fato de que Sword Art Online originalmente foi uma história escrita por um amador no começo dos anos 2000 pra uma competição de escritores amadores, e havia um limite de páginas nessa competição. E mesmo com esses time skips, a história aparentemente ainda passou do limite de páginas permitido e ele ao invés disso a publicou na internet mesmo. Entende agora o porquê de certos aspectos do roteiro do arco de Aincrad parecerem amadores? Pois é, é porque a história foi literalmente escrita por um amador, e a A-1 Pictures ao invés de aproveitar a oportunidade pra consertar esses problemas e melhorar Sword Art Online na sua adaptação, resolveu só pegar o negócio com os problemas e tudo, misturar com as histórias secundárias lançadas no segundo livro e foda-se.

O Kawahara sabe tanto de como esses time skips prejudicaram a história original dele que ele tá escrevendo uma nova versão desse arco chamado Sword Art Online: Progressive, e a ideia desse remake aí é explorar cada um dos andares de Aincrad sem time skips e nem nada. Existe uma adaptação em mangá do Progressive, eu li essa adaptação e honestamente gostei, obviamente o mangá não cobre tudo porque nem a novel terminou ainda, mas até onde o mangá foi eu realmente gostei e espero que o Progressive ganhe um anime algum dia desses aí. Quer dizer, eu não acho que seja necessário que cada andar seja explorado em detalhes, por mim tava ok usar time skips desde que eles sejam bem posicionados na história, mas tanto faz, não sou totalmente contra explorar cada um dos andares também, por mais que isso acabe resultando numa história muito mais longa.

De qualquer maneira, depois do episódio 3, Sword Art Online vira uma série de histórias separadas dentro do mundo do jogo, a única ligação que essas histórias têm uma com a outra é que elas se passam dentro desse mundo e o Kirito tá presente em todas elas, não dão muita atenção ao plot de chegar ao fim do jogo. Pra ser honesto, essa é provavelmente a minha parte favorita do anime... Sim, é ridículo o fato de que o Kirito ajuda umas garotas que se apaixonam por ele logo depois só porque ele ajudou elas, isso parece o tipo de coisa que eu me imaginaria fazendo nos meus 12 anos de idade baseado na minha idealização do que uma garota faria caso eu ajudasse ela com alguma coisa. Diabos, eu já segurei uma garota aleatória que ia atravessar a rua mexendo no celular sem perceber que o sinal tava aberto, e ela simplesmente me agradeceu e a gente foi cada um pro seu lado depois de atravessar a rua. Eu literalmente salvei a vida dela! Por que ela não se apaixonou? Sword Art Online mentiu pra mim!!!

Mas quer saber? Tirando esse retardamento todo com o harém do Kirito e tal... Eu meio que gosto da maioria das histórias separadas que esses episódios do 4 ao 12 contam. Sim, elas são inconsequentes pro plot principal, mas foda-se, o plot principal já é cheio de problemas e tem uma conclusão horrível quanto a história volta pra ele nos episódios 13 e 14. Pelo menos o Kirito (e a Asuna depois que eles se reencontram) se aventurando por aí em Aincrad é divertido de assistir, apesar do Kirito ser tão OP remover a tensão de 90% das cenas de ação. A história lá onde o anime vira CSI Online deles investigando uns assassinatos misteriosos que ocorreram numa cidade foi interessante, o Kirito indo atrás de um dragão pra matar e pegar o mineral que ele dropa pra Lizbeth (uma ferreira que também é uma das garotas do harém dele) forjar uma espada nova através dele foi um episódio de aventura legalzinho... Enfim, não é nada incrível essa parte meio slice of life/aventura do anime, mas é o ponto dele que eu mais me diverti assistindo.

O que ajuda isso é que Aincrad é um mundo de fantasia legal, os andares que o anime mostra são bem distintos um do outro ao mesmo tempo que ainda assim parecem todos parte do mesmo universo, e como estamos falando da A-1 Pictures que sempre foi um estúdio ótimo com visuais e produção, esse aqui sendo um dos animes mais bonitos e consistentemente bem animados que eles fizeram, acaba capturando bem a sensação de estar se aventurando num JRPG com vários locais únicos a serem desbravados. Agora eu vou fazer uma afirmação meio controversa aqui, provavelmente a maioria de vocês que estiverem lendo esse texto aqui e agora vão arregalar os olhos assim que a informação processar, então lá vai:

Eu gosto da Asuna, e até um pouco do relacionamento dela com o Kirito.

... Bem, eu avisei que era uma opinião controversa.

Primeiramente, eu gosto da Asuna porque ela é uma personagem feminina bem forte... Não, eu não tô tentando dar uma de feministo aqui, é só que eu gosto de personagens femininas, em especial interesses amorosos, que não são completamente dependentes do protagonista pra tudo. A Asuna a princípio parecia ter muita pressa de sair desse jogo logo porque aparentemente ela tinha assuntos importantes a resolver no mundo real e isso tava deixando ela ansiosa e estressada o tempo todo, e depois de interagir com o Kirito ela foi tentando ficar mais calma e aprender a viver nesse mundo, e dá pra ver uma mudança dela no começo do anime pra mais ou menos metade, ela parece bem mais tranquila e receptiva com os outros. Apesar do anime focar quase exclusivamente no Kirito, é perceptível a progressão que a Asuna tem, de uma garota ansiosa e distante lá no começo ela com o tempo acaba se tornando vice-líder de uma guilda chamada Knights of the Blood Oath, se mostra capaz de lutar sozinha. Não que a parte de ser capaz de lutar já não tenha sido mostrada antes, mas a atitude dela no geral tá diferente.

O romance do Kirito com a Asuna têm essa fundação, os dois se distanciavam dos outros por seus próprios motivos, então de certa maneira eles se entendiam bem, a relação deles é construída de um jeito bem natural e plausível com o tempo que eles passam juntos na história, isso resulta em alguns dos poucos momentos desse anime onde o Kirito demonstra mais lados da personalidade (ou falta de tal) dele do que só ser o cara bonzinho que quer ajudar os outros ou o emo depressivo que quer ficar sozinho. Uma das coisas que eu queria nesse anime é ver mais da Asuna, saber mais sobre o background dela, ver as coisas que ela andou fazendo depois de separar do Kirito no episódio 2 até eles se reencontrarem e tal, e isso é uma coisa que o Progressive faz, inclusive, pelo menos no mangá a Asuna é a protagonista e o Kirito é mais secundário, e a história fica bem melhor assim, além do próprio Kirito ser um personagem mais legal lá também. Sério, se você quer uma versão boa de Sword Art Online, tem duas alternativas: Progressive e Abridged.

De qualquer forma, essa relação do Kirito com a Asuna não é sem defeitos também. Depois que os dois passam um tempo juntos, a Asuna vai tendo cada vez menos papel importante nas lutas, porque o anime ainda tá mais preocupado em mostrar o Kirito sendo OP e tal... A última vez que a gente vê a Asuna fazendo alguma coisa significativa é quando ela salva o Kirito daquele antagonista stalker genérico da guilda dela, que depois se revela membro de uma guilda edgy que mata jogadores por diversão chamada Laughing Coffin. Primeiro que todo o conflito com esse cara é ridículo, a Asuna é a vice-líder da guilda dele e uma jogadora de nível bem mais alto, ela podia muito bem ordenar ele a parar de encher o saco desde o começo ou então descer a porrada no cara ali mesmo, mas por algum motivo ela precisa do Kirito derrotar esse cara numa luta pra ele parar de encher ela por um tempo. Aí depois esse mesmo cara atrai o Kirito pra uma armadilha lá, deixa ele paralisado e vai torturando ele até o HP quase zerar, nesse momento a Asuna chega lá e desce a porrada no cara. Isso devia ser o momento dela, mas no fim ela fica sem coragem de matar o cara... E aí o Kirito de alguma forma consegue dar o golpe final, sabe-se lá como diabos ele se desparalizou.

Acho que essa seria uma boa hora pra falar que eu gosto de alguns personagens secundários desse anime também, em especial o Klein e o Agil, que era um dos caras do primeiro episódio que defendeu os beta testers do ódio injusto dos outros jogadores. Uma das coisas legais sobre esses episódios era ver como esses caras andavam do começo do anime pra cá: O Klein conseguiu montar a guilda dele, liderando e protegendo os caras até todos eles se tornarem jogadores bons o suficiente pra lutar nas linhas de frente e ajudar a terminar o jogo, e o Agil deu um jeito de abrir uma loja em uma cidade ao mesmo tempo que ele também andou treinando pra lutar nas linhas de frente. Cês sabem que eu gosto quando uma história mostra os outros personagens progredindo ao mesmo tempo que os principais, Sword Art Online faz isso, apesar de todos os problemas que o anime tem. Vou dar crédito onde é merecido, oras!

Dito isso, um pouco antes da reta final desse arco, o Kirito e a Asuna se casam e passam a viver juntos, eles até chegam a transar e tal. Então, uma hora eles acabam encontrando uma garotinha chamada Yui, que parecia perdida e depois de um tempo passa a tratar os dois como seus próprios pais, e depois de muitas confusões aprontadas pela nossa família do barulho, é revelado que na verdade a Yui é uma inteligência artifical do próprio jogo criada pra ajudar os jogadores a ficarem com um estado psicológico bom. Por algum motivo, a Yui ficou impedida de interferir no jogo e ajudar os jogadores, então ela ficou deprimida vendo todo mundo sofrer, mas então quando ela viu que o Kirito e a Asuna eram felizes ali, ela quis interagir com eles. Só que como ela interferiu no jogo, ela vai ser deletada... Exceto que o Kirito usou o console da GM pra impedir que ela suma totalmente, transformando ela num item pra ser usado depois ou algo assim. Não tenho nada contra a Yui como personagem, mas não entendi qual foi o propósito dela no fim das contas... O que o Kayaba queria? Pra que ele programou essa IA no jogo se ele não vai fazer nada com ela? Sei lá... Apenas mais uma das várias coisas sem sentido que nunca são explicadas em Sword Art Online...

Aliás, foda-se, vamo falar do Kayaba aqui. A última parte do arco de Aincrad se consiste em todo mundo se juntando pra derrotar o boss do 75º andar, e depois de uma luta até bem legal contra esse boss, acontece a grande revelação de que o líder dos Knights of the Blood Oath, Heathcliff, era na verdade ninguém menos do que o Kayaba Akihiko esse tempo todo! Woooow, que reviravolta! Pois bem, o Kayaba é o boss do 100º andar, o que significa que derrotando ele, todo mundo tá livre do jogo, mas obviamente ele não deixa isso acontecer tão fácil e usa os seus poderes de adm pra paralizar todo mundo menos o Kirito, propondo um duelo contra o nosso protagonista e aceitando libertar todo mundo se ele perder. O Kirito perde a luta e tava prestes a ser morto, quando a Asuna misteriosamente conseguiu se desparalizar e entrar na frente dele, levando o ataque do Kayaba e morrendo pra proteger o Kirito... Que fica todo tristão e sem vontade de lutar, daí ele acaba sendo morto pelo Kayaba também... Exceto que não, ele por algum motivo conseguiu dar um golpe final no Kayaba mesmo com o HP zerado... E agora a Asuna tá viva também... Que? Como? Isso tudo aí foi algum bug do jogo ou algo assim? É claro que o anime não explica essa merda, o Kirito e a Asuna sobreviveram porque sim!

Então antes do jogo acabar e ser deletado, eles têm uma conversa com o próprio Kayaba e perguntam por que caralhos ele fez isso... E esse é provavelmente o momento mais estúpido desse arco: Ele diz que esqueceu. Sério, ele realmente diz isso, não tô inventando coisa. Depois ele faz um monólogo idiota pra caralho sobre como ele sempre sonhou com um castelo que flutua no céu, um mundo acima das leis ou alguma merda do tipo... O que não explica por que diabos ele prendeu um monte de gente dentro desse bagulho e colocou todas essas vidas em risco, na verdade não explica porra nenhuma sobre nada! Qual diabos era a intenção desses caras com o Kayaba? Que tipo de vilão ele era pra ser afinal? Eles acham que deixar o vilão sem uma motivação aparente e umas indicações ridiculamente vagas do que ele quer torna esse vilão profundo ou algo assim? Fala sério, vai chupar um pinto, Kawahara! Ou a culpa disso é da A-1 Pictures? Sei lá, vai todo mundo chupar um pinto então!

O pior é que o Kayaba é só um dos vários vilões horríveis de Sword Art Online... Não, sério, essa série é péssima com vilões, quase todos eles são ruins das suas próprias maneiras, a primeira vilã decente dessa merda só foi surgir no Alicization, que é o último arco que o anime tá adaptando aí ainda. Comparado com o vilão do próximo arco, o Kayaba é até aceitável, sério, o próximo arco depois do episódio 14 desse anime é tão terrível que até os fãs de Sword Art Online que eu conheço odeiam ele, acho que é a única parte desse anime que eu diria que realmente merece esse ódio todo e é bem mais do que só um anime ruinzinho.

Bem, eu tô me adiantando aqui, de qualquer forma. O arco de Aincrad termina assim então, o jogo acaba, as pessoas que sobreviveram voltam pras suas vidas normais depois de se recuperarem no hospital, já que essa galera ficou dois anos com um capacete de VR na cabeça com o corpo inativo e isso obviamente causaria problemas de saúde. O Kirito sai da sua sala do hospital e vai lá encontrar a Asuna, fim do arco!

Apesar desses defeitos, eu continuo não achando o arco de Aincrad necessariamente ruim... Não, isso não significa que eu ache ele bom, mas ele tem um certo charme, sabe? O conceito dele é bem interessante, o mundo virtual que ele apresenta é bonito e variado, alguns dos personagens são gostáveis e a mensagem sobre relacionamentos virtuais e como eles podem ser tão significativos quanto os que temos no mundo real, muitas vezes até mais, é bem relacionável pra pessoas como eu que têm mais amizades na internet mesmo. Sim, tem coisas estúpidas e sem sentido nessa história, as que eu mencionei aqui foram apenas as que me incomodaram, isso aqui tinha potencial pra ser um híbrido incrível de realidade virtual com jogo de sobrevivência, romance e mistério... Mas o anime nunca aproveitou muito desse potencial, desperdiçando boa parte disso sendo wish-fulfillment de otaco moderno estereotipado, e o resto com um plot principal que tem sérias dificuldades em fazer sentido e se desmorona na reta final. É frustrante, eu admito, dá raiva ver uma coisa que tinha tudo pra ser boa pra caralho acabar sendo medíocre assim.

Apesar disso... Meh, esse arco é no máximo divertidinho e na pior das hipóteses um pouco abaixo da média. Aquele negócio bem nota 5 mesmo, sabe? Essa é a minha opinião sobre o arco de Aincrad, nota menor que 4 é exagero e maior que 6 é inocência. Agora vamos ver a obra prima que vem depois dele, o tal do arco Fairy Dance...

Sabe como o arco de Aincrad começou bem, com uma premissa boa, uma introdução legal e depois acabou decepcionando porque a história não conseguiu aproveitar o potencial que ela mostrou no começo? Pois bem... O arco Fairy Dance não tem nem isso, ele já começa ruim e continua sendo uma bosta durante todos os 11 episódios que ele dura, sério, não tem um único episódio que eu assisti dessa merda que eu tenha gostado ou achado pelo menos aceitável. A história faz menos sentido ainda do que a do arco de Aincrad, o jogo em si é desinteressante... E é um arco maçante no geral, não dá nem pra se divertir assistindo que nem o de Aincrad, eu quase morri de tédio com esse bagulho. Pra mostrar pra vocês o absoluto nível da estupidez da história desse arco, vou resumir a premissa dele.

Kirito e a maioria dos outros jogadores voltam pras suas vidas normais, porém ainda existem 300 jogadores que tão em coma, um deles sendo ninguém menos do que a Asuna. Em uma das suas visitas à sua waifu no hospital, Kirito acaba encontrando o pai dela, que é o chefe de uma das empresas associadas a Sword Art Online, junto do pai da Asuna está um dos seus programadores principais chamado Sugou Nobuyuki. O Sugou foi escolhido pelo pai da Asuna pra se casar com a filha dele pra herdar a sua empresa, mas como a garota ainda tá em coma e obviamente recusaria o pedido de casamento, ele então foi adotado pela família, mas mesmo assim o Sugou quer se casar com a Asuna por algum motivo e ameaça o Kirito, que a princípio não pode fazer nada a respeito disso. Exceto que depois acaba sendo descoberto que a Asuna e os outros 300 jogadores estão em um MMORPG de realidade virtual novo chamado Alfheim Online, e a diferença desse pro jogo anterior é que não tem níveis, ao invés disso você melhora as suas habilidades através de repetição, também tem raças diferentes, magia e um sistema de voo, e ele é jogado em um console novo chamado AmuSphere.

A propósito, o Kirito tem uma irmã que na verdade é prima chamada Kirigaya Suguha, ela também joga Alfheim Online, por acaso ela encontra o Kirito lá e se junta com ele... Sem nenhum dos dois saberem quem eles são por trás dos seus avatares do jogo. E adivinha só...? A Suguha acaba se apaixonando pelo Kirito. Mas é claro que sim, caralho! Que personagem feminina não quer dar pro Kirito nessa merda? Aposto que o único motivo da Yui não ter acabado por se apaixonar por ele também é o fato de que provavelmente o Kawahara já tinha pensado nela como filha dele e da Asuna, e aí... Botar interesse amoroso nisso seria passar dos limites, né? Aliás, a Yui também tá nesse arco, o Kirito conseguiu dar um jeito de fazer ela brotar em Alfheim Online com a desculpa de que ele usa a mesma engine que Sword Art Online ou algo assim. Honestamente nem vale a pena falar sobre o quão ridícula é essa ideia de que um MMORPG de realidade virtual novo foi criado com um console totalmente novo em menos de 2 anos, foi permitido que lançassem isso mesmo com o incidente de Sword Art Online acontecendo e ainda por cima as pessoas simplesmente foram lá jogar depois do incidente com MMORPG virtual que matou milhares de pessoas alguns meses atrás. Até porque tem muito mais coisa errada com esse arco além de isso aí...

Esse negócio todo da Suguha com o Kirito é tão estúpido e podia ter sido feito de tantas formas melhores que toda vez que dão foco nisso eu ficava rangendo os meus dentes enquanto mal esperava a hora dessa merda ser resolvida logo... E é claro que isso não é resolvido rápido! Qual diabos é o propósito de arrastar isso da Suguha ter se apaixonado pelo Kirito no jogo sem saber que era o primo dela o tempo todo se eu, que tô assistindo a merda do negócio, já sei que ele é o primo dela e que isso não vai dar em nada? Por que ela sequer precisa se apaixonar por ele de qualquer forma? Não dava pro Kirito simplesmente explicar pra Suguha a situação dele, e então ela como jogadora experiente, resolve ajudar ele com isso e os dois apenas vão se aventurando no jogo atrás da Asuna enquanto ficam mais próximos sem esse elemento de romance? Não daria, né? Aí seria uma história sobre o Kirito se reaproximando da Suguha depois do trauma que ele teve com Sword Art Online, e no fim conseguindo voltar a ter a mesma relação que ele tinha com a sua família antes do incidente ao mesmo tempo que ele salva a Asuna, e isso claramente não funcionaria tão bem quanto mais uma garota pro harém do Kirito porque sim. Não dá pra ter uma personagem feminina nisso sem ela fazer algo que não seja querer a piroca do Kirito dentro dela, não é mesmo?

Falando em personagens femininas... Uau, o que esse arco fez com a Asuna me deixou até sem palavras a princípio, é como se o anime tivesse ouvido as minhas reclamações sobre o papel da Asuna no arco de Aincrad, falado "Ah é? Pois eu posso fazer pior!" e... Bem, dito e feito. Primeiro que essa história de donzela em perigo já é bem manjada e se você não tiver algo interessante pra fazer com ela, provavelmente o resultado vai ser medíocre na melhor das hipóteses. De alguma forma, esse arco consegue parecer que vai fazer algo interessante, pra depois acabar fazendo algo pior do que apenas seguir o clichê da donzela em perigo que não faz nada até o protagonista salvar ela. Basicamente, a maioria das cenas da Asuna nisso aqui se consistem nela sendo molestada e quase estuprada pelo Sugou dentro da gaiola lá onde ela tá presa, e na parte em que ela quase consegue escapar sozinha, ela é pega por dois monstros de tentáculos que não poderiam estar mais fora de lugar nesse negócio... Com essas cenas sendo retratadas de uma forma bizarramente erótica, como se o anime realmente esperasse que eu fosse paudurecer ou até tocar um punhetão pra isso. Não, caras... Não... Isso não é sexy, é nojento pra caralho!

E antes que alguém me chame de SJW, feministo e derivados... Não tem nada a ver com isso, eu não sou totalmente contra a ideia de um anime ter abuso sexual ou até mesmo estupro independente de como isso for feito simplesmente por dar gatilho ou alguma merda do tipo. Quer colocar estupro na sua história? Ok, coloque, é um tema interessante, apesar de ser de fato um assunto delicado pra muita gente e exigir um certo cuidado na hora de se abordar... O que significa que retratar isso de uma forma erótica com certeza não é uma maneira inteligente de abordar o assunto, né? E eu sei o que você deve estar pensando, que essas cenas são feitas pra quem tá assistindo odiar o Sugou, mostrar o quão detestável e doentio ele é. Pois bem, eles conseguiram, eu tive um ódio visceral desse maluco desde o primeiro episódio desse arco até o último... Mas eu também fiquei com ódio do anime por fazer isso da forma mais infantil e errada possível numa tentativa falha de parecer mais adulto. Não tem nenhuma nuance, nenhuma reflexão, não tem nada que justifique a necessidade de Sword Art Online ter essa merda aí, isso não é um comentário sobre abuso sexual e o impacto negativo que isso deixa na vida das vítimas. É como se High School Musical tivesse uma cena onde uma garota fica grávida e acaba abortando o bebê, vocês não sabem do que estão falando.

Mesmo ignorando esses elementos, o arco Fairy Dance é absurdamente tedioso. O mundo de Alfheim Online não chega nem perto da variedade que os cenários de Sword Art Online ofereciam, o Kirito é OP nesse jogo também, porque é claro que ele é, e mesmo com as mecânicas novas de voo e magia as lutas nem mudam tanto assim porque o método principal do Kirito lutar ainda é usando a sua espada pra retalhar tudo e dar one-hit kill em jogadores que tão no jogo há muito mais tempo do que ele porque ele é muito fodão. Quer dizer, o Kirito chega a aprender a usar magia, ele até consegue se transformar em uma espécie de demônio super poderoso parecido com aquele minotauro que ele enfrentou em Aincrad... Ele simplesmente destrói os inimigos dele com a maior facilidade quando usa essa magia, e nunca mais usa isso de novo depois daquele ponto, mesmo em situações onde ele era perfeitamente capaz de usar isso e resolver o problema logo. Por que? Sei lá, esse arco é estúpido.

E apesar do fato de que a Asuna é uma refém do Sugou tentar dar uma sensação de urgência à história, não adianta muito quando o Kirito não demonstra ter muita pressa pra salvar ela e fica brincando por aí nesse jogo fazendo nada que ajude a história a avançar. Sabe o que seria muito melhor? Se o arco não tivesse nenhum vilão, fosse só o Kirito e a Asuna se encontrando no mundo real e jogando esse bagulho juntos, e com isso eles poderiam simplesmente se divertir em um mundo virtual online como ele queria desde o começo. Mas não é só isso, fora do jogo poderia ter um drama com a Asuna e o Kirito se reaproximando das suas famílias depois de ficar 2 anos presos dentro de Sword Art Online, nisso entraria a Suguha, que queria ficar mais próxima do Kirito e resolveu começar a jogar MMORPGs nesse meio tempo pra tentar entender ele melhor. O Kirito e a Suguha acabam se encontrando em Alfheim Online, e na medida em que ela acaba jogando junto com ele e a Asuna, os dois vão ficando mais próximos e o Kirito passa a ter uma relação melhor com a família dele. Pronto, tá aí um anime sobre realidade virtual perfeitamente aceitável e com um drama humano que com certeza muita gente acharia relacionável... Mas não, eles tinham que enfiar um plot idiota com um vilão mais idiota ainda nisso.

Pra você ter uma ideia do quão estúpida é essa história toda, eu vou explicar aqui qual é o plano do Sugou. Basicamente, ele prendeu esses 300 jogadores dentro de Alfheim Online pra fazer experimentos em seus cérebros e aprender a manipular os pensamentos, as emoções e até as memórias das pessoas... De alguma forma ele quer vender esses experimentos pra outras companhias e dominar o mundo com isso, porque ele odeia o Kayaba e sofre de um complexo de inferioridade fodido. É sério, esse é o vilão do arco e a motivação dele. Imagina o Kawahara escrevendo isso mantendo uma expressão completamente séria no rosto, crente que ele tá no processo de criar uma obra prima e lançá-la pra que o mundo inteiro contemple o que saiu da sua mente brilhante. A única coisa remotamente satisfatória sobre esse cara é a cena do penúltimo episódio em que o Kirito desafia ele pra um x1 sem a função de absorção de dor lá e ainda dando pra ele a Excalibur, que é a espada mais forte do jogo, foi muito bom ver o Sugou sendo humilhado e depois morto como se ele fosse inferior a uma fralda cagada usada pelo autor de Mirai Nikki. Especialmente depois dele molestar a Asuna na frente do Kirito no que é provavelmente a pior cena dessa série inteira.

Eu nem ligo pro fato de que o Kirito conseguiu ganhar só por causa da ajuda do fantasma digital do Kayaba que surgiu do nada e deu a ele privilégios administrativos do jogo ou algo assim, a esse ponto asspulls estão entre os menores dos problemas com esse arco. Mas ok, depois de ir lá junto com a Suguha e a Yui salvar a Asuna e derrotar o Sugou, Kirito finalmente pode voltar pra sua vida normal... Exceto que o Sugou no mundo real ainda tenta matar ele, mas acaba se fodendo e sendo preso por seus webcrimes. Graças a um item chamado World Seed que o fantasma digital do Kayaba deu pro Kirito, um novo sistema pra MMORPGs virtuais é criado e agora todo mundo pode jogar feliz, eu acho, além do mais, Kirito e seu harem viram estudantes numa escola especial pra ex-jogadores de Sword Art Online. Final feliz!

Olha... Eu tenho quase certeza que o motivo das pessoas odiarem tanto Sword Art Online é o Fairy Dance, esse arco no seu melhor é desinteressante e no seu pior é horroroso, foram 11 episódios que honestamente pareceram ter durado uma eternidade e isso deixa uma péssima impressão final. É como se tivessem descartado os aspectos legais do arco de Aincrad, mantido os aspectos ruins e adicionado mais uns novos desses, desde a premissa sem sentido até as situações forçadas, o uso imaturo e nojento de abuso sexual, os plot twists hilariamente ruins e o péssimo vilão, isso aqui é de longe o ponto mais baixo da série inteira e a parte que eu concordo merecer todo esse ódio. Se Sword Art Online fosse um anime dividido em duas temporadas, uma sendo o arco de Aincrad e outra sendo Fairy Dance, eu daria respectivamente uma nota 5 pra primeira temporada e... 1 ou 2 pra segunda.

Porém, Sword Art Online não é só Fairy Dance, na verdade são 14 episódios de Aincrad e 11 desse, por mais que pareça mais longo por ser muito mais chato e desinteressante em comparação. Então... Eu não consigo de boa fé dizer que isso aqui é o pior anime que eu já assisti, e nem um dos piores, me diverti de verdade com o arco de Aincrad apesar dele ter as suas falhas também e nem todos os episódios serem exatamente bons, outros fatores compensaram isso... Mais ou menos... Mas o importante é que tiveram coisas pra eu gostar ali. E sim, se há algo que eu gosto em uma obra que a maioria (ou pelo menos a galera mais barulhenta) odeia, eu vou dizer que eu gosto e tô cagando e andando pro que os outros pensarem. Não tô aqui pra ficar seguindo opinião popular e sim pra expressar as minhas opiniões que podem ou não coincidir com as mais populares.

Com a opinião possivelmente popular de que Sword Art Online é um anime ruim falando de modo geral, no entanto, eu sinto dizer sou obrigado a concordar... Era bastante promissor, mas acabou que a execução dessas ideias legais foi bem falha. Mas olha, eu fico feliz por esse anime existir, de verdade, se não fosse por ele não existiria Sword Art Online Abridged, a série Abridged suprema que todos vocês deveriam estar assistindo desde já! Talvez esse post todo aqui até tenha sido só uma propaganda glorificada de SAO Abridged, interprete-o como quiser.

Nota: 4

 
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