segunda-feira, 6 de janeiro de 2020

10 animes não tão populares que mais pessoas deviam ver


Ei, você!

É, você mesmo que tá lendo esse post e por acaso é um otaco fedido que gosta de animes!

Tá cansado de olhar essas listas genéricas de "melhores animes já feitos" que existem aos montes na internet e ver sempre aquelas obras manjadas como Fullmetal Alchemist, Dragon Ball, Naruto, Gurren Lagann, Steins;Gate, Evangelion e afins? Você também por acaso não aguenta mais ver os cults e elitistas de anime falando sempre das mesmas porras de animes intelectuais filosóficos 2deep4u como Legend of the Galactic Heroes, Serial Experiments Lain, Texhnolyze, Haibane Renmei e Monster? Se a sua resposta pra ambas as perguntas for um "sim", saiba que os seus problemas acabaram, pois eu, com toda a minha sabedoria, decidi que é uma boa ideia dar os holofotes a alguns desenhos chineses que me agradam bastante, porém que não são exatamente famosos com o público mainstream, e também não são lá muito discutidos pela turminha dos cults.

Ok, uns dois ou três desses que tão na lista são relativamente conhecidos pelo pessoal cult, inclusive eu os conheci por recomendação deles mesmos, mas ainda assim são animes que nem todo cult conhece, então ainda conta. Outro detalhe importante é que essa lista se trata de animes pouco conhecidos pela comunidade daqui do Brasil, porque lá fora uma boa parcela dessa lista é bem conhecida, alguns até já chegaram a ser mainstream enquanto passaram e com o passar dos anos foram caindo na obscuridade. Mas aqui no Brasil hoje em dia eu raramente vejo pessoas comentando sobre qualquer um desses animes abaixo, e o meu objetivo é mudar isso... Objetivo esse que provavelmente não será alcançado, mas o que vale é a intenção.

Sem mais delongas, vamos começar isso logo.

Bokurano
Chamado de "Evangelion melhorado" por alguns malucos cult que acham que hoje em dia Evangelion tá mainstream demais pra eles gostarem como o faziam antes, Bokurano é um mecha psicológico deprimente pra um caralho, baseado no mangá do Mohiro Kitoh, mas não é uma adaptação completamente fiel e eu ainda nem li o mangá pra saber se é melhor ou pior. De qualquer forma, Bokurano conta a história de um grupo de 15 adolescentes que acabaram sendo manipulados a entrar em um "jogo" onde precisam pilotar um mecha gigante que eles apelidam de Zearth e lutar contra robôs misteriosos que ameaçam destruir o mundo em que eles vivem, com o  Zearth só podendo ser pilotado por um dos seus escolhidos em cada batalha, e se esse personagem escolhido perder, a Terra já era.

Com um elenco principal tão grande, você imaginaria que Bokurano cagaria fortemente na questão de desenvolver esses personagens e as histórias deles, mas surpreendentemente esse não vem a ser o caso. Primeiro porque Bokurano não tem um protagonista de fato, os mais próximos disso são os poucos personagens que continuam ali até o fim da história, mas mesmo eles não são exatamente tratados com prioridade sobre os outros, ao invés disso o anime se foca no/na personagem que foi escolhido pra ser o/a piloto do Zearth no momento e através disso ele/a é caracterizado/a e tem toda a sua história explorada enquanto o dia da batalha dele/a vai se aproximando. Cada um desses personagens tem uma história única e uma perspectiva diferente quanto à situação em que eles se encontram e a vida no geral, alguns deles são pessoas felizes e bondosas, outros têm problemas familiares e sociais, há também aqueles que nem boas pessoas são e não ligam nem mesmo pro dano colateral e as mortes que acabam sendo causados durante as batalhas. Talvez você não se lembre dos nomes, em alguns casos mesmo da aparência da maioria desses personagens, mas com certeza você vai se lembrar da história de cada um deles.

E não, Bokurano não é um anime repetitivo onde vamos vendo personagens com histórias deprimentes pilotando mecha um de cada vez até o fim. Quer dizer, o lance deles pilotarem o Zearth fica até o fim da história sim, mas existem outras coisas acontecendo na trama ao mesmo tempo que isso, e os plot twists que vão acontecendo na segunda metade do anime em maior parte são bem executados e ajudam bastante a não deixar a história ficar estagnada. Minha única reclamação grande com Bokurano é que a história meio que não responde todos os mistérios que existem em volta desse jogo, e eu meio que tive a impressão de que isso seria respondido se o anime fosse mais longo... O CG também não envelheceu muito bem, como de costume com animes dos anos 2000. De qualquer forma, isso não chega a comprometer demais a história porque o foco maior é nos personagens e os questionamentos que as histórias de cada um deles levantam, isso junto com a atmosfera melancólica torna Bokurano mais do que recomendável, especialmente pra pessoas que gostam de histórias mais trágicas com mais substância do que simplesmente ter morte e tragédia só pra tentar parecer mais maduro.

Samurai Flamenco
Como diabos eu vou conseguir resumir um anime tão peculiar e imprevisível quanto Samurai Flamenco em um simples pedaço de lista sem arruinar completamente a experiência de um possível futuro espectador? Honestamente, eu não sei, pois a melhor coisa mesmo a se fazer é assistir esse treco sem ter a menor ideia do que diabos você tá indo assistir. Mas ok, eu vou tentar o meu melhor pra não revelar coisa demais... Talvez falar da premissa básica ajude o suficiente.

Os dois protagonistas da trama são Goto Hidenori, um policial comum que procura apenas fazer o seu trabalho, e Hazama Masayoshi, um supermodelo famoso que é obcecado por super heróis a um nível que já passou do ponto de ser saudável. Ambos acabam se conhecendo por acaso quando Hidenori pensa que havia encontrado um tarado no beco, mas na verdade era só o Masayoshi vestindo seu uniforme de super herói pra ir lutar contra o crime pelo bem da justiça, acreditando ser o herói conhecido como Samurai Flamenco. No entanto, diferente de outros super heróis, Masayoshi não tem nenhum poder especial e muito menos capacidades físicas acima da média, logo ele acaba se envolvendo em situações extremamente perigosas com bandidos locais e muitas vezes o Hidenori precisa ir lá fazer alguma coisa antes que aconteça alguma merda muito grande. Bem, se você achou que essa premissa soa parecido com Kick-Ass, você não tá errado em fazer essa comparação, e isso é o máximo que eu posso falar sobre a premissa.

Bem, sabe esses animes que o pessoal gosta de chamar de "desconstruções" só porque eles subvertem alguns clichês e quebram expectativas, e então são endeusados por causa disso? Pois bem, Samurai Flamenco não só é um dos poucos animes que realmente merecem o rótulo de "desconstrução" por realmente desconstruir elementos convencionais em animes e até mesmo tokusatsus e super heróis diversas vezes, como também o faz de uma forma paródica, de modo que o conteúdo seja efetivamente virado de cabeça pra baixo. Absolutamente nada é o que parece nesse negócio, e se você pensa que sabe exatamente qual é a direção que a história tá tomando em um determinado momento... Não, você não sabe, você na verdade nem imaginava o que diabos ia acontecer! É no mínimo irônico que esse seja um anime raramente mencionado nessas discussões em volta de desconstrução e afins, provavelmente porque muitos plebeus foram filtrados enquanto o assistiam e foi demais pra compreensão da maioria das pessoas. Felizmente não foi o meu caso, na verdade Samurai Flamenco não só é o meu anime favorito de 2013 como também é um dos meus favoritos da década de 2010 toda, assista isso logo!

Shigofumi
Saindo desse negócio de paródia desconstrutora e voltando pro clima sombrio e pesado, temos aqui Shigofumi, um anime que nenhum cult me recomendou e eu nem sabia que existia até por acaso um dos meus amigos que tavam assistindo anime comigo no falecido Rabbit escolher esse pra gente assistir. A princípio, eu nem esperava muita coisa disso, mas bastou apenas o primeiro episódio pra esse anime ter todo o meu interesse e mais um pouco, foi uma grande surpresa do jeito mais positivo que eu poderia expressar aqui, é um dos melhores animes psicológicos que eu já assisti, sem brincadeira nenhuma.

No universo de Shigofumi, as almas das pessoas que morreram recentemente têm direito a escrever uma carta a qualquer pessoa viva que ela quiser, e nessa carta todos os pensamentos e sentimentos do remetente são colocados ali da forma mais nua e crua possível. As cartas dos mortos são entregues por outras almas que vão até a Terra como se fossem carteiras, e uma dessas carteiras é uma garota chamada Fumika, junto com a sua vara falante chamada Kanaka. Porém tem uma coisa bem curiosa sobre a Fumika comparado às outras carteiras: Ela continua envelhecendo, o que não deveria acontecer porque, assim como as outras, ela deveria já estar morta. Ninguém sabe o porquê dela ser assim, nem mesmo as suas colegas de trabalho, uma delas sendo a sua amiga, Chiaki.

Esse é um anime semi-episódico, metade dele se consiste em histórias separadas nas quais a Fumika vai entregar uma carta de uma pessoa morta pra seja lá quem for o destinatário que tem qualquer relação com ela, e são histórias bem pesadas envolvendo pessoas que tiveram experiências de vida horríveis, algumas vezes causadas pelos próprios remetentes das cartas. Através dessas histórias, Shigofumi aborda temas como abuso doméstico, depressão, bullying e até mesmo pornografia infantil, o último citado me pegou de surpresa porque eu realmente não esperava algo assim em um anime, muito menos que fosse abordado de um jeito tão maduro quanto nesse aí... Algumas vezes pareceu tão próximo da realidade que ficou até um pouco desconfortável de assistir pra mim, mas isso não é exatamente um defeito. Fora isso, a segunda metade se trata de resolver esse mistério em volta da Fumika e dar uma explorada nos personagens secundários que acompanham ela, e essa história toda também é interessante, mas eu admito que a parte episódica me pegou bem mais. Não ajuda muito que eu achei a conclusão da história da Fumika meio fraca também, mas a segunda metade não é ruim de maneira alguma.

Last Exile
Esse aqui é outro anime que eu vi por acaso uma galera cult comentando sobre, achei o título maneiro e fui pesquisar mais a respeito pra ver se valia a pena. Assim que eu descobri que Last Exile é um anime steampunk, pode ter certeza que eu fui assistir esse filho da puta com toda a alegria do mundo, porque steampunk é um dos meus subgêneros de ficção favoritos e é raro ver animes feitos nesse estilo por algum motivo. Inclusive, esse aqui também é um dos animes que eu mencionei foram bem populares lá fora enquanto eram transmitidos originalmente e hoje em dia são mais obscuros.

Last Exile se passa no mundo de Prester, onde as pessoas usam veículos aéreos chamados de Vanships como meio de transporte principal e os dois lados são separados por um forte turbilhão conhecido como o Grande Fluxo. Um lado de Prester é dominado pela nação de Anatoray e o outro é dominado pela nação de Disith, com o tempo as duas foram tendo conflitos e agora se encontram em uma guerra, enquanto uma terceira facção superior às duas, a Guilda, supervisiona essa guerra, providencia tecnologia pra ambos os lados e se certifica de que as batalhas sigam as regras do cavalheirismo. Em meio a isso tudo, dois carteiros dos céus, Claus Valca e Lavie Head, acabam se envolvendo nesse conflito quando precisam entregar ao pessoal da nave de batalha Silvana uma garota chamada Alvis, que pode ser a chave pra colocar um fim na guerra, assim como desvendar o mistério por trás do Exílio, um objeto de interesse de todas as facções que dizem dar poderes inimagináveis a quem conseguir obtê-lo.

A narrativa de Last Exile é um tanto diferente do usual, no sentido de não ser exatamente um anime focado nos personagens ou na trama em si, mas sim no mundo que vai sendo construído e explorado na medida em que a história progride e os personagens vão interagindo mais com ele. Em seu núcleo, esse é um anime de aventura e mistério com um grande foco nos céus, batalhas e corridas aéreas são bastante comuns e uma grande ênfase é dada aos locais onde os eventos da trama se passam, tem diálogos e muitos detalhes visuais que não só enriquecem a história por trás desse mundo, como também indicam sutilmente plot twists futuros. A técnica de "mostrar, não contar" é usada com força aqui e é até fácil se perder no meio da história caso você não preste atenção direito no que tá acontecendo, principalmente no último arco, que admitidamente tem problemas de ritmo nos episódios finais onde muita coisa acontece rápido demais e o final é bem rushado, mas não chega a ser ruim, só um pouco difícil de acompanhar sem se perder mesmo.

Apesar do foco maior em worldbuilding e no mistério em volta do Exílio, isso não significa que a história e os personagens façam feio. A guerra entre Anatoray e Disith tem um propósito pra estar ali, ela é retratada com uma moralidade cinza com ambos os lados tendo suas circunstâncias que os levaram a esse ponto (apesar do lado de Disith ser menos explorado) e o anime aborda esse tema de guerra de um forma bem interessante principalmente nos primeiros episódios. Porém, essa guerra vai ficando mais em segundo plano na medida em que o anime se desenrola e passa a se focar mais nos personagens indo atrás do Exílio, ainda assim a guerra não é esquecida completamente, o anime volta o seu foco pra ela depois e resolve na hora certa. Os personagens são bem caracterizados e desenvolvidos, cada um deles, até mesmo os mais secundários, tem um motivo pra estar ali e um objetivo a se cumprir, e eu gosto de como os roteiristas de Last Exile tomaram esse cuidado mesmo desenvolvimento de personagem não sendo o foco principal, é como ver vários mini-arcos de personagem acontecendo simultaneamente, as vidas de todas essas pessoas são impactadas pelos eventos que ocorrem e isso ajuda bastante com a imersão. Enfim... Já falei demais, minhas únicas reclamações com Last Exile são a reta final rushada e a vilã principal que é uma personagem fraquíssima e rasa, mas é perfeitamente possível lidar com essas coisas.

Planetes
Outra adaptação de mangá aparecendo aqui, e dessa vez é de um dos meus mangás favoritos de todos: Planetes! E assim como Bokurano, não é uma adaptação completamente fiel, nesse caso eu li o mangá pra poder comparar e posso dizer que das duas versões o mangá é definitivamente superior. Mas isso não significa que não valha a pena assistir o anime, é uma ótima interpretação alternativa da história do Yukimura Makoto (autor de Vinland Saga, pra quem não sabe) e expande elementos que a história original não dá tanto foco assim, além de adicionar alguns personagens novos que... Bem, uns são legais e outros nem tanto, mas o que vale é a intenção, eu acho. De qualquer forma, chega de comparar isso com o mangá!

A história se passa no ano de 2075 e gira em torno da seção de detritos da estação espacial Tecnora, basicamente coletores de lixo espacial que têm o trabalho de impedir que ocorram acidentes na órbita da Terra e da Lua causados por esses detritos, e essa atividade passou a ser reforçada após um acidente com a nave Alnail-8 que resultou na morte dos seus passageiros. Os personagens principais são funcionários de uma das divisões da seção de detritos, e o protagonista é Hachirouta Hoshino, mais conhecido pelo apelido "Hachimaki" por causa da faixa que ele sempre usa na cabeça quando vai realizar suas missões, um homem que segue o seu sonho de ter uma nave espacial, mas tem chances bem baixas de conseguir realizá-lo por causa do custo absurdamente caro de uma nave e o seu emprego atual que não tem muita chance de progresso e não oferece lá o melhor dos salários. Outros personagens principais que trabalham junto com Hachimaki incluem a novata energética Tanabe Ai, o calmo e reservado Yuri Mihalkov e a fumante facilmente irritável Fee Carmichael.

Se lixeiros espaciais não parecem ser algo lá muito interessante pra você, não se preocupe porque Planetes é bem mais do que um anime/mangá sobre pessoas pegando lixo no espaço, isso é apenas uma das possíveis versões futurísticas de um salaryman em uma das histórias sci-fi mais realistas que eu já vi. Cada um dos personagens principais, principalmente o Hachimaki, é bem desenvolvido e as histórias por trás deles comunicam temas variados sobre a humanidade e a nossa relação com o espaço, a primeira metade do anime tem uma ênfase bem forte em caracterização, worldbuilding e algumas vezes até comédia, chegando próximo de um slice of life espacial. Enquanto o mangá vai mais fundo nessa questão da humanidade e nos temas existencialistas, o anime na sua segunda acaba se focando mais nos aspectos políticos e aumentando um bocado o escopo da trama, porém não ao ponto de sair completamente dos trilhos e virar uma história diferente, isso ainda tem ligação com o tema da humanidade e do espaço e levanta uma questão legitimamente interessante sobre as pessoas incapazes de ir ao espaço. É uma pena que a minha parte favorita do mangá acabou sendo sacrificada em favor dessa trama política da segunda metade do anime, mas tudo bem, é mais do que bem feito o suficiente pra eu aceitar.

Chrono Crusade
Seguindo a lista com mais uma adaptação de mangá que diverge do original, aqui está Chrono Crusade, um anime do qual eu já fiz uma review aqui na qual eu falei sobre a obra em detalhes, e também outro caso de anime que na época era bastante conhecido principalmente lá fora, e hoje em dia se tornou obscuro. O anime de Chrono Crusade ficou conhecido não só por divergir bastante do mangá e se tornar a sua própria história original, mas também por ter um final que causou uma certa polêmica na época, muita gente ficou insatisfeita com o modo como a história do anime terminou e até mesmo a galera lá no Japão não pareceu ter gostado, com o consenso sendo de que o mangá é muito melhor e ninguém deveria perder tempo com o anime. Pois eu digo que isso é um severo caso de mau gosto e birra porque o anime não teve o final que as pessoas queriam que tivesse, já falei na review sobre o porquê desse final ser perfeito pra história desse anime em detalhes e não vou me repetir aqui, vou apenas dar um breve resumo do porquê de valer a pena assistir esse anime. A propósito, o mangá também vale a pena, fica aí a recomendação dele também.

A história gira em torno de uma freira chamada Rosette Christopher e o parceiro dela, um demônio chamado Chrono, ambos trabalham pra uma organização da Igreja Católica chamada Ordem de Madalena e têm a missão de lidar com a ameaça dos demônios que começaram a surgir nos Estados Unidos durante a década de 1920. Nossos dois protagonistas estão atrás de um demônio chamado Aion que por motivos misteriosos raptou o irmão da Rosette no passado e está atrás dos sete Apóstolos escolhidos por Deus e abençoados com seus poderes divinos, e a partir dessa premissa básica a história vai se desenvolvendo em algo bem maior e mais complexo do que parecia no começo. Chrono Crusade é bem parecido com Fullmetal Alchemist no modo como a narrativa é conduzida, tendo uma mistura de ação com comédia e drama a princípio, depois ficando progressivamente mais sombrio na medida em que a trama vai ficando mais séria. O uso da comédia é tão ruim quanto o de Fullmetal Alchemist, com alguns episódios da primeira metade do anime sofrendo com mudanças de tom repentinas, mas felizmente esse aspecto da obra vai sumindo cada vez mais. A ação é decente e o drama tem uma carga emocional bem forte, mesmo se tratando das histórias de personagens secundários como a Apóstola Azmaria Hendric e a bruxa de joias Satella Harvenheit.

O que torna Chrono Crusade mais do que um shounen de ação parecido com Fullmetal Alchemist, no entanto, são os seus temas ligados à religião, a figura de Deus e o fato de que o Chrono e a Rosette possuem um contrato entre si no qual ele precisa usar a vida dela como fonte de energia pra usar seus poderes, o que significa que ele está matando ela aos poucos. Esses elementos são a base das partes mais fortes da história do anime, o uso de simbolismo religioso é muito presente na narrativa e cada um desses símbolos e citações tem um significado e um propósito de estar ali, o modo nuançado como o anime explora a fé e a relação da humanidade com Deus sem recorrer a uma visão preta e branca das coisas e vai borrando a linha que separa o bem do mal através dos humanos e os demônios é interessantíssimo. Também tem o desenvolvimento dos personagens, em especial a belíssima relação entre a Rosette e o Chrono que são extremamente importantes um pro outro a um nível emocional, mesmo com o medo que ela tem de morrer e o sentimento de culpa que ele carrega pelo contrato ficando cada vez mais aparentes na medida em que a história segue adiante, tudo isso é muito bem feito. Eu meio que tô me repetindo aqui, se você quer uma opinião detalhada sobre Chrono Crusade e não se importa com spoilers, vai lá ler a review então.

Gankutsuou
Dessa vez a adaptação não é de um mangá, mas sim de um livro, nada mais e nada menos do que O Conde de Monte Cristo, do Alexandre Dumas. Não, eu nunca li a obra original do Dumas, não sou muito de ler livro e provavelmente nunca vou conseguir mudar isso, mas independente de qualquer coisa, Gankutsuou é um dos animes mais únicos que eu já vi, desde a identidade visual forte presente no estilo de arte do anime onde cada pedaço das ilustrações como objetos, roupas, cabelos e afins, tem seu próprio padrão, até a ambientação mais puxada pra um lado sci-fi futurista, ao contrário da obra original que se passa no começo do século XIX. Duvido que seja uma adaptação fiel do livro, mas o fato de que muitas pessoas que são fãs do livro gostaram dessa versão, alguns até dizendo que é a melhor versão da história sem contar o original, provavelmente diz que no mínimo é uma adaptação que faz justiça ao material base.

É o ano distante de 5053, na França, um jovem visconde chamado Albert de Morcerf e o seu amigo barão Franz d'Epinay vão a uma festa em Luna, uma colônia humana localizada na lua. No meio disso, eles encontram um estranho homem nobre de pele azul que se autodenomina o Conde de Monte Cristo, rico, enigmático e sobrenaturalmente poderoso, ele acaba entrando na vida dos dois e parece ter um interesse grande no Albert em particular, assim como na família do jovem. E na medida em que o tempo passa, o Conde se envolve cada vez mais com a vida do Albert e das pessoas que ele conhece, quase todos também vindos de famílias nobres. Bem, acho que todo mundo sabe pelo menos da premissa da história do Conde de Monte Cristo, né? É um cara que foi injustamente incriminado e mandado pra cadeia por um bando de nobres cuzões, mas ele conseguiu escapar, adquiriu uma fortuna e agora planeja se vingar de cada um deles. Gankutsuou segue essa mesma linha, a gente vai acompanhando o Conde se aproximando não só da família do Albert como também as dos seus amigos, ganhando a confiança dessa galera toda e aos poucos plantando ali as sementes da sua vingança contra eles.

Talvez a maior diferença entre o anime e o que me disseram sobre o livro é que a história de Gankutsuou é contada do ponto de vista do Albert e não do Conde, o que ao meu ver funciona bem pra essa história, em especial o destaque maior que ela dá pras consequências horríveis que os atos de vingança do Conde trazem aos inocentes, como os filhos dessas famílias. O que o Albert, o Franz e os outros mais jovens têm a ver com essa merda toda? Nada, porém eles acabaram sendo pegos nisso por causa dos pecados que os seus pais cometeram, é uma história sobre vingança e o mal causado por ela, contada de um modo moralmente cinza. Apesar do Albert ser o protagonista, eu não nego que o Conde é um personagem bem mais interessante que ele, a mera presença dele já torna esse anime um puta dum thriller e ver o plano dele ir se realizando aos poucos é um dos melhores aspectos... Mas eu gosto do Albert, apesar dele ser ingênuo ao ponto de ficar até irritante em alguns momentos, ele amadurece muito bem do começo até o fim da trama. Só achei que o anime podia ter dado uma humanizada maior nos outros chefes das famílias nobres que nem ele fez com os pais do Albert, porque é meio difícil não ficar do lado do Conde quando esses caras são pessoas bem desprezíveis na maior parte do tempo. Independente disso, Gankutsuou tá mais do que recomendado.

Shouwa Genroku Rakugo Shinjuu
Antes de qualquer coisa, eu não vou ficar digitando Shouwa Genroku Rakugo Shinjuu o tempo todo não, dá licença que eu vou me referir a esse anime a partir de agora como SGRS. Dito isso, esse é um anime adaptado de um mangá, mas até onde eu sei é uma adaptação fiel, saiu por volta de 2016 e a história se fechou com a segunda temporada em 2017, que ficou com o subtítulo Sukeroku Futatabi-hen. Curiosamente, poucas pessoas assistiram SGRS na época em que esse anime saiu, inclusive eu mesmo só fui conhecê-lo ano passado, mas essas poucas pessoas que assistiram juravam de joelhos que é uma das coisas mais geniais que elas já assistiram, então eu fui lá ver o que diabos eu tava perdendo no fim das contas... E pra ser honesto, só depois de ver as duas temporadas eu realmente consegui criar uma apreciação por SGRS, foi um anime um pouco difícil de gostar assim de cara pra mim.

No Japão da década de 70, um ex-membro da Yakuza chamado Kyoji acaba de sair da prisão, porém ao invés de voltar pro mundo do crime, ele ao invés disso escolhe se tornar um artista de Rakugo. Pra quem não sabe, Rakugo é mais ou menos um stand-up comedy japonês, exceto que o artista na verdade fica sentado e a comédia é mais voltada pras histórias que ele conta ao invés do cara só estar ali fazendo piadas e tal. Kyoji teve essa ideia depois de uma performance especial de Rakugo que foi feita na prisão por ninguém menos do que Yuurakutei Yakumo, um dos conhecidos mestres dessa arte. Ele eventualmente encontra Yakumo e implora desesperadamente pra que o velho seja o seu mentor e o ensine a se tornar um artista de Rakugo, e ele assim o faz, agora abrigando em sua casa o jovem que ele passa a apelidar de "Yotaro", junto com uma mulher rebelde chamada Konatsu, filha do falecido mestre Yuurakutei Sukeroku. Após essa introdução, o resto da primeira temporada de SGRS é um flashback contando toda a história do Yakumo e do Sukeroku, desde quando eles se conheceram ainda crianças até se tornarem artistas de Rakugo com a responsabilidade de manter essa tradição da família que vem sendo uma tocha passada de geração em geração, com bastante ênfase no que levou os dois a serem artistas de Rakugo em primeiro lugar e as dificuldades que vêm com isso.

Há quem não goste disso de começar a história de um jeito pra depois o resto dos episódios serem flashbacks, eu honestamente não me incomodo com isso, desde que a história que o flashback conta seja boa. Felizmente, SGRS conta uma história bem interessante nesse flashback que ocupa 12 dos 13 episódios da primeira temporada, falando sobre pessoas que tentam encontrar algum tipo de felicidade no meio de toda a pressão e amargura que vai passando a dominar as suas vidas, com a narrativa girando em torno de temas como família, tradição, solidão e até sexismo. O que me incomodou sobre esse flashback todo da primeira temporada é que o clímax dela pareceu um tanto forçado, mas acredite se quiser... Isso foi intencional, e eu só fui entender exatamente o porquê disso ter sido assim vendo a segunda temporada, que não só mantêm os temas da primeira como traz coisas novas e recontextualiza praticamente tudo o que você sabia antes de ver ela. Me recuso a falar mais do que isso sobre a segunda temporada, ela me pegou de surpresa, e creio eu que pegou a maioria das pessoas também. Apenas assista SRGS logo, faça esse favor a si mesmo e depois me agradeça nos comentários daqui por ter incentivado.

Ima, Soko ni Iru Boku
Esse é outro que eu não vou ficar digitando o título todo não, ao invés disso eu vou usar um mais fácil de abreviar, que é o nome que a localização americana deu a ele: Now and Then, Here and There. E a partir de agora vai ser NTHT, e continuarei fazendo isso até os japoneses tomarem vergonha na cara e pararem de dar esses nomes longos idiotas pras obras deles! Mas ok, NTHT também está perdoado por ter um título longo idiota, porque não só é um ótimo anime, como é um dos raríssimos casos de isekai (anime onde o protagonista vai parar em outro mundo diferente do dele) legitimamente bom. Sem harem, sem protagonista estupidamente OP que tem tanta personalidade quanto um vaso sanitário pros otaco gordão fazer self-insert e nada dessas coisas estúpidas que dominam os isekais desde que Sword Art Online apareceu. Sim, eu sei que SAO "não é" um isekai, mas foi o que inspirou esses isekais harem genéricos que você encontra saindo por aí em toda temporada, então foda-se.

Matsutani Shuzo, mais conhecido como Shu, é um garoto japonês normal que pratica Kendo e está no seu caminho de volta pra casa, acaba encontrando uma garota misteriosa chamada Lala-Ru, e logo descobre que ela está sendo perseguida por uns mechas estranhos que acabam atacando o garoto também quando ele tenta protegê-la deles. No meio dessa confusão, os mechas que tavam raptando a Lala-Ru acabam levando o Shu junto acidentalmente e o pingente da Lala-Ru acaba indo parar nas mãos dele. Logo, Shu se encontra em um mundo completamente diferente daquele onde ele vivia: Um planeta deserto à beira da morte, desprovido de água e orbitando em volta de uma estrela vermelha gigante que age como um sol. Enquanto isso, Lala-Ru é levada pra uma fortaleza chamada Hellywood, comandada pelo auto-proclamado rei Hamdo, que pretende usar os poderes que o pingente da Lala-Ru dá a ela de manipular a água em algum plano sinistro. Eventualmente, Shu acaba sendo forçado a se juntar ao exército de Hellywood, que é composto por outras crianças que foram corrompidas pelo Hamdo.

Basicamente, NTHT pega essa ideia de que ser transportado pra um mundo alternativo seria foda pra caralho e vira ela de ponta-cabeça, isso aqui definitivamente não é um mundo alternativo onde alguém iria querer ir parar. Além de ter sido jogado nesse lugar horrível sozinho, o Shu passa por tanta merda que é até impressionante que ele consiga se manter otimista e esperançoso, ainda que as experiências nesse inferno tenham feito ele abrir os olhos pra muita coisa. É até um pouco difícil recomendar NTHT pra outras pessoas, especialmente as mais sensíveis provavelmente não vão gostar muito do quão brutal esse anime consegue ser. Não é aquele tipo de anime cheio de desgraça só por desgraça, é uma ambientação distópica bem construída, especialmente a própria Hellywood, tudo sendo usado nessa história que faz uma crítica bem forte aos recrutamentos militares infantis, que até hoje ainda acontecem em várias partes do mundo. Os personagens secundários que em maior parte são membros do exército da Hellywood oferecem pontos de vista diferentes em volta disso, algumas dessas crianças aceitam e seguem esse estilo de vida, outras não estão preparadas e muito menos conseguiriam lutar, mas são forçadas a isso de qualquer forma... O fato de que isso é um mundo onde pessoas cometem atrocidades umas com as outras pela chance de sobreviver, invasões a aldeias, capturas e até mesmo estupros são comuns, acaba reforçando esse ponto.

Eu não gostei do Hamdo, no entanto, a princípio ele pareceu um vilão mais ou menos interessante, mas... Quanto mais eu pensava no plano dele, menos sentido eu via, pra ser honesto. Talvez eu fale disso em mais detalhes no futuro, mas independente desse ponto fraco, NTHT ainda é um anime bem forte no geral e aborda de um modo inteligente um problema que continua muito frequente no mundo real. Provavelmente você não vai achar isso aqui divertido de assistir, e muito menos vai ficar feliz com a conclusão da história, porém é mais provável que a experiência te faça refletir sobre essa questão, e nesse caso o anime cumpriu seu objetivo.

Gungrave
Muita gente conhece Trigun, mas nem todo mundo conhece Gungrave que é do mesmo criador, Nightow Yasuhiro, e honestamente é uma história superior... Ao menos superior ao anime de Trigun, eu nunca li o mangá pra saber, mas pretendo algum dia. Pois bem, Gungrave é um caso até peculiar, porque o original não é um mangá e sim um jogo de ação, e eu nunca joguei pra saber se é bom ou não, mas a princípio eu fiquei com um pé atrás porque aprendi que animes adaptados de video game costumam ser tão agradáveis quanto bater o dedo mindinho do pé na quina de um móvel. Mas não no caso de Gungrave, esse aqui é um anime adaptado de jogo e é foda pra caralho, meus confrades! Apesar que não parece ser uma adaptação direta da história do jogo, pelo que eu li a respeito é uma versão alternativa e os dois têm pouco em comum fora a premissa, mas tanto faz.

Brandon Heat e seu amigo Harry MacDowell são dois criminosos membros de uma gangue de rua que faz coisas de gangue de rua enquanto tentam sobreviver nesse mundo dominado pelo crime. No meio dessa história, Brandon acaba se apaixonado por uma garota chamada Maria Asagi, o que acaba não sendo muito aprovado pelo tio dela, um ex-mafioso conhecido como Jester. Um dia, a gangue do Brandon acaba se metendo numa treta com a gangue de um cara apelidado de Deed, deu ruim porque o irmão desse cara tem ligações com a organização mafiosa Millennion e é óbvio que o irmão dele foi entrar nessa treta também. No fim das contas, todo mundo da gangue acabou morrendo, menos o Brandon e o Harry que não só conseguiram sobreviver como se vingaram matando o Deed e o irmão dele, isso acaba chamando atenção da Millennion, que resolve acolher os dois como membros novos. Brandon se torna um assassino da máfia e Harry o usa como subordinado pra ir crescendo dentro da organização e realizar a sua ambição de eventualmente se tornar o chefe e conseguir a liberdade que ele tanto sonha em ter.

Assim como Trigun, Gungrave é uma história que fala sobre morte, mas enquanto Trigun era sobre pacifismo e o quão difícil realmente é manter esse tipo de pensamento de se recusar a matar independente de qualquer coisa, Gungrave é sobre o oposto disso, ao mesmo tempo que também condena o ato de matar apesar da narrativa consideravelmente mais sombria e pesada. O anime mostra toda a tragetória do Brandon, desde quando ele era um garoto de rua que cometia crimes, mas tinha um bom coração e era capaz de sentir empatia, até a primeira vez que ele vê um inimigo sendo morto a sangue frio, e como um assassino da Millennion ele continua indo fundo nesse caminho, matando cada um dos alvos que são dados a ele e até mesmo ganhando a sua própria unidade de assassinos. Depois de um tempo, o Brandon já matou tanta gente que ele nem sente mais nada, pra ele isso passa a ser uma coisa normal, mas ao mesmo tempo ele também não consegue mais ficar próximo de ninguém, nem mesmo da Maria, se sentindo incapaz de fazer ela feliz por causa do fato de que ele é um assassino e praticamente perdeu a sua humanidade no processo. O Harry também vai ficando mais corrompido pelas suas próprias ambições, usando métodos cada vez mais questionáveis pra escalar na máfia, ele vai perdendo aos poucos tudo o que ele valorizava e jogando fora aos poucos qualquer senso de moral que ele antes tinha.

A história de Gungrave é muito bem construída e a maioria dos personagens são explorados e passam por um desenvolvimento, até mesmo alguns dos antagonistas são humanizados, o anime consegue criar uma empatia com eles com certa facilidade porque quase nenhum deles chega a ser exageradamente mau que nem um vilão de Akame ga Kill da vida. Mesmo os elementos sobrenaturais que a princípio parecem fora de lugar ainda são bem inseridos, mesmo eu preferindo a primeira metade do anime que era mais pé no chão e era mais um drama de crime com máfia, mas ainda assim a segunda metade é boa o suficiente e o final é fantástico. Só aconselho quem for assistir a não ver o primeiro episódio, comece pelo segundo... Sim, eu sei que é estranho falar isso, mas é porque o primeiro episódio é um daqueles que mostra a história começando na reta final enquanto o resto vai mostrando o que aconteceu pra chegar até aquilo. O problema é que isso não é muito bem feito e esse episódio dá mais spoilers do que o necessário, é muito mais interessante ver o começo dela no episódio 2 sem ter nenhuma ideia de como isso terminaria.

Então, por hoje é s-


"GRRRRR POR QUE VOCÊ NÃO BOTOU O MEU DESENHO CHINÊS OBSCURO FAVORITO NESSA LISTA LIXO SEU BAKA CUZÃO CHUPADOR DE PIRU DE JUMENTO DOS DIABOS, SHINEEEEE!!!"

Calma aí, Batman otaku, eu não botei porque eu queria limitar essa lista a apenas 10 animes, mas não quer dizer que eu não possa fazer posts falando de outros 10, quem sabe nesse post futuro o seu desenho chinês obscuro favorito apareça. Ou talvez ele não vai aparecer porque é só um anime obscuro ruim mesmo, mas você só descobrirá isso me perguntando o que eu acho desse anime ou olhando meu MAL e procurando qual foi a nota que eu dei pra isso e se eu não tive preguiça de descrever com uma tag. Aliás, eu realmente devia arrumar as tags do meu MAL, tem muita coisa lá que eu quero mudar, ou anime sem tag que eu quero botar tag. Um dia eu faço isso.

A propósito, os animes aí não tão em nenhuma ordem em particular, não é algo tipo do melhor pro pior ou algo assim, são só os 10 que me foram vindo na cabeça na medida em que eu escrevia esse post. Agora sim, por hoje é só, quem quiser deixar sugestões de animes desconhecidos aí pra uma próxima lista, ou até que eu não tenha assistido ainda, fique à vontade.

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