quarta-feira, 6 de maio de 2020

A questão dos fillers e das histórias originais em animes


Uma coisa que eu vejo muita gente da grande comunidade de desenhos chineses fazer é usar o termo "filler" de uma forma que tá mais frequentemente errada do que certa, assim como automaticamente ver filler como algo negativo, como se a mera ideia de um anime baseado em um mangá, Light Novel ou o que for, ter um episódio que não seja diretamente adaptado do seu material de origem fosse automaticamente uma merda porque não é um episódio mostrando o que o autor escreveu. Pois eu estou aqui pra consertar essa visão e mudar o estigma negativo que rodeia os fillers e conteúdos originais em animes adaptados ou parcialmente adaptados, afinal não é só porque os fillers de Naruto são tão bons quanto fazer um exame de próstata com o Freddy Krueger que significa que qualquer outro anime também siga esse meme aí.

Antes de qualquer outra coisa, vamos definir aqui o que é um filler, a tradução literal disso é algo como "enchimento", ou "enchedor", basicamente algo criado pra encher linguiça, ocupar espaço. Se tratando de animes que são adaptações de mangá, isso significa que o anime está chegando perto de alcançar o ponto onde o mangá parou, então o estúdio precisa dar um tempo pro autor do mangá criar material suficiente pra continuarem adaptando, afinal eles têm um contrato e precisam manter o anime na programação do canal de TV que passa ele. Qual a solução pra isso? Exatamente, criar episódios com conteúdo original inventado pelo estúdio do anime pra ir ocupando espaço até o mangá estar bom pra adaptar novamente! É por isso que Naruto tem tanta merda aleatória entre os arcos de história adaptados do mangá, especialmente o Shippuden que eu não tive nem saco pra ver inteiro, e nem tenho interesse em continuar, de qualquer forma. 

Pra ser justo, isso não é só com Naruto, esse anime apenas se tornou o posterboy de filler pela quantidade notória desses tipos de episódios/arcos que se encontram na série e a baixa qualidade da maioria deles, mas Dragon Ball Z também sofreu com isso, além da Toei ter precisado deixar o ritmo de certos episódios e lutas bem mais lento, Samurai X depois de Kyoto é um monte de arcos filler que variam de bacaninha pra "puta que pariu que desgraça é essa", e eu não assisti Bleach, mas ouvi falar que é outro inferno de fillers. Mas ok, esses são exemplos de animes com fillers ruins, fillers que em sua maioria não oferecem nada de interessante, ou são histórias completamente avulsas e esquecíveis, ou tentam reciclar histórias que já vimos antes no mangá, só que piores. 

Hoje em dia é até meio raro um anime adaptado de mangá precisar de fillers, ou pelo menos todos os estúdios que não se chamam Pierrot estão adaptando mangás shounen mainstream de modo que a quantidade de fillers seja quase nula. A Madhouse adaptou Hunter x Hunter em 2011 e não teve nenhum filler exceto os episódios de recap, a Bones tá aí adaptando Boku no Hero Academia até hoje e quase nada de filler, a A-1 Pictures adaptou Magi e creio eu que não há nenhum episódio inteiro que seja filler, tampouco em Nanatsu no Taizai, que é outra adaptação desse estúdio, Wit Studio também tá adaptando Shingeki no Kyojin sem filler nenhum. Como eles estão conseguindo adaptar tudo direitinho assim? Simples, dividindo os animes em temporadas e dando uma boa quantidade de tempo de uma temporada pra outra, assim o mangá vai ter avançado o suficiente pra garantir a próxima temporada livre de fillers! 

Mas por que filler tem que ser uma coisa ruim que todo estúdio deve evitar, afinal? Quer dizer, fillers de certa forma são uma oportunidade de explorar coisas do universo dessa história que o mangá nunca explorou, podemos ver personagens que o mangá normalmente ignora sendo trazidos pros holofotes e tendo episódios ou arcos dedicados a explorá-los, podemos ter mais worldbuilding, talvez lados diferentes dos personagens principais, ou mostrar eventos que o anime nunca entrou em muito detalhe... Existem diversas possibilidades de coisas boas que podem vir de fillers! Então... Por que tanto filler ruim? Por acaso existe anime que tenha fillers bons? Pois saiba que a minha resposta é um sim, existe.


Aqui está, Hunter x Hunter! Não o de 2011, o primeiro anime mesmo, lançado em 1999.

E sim, eu vou ter que voltar pro formato em que as imagens ficam no meio e ocupam um puta espaço do texto, porque essa BOSTA de novo editor do Blogger não me deixa alinhar elas pra esquerda e colocar o texto do lado delas, só embaixo, o que derrota a porra do propósito de ter essa opção pra começo de conversa. Vai tomar no seu cu, Blogger! Google! Sei lá quem foi o responsável por isso, mas vai dar pra um cavalo, seu merda!

Enfim, eu perguntava pro pessoal se o Hunter x Hunter de 1999 era bom, mas sempre acabava recebendo respostas como "Não, HxH antigo é uma merda, é cheio de filler", "A história é muito enrolada", "Não tem Chimera Ants", e por aí vai. Mas foda-se, decidi dar uma chance mesmo assim, com expectativas baixas porque na minha cabeça ia ser um Naruto de 1999 e a maior parte do anime se consistiria de conteúdo inútil, provavelmente me arrependeria dessa decisão. Pois então, pra minha surpresa, a versão de Hunter x Hunter da Nippon Animation faz um uso bem inteligente de fillers, tanto que provavelmente ninguém desconfiaria que são fillers se o mangá por acaso não existisse. E o motivo disso é bem simples: Os fillers de Hunter x Hunter expandem a história do original de modo natural, se encaixando bem o suficiente pra parecerem que pertencem a ela. Não há muitos episódios inteiros de filler nessa versão também, normalmente eles misturam material do mangá com cenas originais do anime, mas alguns episódios do arco do Exame Hunter são completamente filler sim.

Independente disso, o que Hunter x Hunter faz é explorar coisas que o mangá e/ou o anime de 2011 não detalharam muito, o primeiro episódio dele demonstra bem isso se comparado ao primeiro episódio do anime de 2011 e o capítulo 1 do mangá, todos os três introduzem o Gon, a sua motivação pra se tornar um Hunter e e exploram um pouco da relação dele com a sua tia, Mito... Se eu fosse um canastrão do caralho, eu faria uma piada com o Bolsonaro aqui, mas não farei. Uma coisa que o anime de 2011 omitiu do seu começo por algum motivo foi a aparição do Kaito e o primeiro encontro que o Gon teve com ele, e eu realmente não faço ideia do porquê disso... Sim, eu sei que depois esse encontro é mostrado quando o Kaito aparece no começo do arco das Chimera Ants, mas pra que essa mudança? Ter esse encontro no começo é importante, não só estabelece uma ligação com o Kaito desde o começo como também dá um contexto melhor pra decisão do Gon de se tornar um Hunter depois, já que foi o Kaito quem revelou que o pai dele, Ging, na verdade tá vivo, que ele é um Hunter e tudo mais. Do jeito que o anime de 2011 retratou, ficou parecendo que o Gon quer ser um Hunter porque sim, ou porque o pai dele é um e nada mais.

Mas ok, nesse caso aí eu apenas apontei uma coisa do mangá que o anime de 1999 adaptou no começo e o de 2011 não, e quanto ao filler? Bem, ele explora um pouco mais do passado do Gon além do simples fato de que o Kaito o salvou e explicou tudo sobre Ging e os Hunters, vemos que o Gon não ficou muito feliz em saber que o seu pai aparentemente o abandonou, o Kaito fica em dúvida se o que ele fez foi realmente necessário, já que a vida do Gon com a sua tia era tranquila e feliz na maior parte do tempo... E principalmente, o conflito entre a Mito e o Gon tem mais foco. Ela não quer que ele vá embora, os dois discutem isso um bocado, inclusive a conversa deles a respeito do motivo do Gon se tornar um Hunter nesse anime é muito melhor do que o do mangá ou a versão de 2011, enquanto nos outros dois ele basicamente diz "Eu sei, o meu pai me abandonou pra virar um Hunter, isso é incrível! Ser um Hunter deve ser foda mesmo! *-*", aqui ele diz "Deve ser um trabalho muito digno, pra ele ter que abandonar o próprio filho pra isso", mostrando que o Gon tem alguma maturidade, apesar de ainda ser uma criança. Esse anime também mostra a Mito dando ao Gon a vara de pescar que ele usa no decorrer da série, que antes pertencia ao Ging, e foi só com essa vara que ele finalmente conseguiu pegar o peixão lá e provar pra Mito que ele está preparado pra ser um Hunter.

Uma coisa que no anime de 2011 demorou poucos minutos e no mangá algumas páginas, o anime de 1999 pegou e transformou no foco principal do primeiro episódio, deixando a despedida do Gon pro fim dele, além de fazer algumas mudanças de caracterização que ao meu ver ficaram melhores. O Gon ter um ressentimento do Ging a princípio logo após descobrir que ele foi "abandonado" faz sentido, ainda mais quando ele era uma criança de 10 anos naquele flashback, mostrar o lado da Mito também foi uma ótima decisão que ajuda o público a se conectar melhor com ela, assim como a dá mais ênfase no quanto o Gon é importante pra ela e vice-versa, e isso acabou tornando a cena da despedida deles no fim do episódio mais impactante, foi um excelente primeiro episódio. O ritmo é mais lento que o do mangá ou o anime de 2011? Sim. Essas porções filler são necessárias pra entender a história? Não exatamente. Porém graças a esse filler, os personagens principais do episódio tiveram uma caracterização bem mais forte, pegando o material do mangá e acrescentando coisas sem destoar demais da visão do Togashi.

A norma pros fillers desse Hunter x Hunter é basicamente essa, mais adiante através dos fillers também vemos coisas como a história do passado do Leorio que o anime de 2011 apenas menciona, o treinamento do Kurapika antes do arco de York Shin, além de alguns personagens secundários que participaram do Exame Hunter sendo um pouco mais explorados, em especial o Pokkle e a Ponzu e como eles acabaram ficando amigos. O Togashi aparentemente gostou disso, já que quando os dois apareceram de novo em Chimera Ants, eles já estavam juntos, mas como o mangá e o anime de 2011 nunca chegou a mostrar eles interagindo antes, ficou esquisito e a gente apenas tem que assumir que eles ficaram amigos em offscreen. Mas não no absoluto chad Hunter x Hunter de 1999 que mostra eles interagindo e trabalhando juntos! 

E mesmo alguns fillers mais inúteis ainda são divertidos até, aquele com os finalistas do exame tentando adivinhar qual vai ser o teste final e achando que seria um teste escrito, aí tentando arrumar maneiras de colar porque eles não estudaram porra nenhuma foi hilário. Claro, nem todos os fillers desse anime são bons, às vezes têm uns fanservices bizarros do Kurapika com o Leorio, ao ponto de eu até chegar a acreditar que talvez o diretor pensou que o Kurapika fosse uma garota... E os fillers do arco da Família Zoldyck são bem chatos, mas de modo geral, os fillers do Hunter x Hunter de 1999 são muito bons, me fizeram gostar mais de uns personagens que quando eu assisti só o de 2011 eu não liguei nem um pouco.

Dito isso, eu não sei se existem muitos outros animes com muitos fillers bons assim, o que me vem na cabeça agora é Gintama, aparentemente grande parte do anime é filler e eu nem teria percebido se a minha amiga que tava assistindo comigo não tivesse me falado. Tem Cardcaptor Sakura, que eu nunca assisti, mas diz essa mesma amiga também que metade do anime é filler e os fillers são bons, então confiarei na palavra dela. Se você por acaso conhece algum outro anime com bastante filler e a grande maioria deles são bons, diga aí nos comentários.

Não, Fullmetal Alchemist não é filler, antes que você desça na porra da seção de comentários e bote isso como o asno que você é.


Caso você tenha passado os últimos 17 anos hibernando e acabou de acordar agora, Fullmetal Alchemist tem dois animes: Um lançado em 2003 e o outro, Brotherhood, em 2009. No entanto, o foco do post aqui é o anime de 2003, que havia sido lançado enquanto o mangá ainda estava em andamento e nem havia progredido tanto assim... Então o que exatamente o pessoal da Bones fez? Encheu o anime de fillers enquanto o mangá progredia o suficiente pra ser adaptado? Não, na verdade Fullmetal Alchemist não é nem uma adaptação de verdade do mangá, ao contrário do que muitos acreditam. Sim, eu sei que há muitas coisas do mangá nos primeiros 25 episódios do anime, mas ainda assim ele não é uma adaptação, é uma história original que usa coisas da história do mangá como base. Foi planejado pra ser assim desde o começo, tanto que mesmo na parte "fiel" ao mangá ainda há muitas diferenças entre as duas versões em certos eventos, essas diferenças têm um propósito, elas estão estabelecendo ou indicando elementos que a história original do anime vai elaborar mais depois. O Brotherhood é a adaptação mais fiel, apesar de fazer umas cagadas no começo da história e mudar as ordens de alguns eventos, mas assim que passa do começo é uma adaptação fiel.

Sites como o Filler List acabam espalhando desinformação quando classificam qualquer episódio do anime que não seja diretamente adaptado do mangá como filler, e isso tá errado porque tem uma diferença bem grande entre o filler e a história original do anime. Como eu disse antes, filler é algo que tá ali pra encher linguiça, ocupar espaço enquanto o anime não pode voltar a adaptar o mangá, já uma história original é algo independente do mangá, o anime já divergiu na sua própria história e não vai voltar a adaptar o mangá depois, logo não faz o menor sentido dizer que os episódios dessa história original são fillers, eles não estão preenchendo espaço pra nada e são episódios relevantes pra história do anime. De que forma os episódios 11 e 12 de Fullmetal Alchemist seriam filler se a história contada neles introduz as pedras vermelhas, cópias artificiais da Pedra Filosofal que passam a ser um elemento importante da história desse anime? Pois é, como eu disse, a classificação de filler não faz sentido.

Fullmetal Alchemist não é o único anime a ter uma história original que usa a premissa e alguns eventos do mangá como base, outros animes como Chrono Crusade, Planetes e Bokurano seguem a mesma ideia e são histórias originais perfeitamente boas por si mesmas também. Todos esses animes citados têm temas em comum com os seus mangás, mas normalmente as abordagens são diferentes, ou então um aspecto do mangá é explorado mais a fundo, Fullmetal Alchemist pega o tema de fé cega e se adaptar à realidade que a primeira história do mangá contou e torna esse o tema central, Chrono Crusade pega o simbolismo religioso do mangá que tava lá só por estética legal e fazer ele significar alguma merda de fato, com a sua história montada em cima desse tema de religião, e por aí vai. Vale também ressaltar que todos esses animes aí nunca foram planejados pra ser adaptações fieis, desde o começo eles foram produzidos como histórias originais e por isso eles funcionam bem, diferente de outros que fazem um uso bem porco de material original.

Se por um lado tem esses animes com histórias originais bem planejadas, por outro tem animes como Claymore, Pandora Hearts e Akame ga Kill, que são adaptações geralmente fieis até chegar nos 45 minutos do segundo tempo e de repente virar uma história original relâmpago inventada pra história do anime não ficar num cliffhanger... Normalmente finais assim não são satisfatórios, as partes originais surgem do nada e quase sempre nem ao menos fazem sentido com o resto do anime, isso quando de qualquer forma o bagulho não acaba terminando com cliffhanger mesmo assim, o que acaba derrotando o propósito de ter o material original ali de qualquer forma. Bem, Akame ga Kill já tava ruim bem antes do material original, mas os outros dois aí não, e é uma merda ver as histórias deles sendo desperdiçadas com um final original mal feito que só tá ali porque o anime não vai ter mais temporadas e os caras querem finalizar aquilo de alguma forma. Esse tipo de coisa é o que diferencia material original bom de ruim, e admitidamente quando eu vejo isso sendo colocado na mesma categoria que Fullmetal Alchemist ou Chrono Crusade de "ruim" só por não ser adaptado do mangá, eu fico um pouco irritado e sinto uma leve vontade de mijar na cara da pessoa que tá fazendo isso até ela morrer afogada.

E se você tem algum problema com animes adaptados de mangás que adotam histórias originais simplesmente por não ser a mesma história que a do autor do mangá, ok, eu acho essa opinião incrivelmente retardada, mas respeito o seu direito de tê-la. Caso você tenha interesse em mudar de ideia, no entanto, é só passar a enxergar o mangá e o anime como se fossem universos paralelos, algo como as 500 versões diferentes do Homem-Aranha que existem por aí, são visões/interpretações de autores diferentes de uma mesma obra, e não são mais ou menos válidas que a do autor original por isso, só podem ser apenas histórias melhores ou piores por motivos variáveis.


Brincadeiras à parte, espero ter esclarecido as coisas com esse post, porque quase todo dia me aparece um fazendo essa confusão e eu apenas julguei que seria conveniente deixar esse texto aqui, provavelmente as pessoas o acharão através de pesquisas no Google e estarão mais informadas como resultado! Como sempre, se tiver alguma coisa errada nesse post, é só falar que eu dou um jeito de deixar de ser burro e corrigir a merda que eu falei, afinal de contas isso aqui é um blog sério e profissional, e desenhos chineses são sérias buzinas.

Dito isso, assistam os dois Fullmetal Alchemist, os dois Hunter x Hunter, Chrono Crusade, Bokurano, Planetes, não assistam Akame ga Kill, leiam Pandora Hearts e sejam felizes nessa quarentena aí. Adeus!

segunda-feira, 4 de maio de 2020

Review - Conker's Bad Fur Day


Bem... aqui estou eu. Ryu, o gamer... O gamer mais chato de toda a internet! Quem imaginaria isso? Mas como chegou a esse ponto, você pergunta? E quem são esses furries estranhos que protagonizam meu post? Isso você também pergunta! Bem, é uma longa história. Chegue mais perto e eu te conto. Tudo começou... Ontem. E que dia foi aquele! É o que eu chamaria de... O dia em que eu sentei e joguei Conker's Bad Fur Day depois de todos esses anos pra ver se é tão bom quanto eu me lembro.

Pois bem, quem me conhece desde o blog antigo sabe que Conker's Bad Fur Day era sempre um jogo que... Assim, se o cartucho dele tivesse uma piroca, eu provavelmente a chuparia. Eu dizia sempre que é um dos meus jogos favoritos de todos, desde o dia fatídico por volta de 2010 em que eu baixei um emulad- digo... Comprei um Nintendo 64 e vários cartuchos de jogos consagrados deste console que eu adquiri legalmente. Foi o dia em que eu conheci Mario 64 direito, pois antigamente eu só joguei um pouco dele num Nintendo 64 de alguém que eu não me lembro agora, pois eu era muito novo na época, pude jogar o tal do melhor jogo de todos os tempos, Zelda: Ocarina of Time, e o seu irmão mais novo que é secretamente superior, Majora's Mask, também joguei Banjo-Kazooie, Banjo-Tooie, Diddy Kong Racing, Star Fox 64... Foi uma maravilha! Bem, não totalmente, porque eu também joguei GoldenEye, Perfect Dark, Donkey Kong 64, Star Wars: Shadows of the Empire e Castlevania 64... Digamos que esses jogos não envelheceram bem, isso pra não dizer que alguns desses eram ruins mesmo pra época.

Mas espera, tem um jogo que eu quase ignorei porque já tava meio enjoado do Nintendo 64! Conker's Bad Fur Day, nunca tinha ouvido falar disso na minha vida, mas comprei o cartucho porque tava ali no meio da lista de jogos populares do console. Fui procurar no Google e a primeira imagem que me apareceu foi essa, então pensei "Porra, outro platformer de mascote da Rare? Esses caras não cansam disso não?" e quase acabei não jogando por imaginar que seria mais do mesmo, porém meus instintos me diziam pra dar a esse jogo uma chance, afinal de contas é um platformer da Rare, não deve ser ruim! Ou talvez seja, afinal de contas eles também fizeram Donkey Kong 64, mas eu apenas fiquei com um bom pressentimento nesse caso. Pra minha surpresa, Conker's Bad Fur Day foi completamente diferente não só do que eu esperava, mas também dos outros jogos da Rare, ou de qualquer outra coisa que eu já joguei na vida. E sim, quando eu fui jogar esse jogo, eu havia me esquecido completamente que o Conker era um dos personagens de Diddy Kong Racing.

De fato, o motivo de Conker's Bad Fur Day acabar sendo o que conhecemos agora também vem do fato de que aparentemente o projeto original, Twelve Tales: Conker 64, recebeu críticas por parecer ser apenas outro platformer de mascote da Rare. Hoje em dia todo mundo já sabe que Conker' Bad Fur Day é algo meio próximo de South Park: Estética de cartoon bonitinho e tal, mas o conteúdo em si tá longe de ser um cartoon bonitinho apropriado pra crianças. Não que isso impeça crianças de assistir South Park ou jogar Conker's Bad Fur Day, afinal de contas muitas crianças que eu conhecia antigamente adoravam South Park. E apesar das vendas baixas graças à Nintendo se recusando a fazer propaganda do jogo por pura viadice, e também porque em 2001 ninguém mais ligava pro Nintendo 64, Conker's Bad Fur Day foi aclamado pela crítica quando saiu, mesmo hoje em dia é um título frequentemente citado quando as pessoas falam sobre seus jogos favoritos de Nintendo 64, basicamente se tornou uma espécie de clássico cult.

Já fazem uns bons 10 anos desde quando eu joguei Conker's Bad Fur Day do começo ao fim, e apesar da minha primeira experiência com esse jogo ter sido sensacional, ao ponto de eu realmente considerá-lo um dos melhores jogos que eu já joguei... Os tempos mudam, opiniões também, hoje em dia mesmo eu não tenho tanto tempo livre pra jogar video games quanto eu tinha no começo da década passada, portanto fiquei sem revisitar muitos dos jogos que eu queria. Todos esses jogos clássicos da minha infância e adolescência, me dei a tarefa de revisitá-los nem que seja à força, e postarei review de cada um deles assim que puder! É com Conker's Bad Fur Day que eu estarei iniciando essa jornada, e não faço a menor ideia de qual diabos será o próximo, vou pensar nisso depois. Agora vamos nos focar em Conker's Bad Fur Day... Esse jogo é tão bom quanto as minhas memórias dizem? Ou será que é apenas um produto da sua época que não envelheceu bem e deve ficar no passado como uma boa memória? Vem comigo que a gente chega até a resposta.

A história começa com o nosso protagonista, Conker the Squirrel, que aparentemente se tornou um rei! Exceto que ele não parece nem um pouco feliz em ser o rei daquele lugar... Por que, você pergunta? Pois bem, é uma longa história, mas tudo começou no dia anterior... Ou melhor, na noite anterior a ele, quando Conker foi em um bar beber com seus amigos, exceto que ele bebeu um pouco demais e acabou ficando totalmente chapado... E se perdendo na sua tentativa de voltar pra casa. No dia seguinte, nosso herói acorda em um lugar completamente desconhecido e com uma ressaca fodida, mas graças à ajuda de um espantalho falante chamado Birdy, ele consegue se recuperar e parte em uma aventura pra voltar pra casa, reencontrar com a sua namorada Berri e jogar Donkey Kong Country 2 com ela, como eles sempre fazem.

Enquanto isso, no castelo do Panther King, o rei dessa terra estranha onde o Conker foi parar, a galera se encontra diante de uma grande crise: A mesa ao lado do trono do Panther King está com uma perna faltando, por isso toda vez que ele bebe seu leite e coloca o copo na mesa, ela tomba e derrama tudo! Oh não, e agora? Como possivelmente um problema tão alarmante pode ser resolvido? Felizmente, o professor Von Kriplespac aparece pra nos trazer a solução: Um esquilo vermelho deve ser usado como a quarta perna da mesa, já que ele tem exatamente o tamanho necessário pra preencher o espaço ali. E assim, pra impedir que o reino entre em colapso porque o Panther King não pode beber seu leite sem a mesa derrubá-lo, nossos vilões acabam sendo levados a ir atrás do Conker...

... Que já se desviou do seu objetivo de voltar pra casa e agora está se envolvendo em diversas tretas nessa terra estranha atrás de dinheiro, se metendo em problemas como ajudar abelhas a recuperarem a sua colmeia das vespas e a polinizar uma flor tetuda, lutar contra uma merda gigante cantora de ópera, e por aí vai. No meio disso tudo, a Berri acaba sendo raptada pelos vilões, em uma tentativa de atrair o Conker até eles, e eu sinceramente acho hilário o fato de que o Conker passa a maior parte da história sem fazer a menor ideia de que isso tudo com o Panther King tá acontecendo, ou de que a Berri corre perigo. Ele nem ao menos pensa em nada disso, a partir do momento em que ele ajuda a abelha rainha a recuperar a colmeia e ganha dinheiro em troca, voltar pra casa e ver a Berri de novo ficou em segundo lugar na lista de prioridades dele... Ou talvez em vigésimo lugar.

Aliás, eu já quero dizer aqui que independente de qualquer comentário negativo que eu vá fazer nessa review, o Conker ainda é um dos meus personagens favoritos de video game, talvez até de ficção como um todo, e o modo como ele quebra diversas convenções de herói de platformer é brilhante. De um ponto de vista normal, Conker é uma pessoa horrível, um esquilo rabugento fodido que não leva nada a sério, acha quase todo mundo ao seu redor irritante, enche o cu de bebida alcoólica sempre que pode, não vê problema nenhum em matar ou ferir mortalmente alguém se for conveniente pra ele, e quase sempre quando ele vai ajudar alguém, ele quer alguma coisa em troca... Normalmente dinheiro. Como picas alguém consegue gostar de um cachaceiro egoísta e ganancioso desses? Bem, a escrita do Chris Seavor e do Robin Beanland certamente ajudam bastante com isso, existe um contraste entre essas tendências negativas do Conker e a personalidade calma, sarcástica e até bem educada que deram pra ele, é quase como se as tendências negativas dele fossem subconscientes e ele mesmo nem se tocasse do quão terrível ele realmente é.

Essa personalidade do Conker que já tem um contraste com as atitudes dele, tem um contraste ainda maior com os outros personagens que ele encontra no decorrer da aventura. A maioria deles são... Bem, eles não parecem estar de muito bom humor. Tem um peso de sei lá quantas toneladas puto porque a mulher dele que também é outro peso se assustou com um rato e subiu nele, uma lata de tinta, um pincel e um ancinho tentam matar o Conker só como passatempo, uma engrenagem com dupla personalidade onde uma é calma e educada enquanto a outra parece a Dercy Gonçalves em um daqueles dias, um monte de besouros rola bosta que tratam quem chega na terra deles como se a pessoa tivesse acabado de falar publicamente que gosta de Sword Art Online... É complicado. De qualquer forma, parte do humor nas cutscenes vem do Conker interagindo com esses personagens, educadamente tentando tirar vantagem deles, e algumas vezes eles mesmos interagindo entre si também, a cena do ancinho tentando se enforcar, por exemplo, é provavelmente a melhor piada com suicídio que eu já vi em qualquer coisa. De resto, tem muito humor de banheiro envolvendo mijo, bosta, genitais, violência e todas essas coisas que achávamos hilárias quando víamos vídeos do Mundo Canibal em 2006, além de paródias e referências de cultura pop.

Por incrível que pareça, o humor de banheiro e a violência desse jogo têm um propósito, não é algo que tá ali apenas pra chocar os jogadores e agradar aquele pré-adolescente que desenha jebas quilométricas nas paredes e mesas da escola e morre de rir quando outra pessoa encosta nos desenhos dele. O que Conker's Bad Fur Day faz, na verdade, é pegar coisas comuns em platformers e apresentar de uma forma mais próxima da realidade... Porque platformers na verdade são jogos bem violentos, a gente só não percebe porque a violência deles é extremamente amenizada de modo que fique agradável pra crianças. O Mario amassa a cara de Goombas com a sua bunda, o Banjo e a Kazooie literalmente explodem alguns dos inimigos deles em pedaços, o Donkey Kong taca barris de dinamite nos outros como se não fosse nada, o Megaman literalmente mete bala nos inimigos dele... Apesar deles serem robôs, mas ainda assim são robôs autoconscientes.

Além do mais, alguns desses jogos mais family-friendly podem ser meio nojentos se você parar pra pensar, tem fases se passam literalmente em esgotos, ainda assim guiamos nossos personagens por esses locais e em alguns casos até chegamos a entrar na água que provavelmente tá uma imundice. Olha só pra Megaman 2, a terceira fase do Dr. Wily é a porra do esgoto do castelo, e olha essa água que deve ter tanto mijo, tanta merda e outras sujeiras acumuladas que já ficou até amarela meio bege com umas camadas pretas formadas nas paredes... E o Megaman entra nessa água como se não fosse nada, o absoluto homem louco! Agora você entende por que o jogo do Conker fazendo essas coisas funciona? É uma paródia desconstrutiva de platformers, você pode rir do quão absurda é a ideia de que um jogo com um esquilinho vermelho fofo tenha tanto gore e derramamento de sangue, e que você tenha que nadar em águas cheias de merda e mijo, mas fica mais engraçado quando você acaba jogando um platformer normal e percebe que não é muito diferente, só não é apresentado da mesma forma.

Mas não é só por isso que eu gosto tanto da história e principalmente do personagem Conker, apesar que mesmo hoje em dia esse jogo não falha em colocar um sorriso no meu rosto com o seu humor e a grande maioria dos personagens que Conker encontra em sua aventura. De certa forma, eu me identifico com o Conker, tanto como pessoa quanto como jogador de video games, ainda hoje em dia eu sou meio ganancioso, mas na minha juventude eu era mais... Sério, o Ryu de 15 anos em 2009 era tipo, o CEO da ganância e do cinismo, me recusava a fazer qualquer tipo de esforço grande a menos que eu recebesse algo em troca, e se eu pudesse usar a confiança de outra pessoa pra me beneficiar sem ter que encarar alguma consequência negativa, assim eu o fazia sem o menor remorso. Mas eu não fazia isso apenas por cuzice, eu meio que esperava que outras pessoas fizessem o mesmo comigo também caso tivessem oportunidade, por isso eu não pedia ajuda pra alguém a menos que eu tivesse uma maneira de retribuir, e nem pedia algum jogo ou coisa do tipo emprestada pra alguém sem emprestar um meu também.

É a maneira como eu cresci, as pessoas ao meu redor naquela época eram falsas e aproveitadoras, logo eu acabei aprendendo a agir de modo parecido. Isso também se refletia na maneira como eu jogava meus jogos, não via muito sentido em fazer coisas que não tivessem recompensas que valessem o esforço, o que me interessava em uma sidequest de um JRPG ou alguma missão alternativa do tipo não era ajudar o personagem da quest e dar um final feliz à história dele e sim o que eu ganharia com isso, resolver o problema dele era só o que eu tinha que fazer pra ganhar a minha recompensa. Sim, isso é meio que o oposto dos personagens dos jogos que eu jogava, que geralmente queriam ajudar mesmo e tal... Exceto o Conker, o Conker já sai perguntando "Beleza, e o que você tem pra mim aí?" em resposta a um pedido de ajuda, e quanto mais ele se beneficiar com essa atitude, melhor é pra ele.

Pois bem, durante boa parte do jogo, essa atitude do Conker é uma piada, de certa forma o charme dele, mas isso também é parte do arco de personagem pelo qual ele passa até o fim da história. Vez ou outra ele demonstra se importar com alguns dos outros personagens que ele conhece, em especial a Berri, mesmo tendo "se esquecido" do seu objetivo de voltar pra casa e ver ela de novo, ele ainda claramente gosta muito dela, ao ponto de encarar o Panther King e a máfia do Don Weaso pra resgatá-la. Porém, a Berri acaba sendo morta, o Panther King é morto pelo Xenomorfo descontrolado que o Von Kriplespac criou, e o Conker só consegue se salvar desse bicho por causa de um bug que deu no jogo e permitiu que ele conversasse com os designers pra arrumarem um jeito de consertar e dar a ele uma arma pra vencer a luta. Em um ato final de egoísmo, Conker acaba esquecendo de pedir aos designers pra trazerem a Berri de volta, e quando se lembra, já é tarde demais, não há como conversar com eles de novo... Dessa vez foi diferente, Conker foi egoísta, pensou em si mesmo primeiro e em outra pessoa depois, mas talvez pela primeira vez na sua vida, ele se arrepende amargamente disso e fica sem escolha a não ser encarar as consequências.

A trama termina com Conker, agora o novo rei, tendo absoluto poder sobre toda aquela terra, toda a reverência e o dinheiro que ele sonhava em ter... Mas e agora? Será que era isso mesmo que ele queria? Talvez não, talvez voltar pra casa e ver a Berri de novo tenha sido o que ele queria de fato, mas ele não percebeu, pois a grama sempre é mais verde do outro lado da cerca. Da forma mais inesperadamente dura e cruel, nosso herói aprendeu que nós nunca realmente damos valor ao que temos até perdermos. Isso foi uma excelente quebra de expectativa por si só, especialmente porque o jogo te encoraja a não levar mortes tão a sério assim, e também me afetou bastante a um nível pessoal, porque eu conseguia ver algo assim acontecendo comigo. Não, não ir parar em um mundo diferente e me tornar um rei deprimido, mas sim me arrepender de não ter dado valor a algo ou alguém que eu tinha do meu lado até não ter mais. Também ajuda que na época em que eu joguei Conker's Bad Fur Day, meu ensino fundamental havia acabado e eu estava pra mudar de escola, então tinha uma possibilidade de conhecer pessoas novas, que fossem diferentes daquele monte de gente duas caras que tinha na escola anterior. Então... Sim, de certa forma, Conker's Bad Fur Day contribuiu pra que eu tivesse pensamentos mais positivos pro ano de 2010 que estava apenas começando, foi um jogo muito importante pra mim.

Enfim, talvez eu tenha divagado, mas eu precisava explicar por que Conker's Bad Fur Day se tornou um dos meus jogos favoritos durante aquela época, e mesmo tendo essa experiência novamente, a maior parte do roteiro ainda é muito boa. Mesmo se por acaso você achar que o jogo em si não envelheceu muito bem, é meio difícil não gostar da escrita, do humor ou do final, especialmente se você for um fã de platformers de mascote, é uma excelente homenagem ao gênero em si.

Falando em coisas que envelheceram bem ou não, os gráficos e visuais desse jogo continuam absurdos de bonitos, puta merda! Grande parte dos jogos do Nintendo 64 graficamente envelheceram tão bem quanto uma caixa de leite aberta, mas a Rare de alguma forma conseguia fazer jogos bonitos pra esse console, Banjo-Kazooie e Tooie são lindos, Donkey Kong 64 não faz feio também, e Conker's Bad Fur Day é de longe o jogo mais bonito que a Rare já fez no console, isso se não for o jogo mais bonito de todos os que foram lançados pra ele. Não, eu não tô exagerando, o jogo nem ao menos precisa de um Expansion Pak que nem Donkey Kong 64, Majora's Mask e Perfect Dark, e ainda assim consegue ter muito mais detalhes tanto nos cenários quanto nos modelos dos personagens, que têm até mesmo expressões faciais variadas e sincronia labial até complexa com as falas, trouxeram a direção de arte variada e vibrante à vida da melhor forma que podiam em um jogo de Nintendo 64. Claro que isso teve um preço, em alguns pontos o jogo sofre com slowdowns, especialmente quando tem uma quantidade grande de inimigos na tela, mas isso não é tão frequente assim.

E sim, eu disse "falas", acompanhando esse belíssimo cartoon adorável cheio de violência e obscenidades temos a dublagem... Que em grande parte é apenas o Chris Seavor fazendo vozes diferentes pros personagens, com exceção do Great Mighty Poo que é dublado/cantado pelo Chris Marlow enquanto as personagens femininas são dubladas pela Louise Ridgeway, a animadora principal da equipe. Sim, isso parece algo que acabaria num desastre, mas por incrível que pareça, foi justamente o contrário, a dublagem em Conker's Bad Fur Day é boa pra um caralho, talvez em grande parte pelo jogo não se levar muito a sério e ter aquela atmosfera trashzona, mas o Chris Seavor faz uma voz perfeita pro Conker, capturando a personalidade sarcástica dele de uma forma tão impecável, que eu não consigo imaginar outro dublador o substituindo e fazendo um trabalho tão bom quanto. Sim, é verdade que por ser um cartucho o áudio disso aqui ainda soa como se alguém tivesse enfiado um microfone no cu e se gravado falando, mas era o máximo que dava pra fazer, e apesar dessa limitação, as vozes soam bem.

Isso significa que o áudio das músicas também é meio abafado, naturalmente, mas por sorte isso nunca impediu jogos de Nintendo 64 de terem trilhas sonoras boas, e Conker's Bad Fur Day não é exceção a isso, Robin Beanland criou uma das trilhas sonoras mais memoráveis e criativas que um jogo já teve. É, eu sei, boa parte dessa trilha sonora se consiste em pegar a Windy e fazer uma caralhada de variações dela pras áreas diferentes do jogo, mas... Funciona! Os arranjos e instrumentações diferentes transformam a Windy em praticamente outra música, toda vez, cada versão tem um ritmo e uma atmosfera completamente diferentes, com a única coisa reconhecível sendo a melodia característica da Windy. Escuta só a Uga Buga, dá pra ouvir a melodia da Windy nela, mas de resto é uma música completamente diferente. E mesmo as músicas mais originais não ficam muito atrás, você é um mentiroso fodido se não bateu os pés no ritmo da Rock Solid ou com a Surf Punks... E eu nem preciso falar da música do Great Mighty Poo, né?

Ok, ok, gráficos bonitos, músicas boas, roteiro bem escrito e tal... Mas e o jogo em si como se sai? Afinal de contas, é pra isso que estamos aqui, certo? Video games têm o propósito principal de ser jogados e não assistidos ou ouvidos! Bem, pelo menos na maioria dos casos, mas em platformers é definitivamente isso. Apesar que... Conker's Bad Fur Day não é exatamente um platformer, ou ao menos não puramente um, a primeira parte do jogo, Hungover, funciona como um tutorial e tem algumas seções de platforming bem básicas pra você pegar o jeito de como controlar o Conker e o que ele pode fazer: Andar/correr, pular, fazer cosplay de Tails pra planar por um curto período de tempo após um pulo... E acertar seus inimigos com uma frigideira. Provavelmente o menos usado desse moveset é a frigideira, esse não é exatamente um jogo cheio de combate, e mesmo as seções de combate que existem normalmente são encaradas com alguma gimmick que substitui o botão da frigideirada, e essa é basicamente a mecânica principal do jogo, o platforming não chega a ficar muito mais complexo do que o que vimos na Hungover.

Basicamente, em certos momentos do jogo existe um pedaço do chão com a letra B, chamados de B Pads, ficando em cima deles e apertando B, ao invés de um golpe de frigideira, você faz com que o Conker tire alguma bugiganga do cu e a use praquela seção específica onde ele está. Isso varia de um estilingue pra atirar nozes nos besouros rola-bosta que querem te expulsar da casa deles, facas pra arremessar em fios elétricos, rolos de papel higiênico pra jogar na boca do Great Mighty Poo, até coisas como lança-chamas pra repelir morcegos, ativar a lanterna do capacete que o Conker usa em seções escuras, e ficar bêbado e ganhar a habilidade de mijar nos seus inimigos. Nem tudo isso se ativa nos B Pads, algumas vezes o Conker vai comunicar em uma cutscene que o B ganhou uma nova função e em outras é só chegar em determinado ponto do cenário que uma lâmpada vai acender acima da cabeça do Conker e esse é o momento de você apertar B.

Mas então, como fica a execução de todas essas ideias? Bem, eu diria que isso aqui é um caso bizarro onde um jogo esteve à frente do seu tempo, e ao mesmo tempo também é um produto do seu tempo. Quantas vezes eu pretendo dizer "tempo" na mesma frase? Sei lá, não há tempo pra contar isso porque preciso continuar a review e finalizá-la a tempo. O que importa é que o Conker tem controles bons, a esse ponto a Rare já dominou esse aspecto dos seus jogos e não há problema algum em se movimentar, pular e nem nada, tudo funciona e responde perfeitamente bem. Só existe um pequeno delay na animação da frigideirada, ele demora 1 segundo pra de fato dar o golpe, e isso pode exigir um pouco de tempo pra se acostumar, especialmente quando o jogo quer que você corra atrás de certos bichos e acerte eles com a frigideira. Não é algo que o jogo te pede pra fazer com frequência, mas ainda assim acertar queijos e levar pro rato 3 vezes até ele explodir fica repetitivo, acertar os milhos pra levar até onde o Great Mighty Poo se esconde é tão empolgante quanto tentar beber uma garrafa de 2 litros de água usando um garfo... E nem me faça falar da parte em que eu fiquei perseguindo as malditas das engrenagens e tinha que acertar uma frigideirada nelas.

Existem também uns problemas de câmera, é claro... Isso é um jogo de Nintendo 64, claro que ia ter câmera problemática, diabos! Mas olha, na maior parte do tempo ela é até bem decente, especialmente considerando que você vira ela com os botões C ao invés de só usar pra mudar de ângulo pré-determinado como costuma ser, então quando o jogo te deixa no controle da câmera é perfeitamente ok, na maior parte do tempo você até nem mesmo precisa mexer muito a câmera porque ela já se posiciona bem por si só. Por outro lado, há momentos em que a câmera só coloca em uma posição fixa e você não pode mexer com ela, e digamos que ela não se coloca lá no melhor dos ângulos em momentos como a seção de equilíbrio na Bat's Tower, ou a Clang's Lair, que é uma seção aquática labiríntica onde você não só tem que se preocupar com o oxigênio do Conker embaixo d'água, como também precisa evitar os peixões metálicos gigantes que em certos pontos a câmera faz um trabalho de merda em mostrar com seus ângulos pré-definidos e passar acaba se tornando algo mais baseado em sorte do que qualquer outra coisa.

Há quem reclame do fato de que esse jogo tem dano de queda, pular de lugares altos demais resulta em perda de uma parte considerável da barra de vida, ou até mesmo o Conker se despedaçar todo e morrer assim que atinge o chão. Bem, isso é uma coisa, mas honestamente não me incomodou tanto assim, o mais próximo que chegou disso foi a Bat's Tower porque é uma torre cheia de platforming vertical, e é um longo caminho até lá embaixo de volta. Ehhh, você pode simplesmente descer a torre de novo da mesma forma que a subiu, o jogo até acomoda isso bem o suficiente, ou você pode decidir que isso é uma perda de tempo e resolver pular lá de cima... Obviamente do topo da torre não, a menos que cê queira morrer, mas depois de descer um pouco, dá pra arriscar um pulo e perder uns 2 ou 3 pedaços do seu chocolate de vida, supondo que você esteja com a barra cheia. De qualquer forma, isso é meio inconveniente sim, o jogo devia oferecer um modo mais prático e rápido de voltar pra baixo ao invés das suas escolhas serem quebrar o seu ritmo ou levar dano pra progredir.

Quando eu disse que Conker's Bad Fur Day é um jogo à frente do seu tempo, mas também um produto do seu tempo, o motivo se encontra mais nas próprias gimmicks e mecânicas introduzidas no botão B através de ações específicas pra cada contexto. Platformers 3D no fim dos anos 90 e grande parte dos anos 2000 tinham uma obsessão fodida em incorporar elementos de outros gêneros em si, Sonic Adventure e Crash Bandicoot: Warped fizeram isso, mas os gêneros diferentes não exatamente se misturavam ao gameplay principal desses jogos, eram separados em personagens ou fases diferentes que se focavam em tais elementos. Por outro lado, o jogo do Conker não é muito de ficar dividindo isso em seções ou personagens diferentes, a única exceção seria a seção de surf na lava do Uga Buga. Lembro dessa seção ter sido bem mais frustrante quando joguei pela primeira vez, mas jogando de novo agora eu surpreendentemente não tive muita dificuldade, e olha que faz uns bons 10 anos desde a última vez que eu joguei isso, consegui manter a minha velocidade alta, desviar do dinossauro que passa por aí em certas seções e acertar os moleques que me roubaram sem muitos problemas. Admitidamente, desviar dos dinossauros parece ser meio baseado em sorte, encostar neles te mata de uma só vez e a hit box deles não é lá a coisa mais generosa do mundo, mas dessa vez eu o fiz de primeira, milagrosamente.

Deixando essa seção de lado, o elemento principal incorporado no gameplay aqui é o de shooter, primeiro o jogo te ensina a jogar em seções assim quando você chega no B Pad onde precisa usar o estilingue, as facas, os rolos de papel higiênico e afins, além de ter uma seção onde você usa a metralhadora embutida da colmeia da abelha rainha pra atirar nas vespas... E alguns capítulos são inteiramente dedicados à mecânica de shooter. Explico um de cada vez, primeiro as seções de shooter até são bem divertidas, graças à violência cartunesca excessiva aqui, atirar nos inimigos normalmente faz eles explodirem de formas grotescas em vários pedaços, o que torna a experiência bastante satisfatória. No entanto, tem um problema: A mira não é lá a coisa mais precisa que existe, não só pelos controles dela em si serem mais sensíveis do que deveriam, coisa que acontecia bastante em shooters do Nintendo 64, como também o fato de que por algum motivo essas seções não possuem retícula de mira e nem nada do tipo, então você precisa se acostumar com isso e tentar pegar a trajetória dos seus projéteis pra acertar os tiros precisamente.

O negócio da retícula é até administrável, até porque apenas nas seções de shooter iniciadas por B pads não há retícula, e elas são simples o suficiente, mas a sensibilidade dos controles de analógico do Nintendo 64 realmente torna algumas dessas seções mais difíceis do que normalmente seriam. A luta contra as vespas e a seção de torreta do It's War, por exemplo, podem ser um inferno por causa da dificuldade em mirar nos inimigos que são bastante ágeis. De fato, It's War é uma das partes que eu menos gosto do jogo por causa disso, além de começar com uma missãozinha de escolta sem graça, a parte da guerra em si é cheia de tentativa e erro com mecânicas de shooter que não se dão muito bem com inimigos ágeis como os Tediz, e a última seção onde você tem que escapar, seção essa que pode ir tomar bem no olho do cu, você tem que ter um timing praticamente perfeito pra sair das coberturas e acertar os tiros nesses cornos desgraçados antes que eles atirem primeiro e te matem com os tiros de bazuca one-hit kill deles!

Em contrapartida, Spooky é um capítulo bem legal, também focado na mecânica de shooter, mas lutar contra os zumbis é legal porque eles são lerdos e há lugares seguros de onde despachar eles. Tanto esse capítulo como o It's War fazem o Conker tirar uma arma do cu e isso mudar o gameplay, você anda usando os botões C e mira com o analógico graças à falta de um segundo analógico no controle do Nintendo 64, então demora um tempo pra se acostumar. Depois de pegar o jeito, meter bala nos zumbis com a sua escopeta ou nos Tediz com as metralhadoras fica legal... Mais nos zumbis do que nos Tediz, mas ok, e piedosamente o jogo coloca uma retícula ou uma mira a laser pra você saber exatamente onde diabos atira nessas seções.

Outros estilos de gameplay alterativo incluem voar por aí como um morcego cagando em aldeões e levando eles a moedores de carne, ficar bêbado e mijar nos demônios de fogo pra acabar com eles, lutar contra um touro e usá-lo pra fazer as vacas beberem laxante chifrando elas, um dos bosses tem um dinossauro no qual você monta e usa pra estraçalhar os capangas dele, e depois a bunda dele também... Variedade é o que não falta aqui, Conker's Bad Fur Day é o tipo de jogo que tá sempre mandando alguma coisa nova pra você, se certificando de que cada um dos seus capítulos seja único de uma forma ou outra. Sim, nem todas essas tentativas são bem sucedidas, mijar nos demônios de fogo é do caralho, mas quando você também precisa fazer isso pros guardas do Rock Solid rolarem até o buraco... Bem, guiar eles com o mijo que é tão impreciso no jogo quanto é na vida real é bem mais chato do que deveria. Mas ei, em qual outro platformer 3D você pode mijar nos seus inimigos pra começo de conversa? Só a novidade já vale alguma coisa, pelo menos.

Apesar do jogo transbordar criatividade no seu design e nas ideias de gameplay, mesmo que nem todas tenham lá a melhor das execuções, eu infelizmente não posso dizer o mesmo sobre os bosses. Sim, eu mencionei o boss do Uga Buga onde você usa o dinossauro pra acabar com os capangas dele e depois meter uma mordida no saco e na bunda dele e tal, mas aquele meio que é o melhor boss do jogo inteiro, os outros em sua maioria não chegam exatamente nesse mesmo nível, apesar de nenhum deles ser necessariamente ruim também...

"COMO ASSIM, ANDRÉ? O GREAT MIGHTY POO É MUITO MAIS MELHOR DE BOM QUE ESSE BOSS CHATO DA PRÉ-HISTÓRIA, SEU ARROMBADO DA BUCETA, ESTÁ CANCELADO!!!"

Não, cara, não. Você não gosta do Great Mighty Poo por causa da luta contra ele em si, você gosta por causa da música que ele canta... E a ideia absurda de estar lutando contra um boss que é literalmente uma merda gigante que canta ópera, esse é o apelo do Great Mighty Poo. Mecanicamente falando, a luta contra ele é o que? Bem, ele fica brotando em uns trechos do cenário, joga bosta em você, e quando ele abre a boca pra cantar, você vai e taca um rolo de papel higiênico na boca dele. Se não fosse pelas cutscenes dele cantando aquela música maravilhosa, isso não seria muito mais do que um boss básico com um padrão simples, o que até faz sentido, visto que é o primeiro boss grande do jogo. Sim, é isso, é o primeiro boss grande, não tem nada muito impressionante ou desafiador sobre a luta contra ele em si. Isso significa que o personagem e a música dele deixam de ser memoráveis? Claro que não!

Mas é... Os bosses tão longe de ser o ponto mais forte de Conker's Bad Fur Day, a maioria deles são extremamente simples, além dos seus padrões não mudarem muito na medida em que a luta progride. Talvez o maior problema seja esse mesmo, tá faltando aquela dificuldade que vai escalando na medida em que o boss se aproxima da morte, um modo de pânico quando falta só mais um hit ou algo assim... E não, isso não significa que os bosses sejam ruins, como eu disse lá em cima. Eu até gosto do boss do It's War, mesmo esse capítulo não sendo lá a melhor coisa do mundo, e o Xenomorfo também é legal, a luta contra ele é pelo menos climática, sem falar que o final do jogo mais do que compensa isso.

Então, o que mais tem pra fazer nisso além de chegar ao fim do jogo? Não muito, surpreendentemente. Esse aqui não é um collect-a-thon cheio de conteúdo extra como outros platformers 3D da Rare, o único coletável aqui é o dinheiro que você já precisa pegar pra poder progredir na história de qualquer forma. O que Conker's Bad Fur Day tem que outros platformers 3D da Rare não tiveram, no entanto, é o Multiplayer, que tem uma caralhada de modos de jogo diferentes e basicamente se joga como um TPS online, provavelmente o motivo principal da falta de conteúdo extra na campanha. Mas olha só, eu não ligo pra Multiplayer e muito menos tenho com quem jogar mesmo se eu ligasse! Oh bem, que azar.

Agora sobra a pergunta: Mesmo hoje em dia, em pleno apocalipse coronaviral do ano de 2020, seria Conker's Bad Fur Day um jogo que eu recomendaria? Pra todos os efeitos, eu diria que sim, especialmente pra quem é fã de platformers e ainda por algum motivo não jogou, isso aqui é uma paródia e uma carta de amor ao gênero ao mesmo tempo. Você vai ter que se acostumar com o gameplay ser datado em alguns aspectos, assim como a maioria dos jogos 3D mais antigos, não havia muito o que a Rare podia ter feito sobre isso, considerando as limitações do Nintendo 64. O que torna Conker's Bad Fur Day um jogo interessante é o quanto ele foi inovador pra época e tentou usar o máximo possível do potencial do seu console, não existia nenhum jogo parecido com isso antes, e dá pra argumentar que mesmo hoje em dia não há nenhum platformer 3D com a mesma personalidade e disposição pra tomar riscos, possivelmente devido ao fato de que esse jogo não foi exatamente um sucesso comercial na época, mesmo tendo sido aclamado pela crítica.

Acima de tudo, Conker's Bad Fur Day é um jogo muito importante pra mim, poderia até dizer que tem um valor sentimental, e por isso eu tive tanta dificuldade pra escrever essa review de modo que parecesse satisfatório... E talvez até um pouco de receio de rejogar isso e acabar não sendo tão bom quanto eu me lembrava. Bem, de certa forma não é, pra algo que na minha cabeça era o Santo Graal dos video games, isso aqui inevitavelmente acabou se revelando um jogo que não envelheceu muito bem em certas áreas, e que provavelmente não seria tão memorável se não fosse pelo roteiro, os visuais e a trilha sonora, já que o gameplay é onde se encontra a maior quantidade de deslizes. Teria sido muito melhor se o jogo não tivesse essas curvas de dificuldade zoadas na segunda metade, fosse menos repetitivo em algumas partes e refinasse um pouco mais as mecânicas de shooter, mas ainda assim ele não faz feio no geral.

E quer saber? Apesar disso, eu continuo amando Conker's Bad Fur Day tanto quanto antes, mesmo que o jogo acabasse sendo uma bosta hoje em dia, isso provavelmente nem mudaria tanto. É ok amar coisas que tenham falhas, e o fato de que você ama algo assim não significa que você não saiba que existem falhas, eu sei muito bem das falhas em Conker's Bad Fur Day e aceito a existência delas, o nome disso é "crescer", ou algo assim. Há muito o que se gostar aqui, mais do que o suficiente pra compensar essas falhas com as quais eu tive que lida, as várias ideias diferentes com níveis variados de sucesso na execução, os momentos cômicos que arrancaram uns sorrisos do meu rosto e mantinham a experiência divertida, as músicas marcantes, e principalmente a lição que eu aprendi com esse jogo, chegando até a última parte e vendo aquele final, são coisas que eu vou levar pra minha vida toda. Então... Eu não me arrependo nem um pouco de ter rejogado Conker's Bad Fur Day e percebido que o jogo tá longe de ser uma obra prima em termos de gameplay, na verdade isso só me fez rearfirmar que, apesar da idade ficar mais evidente do que nunca agora, esse ainda é um dos meus jogos favoritos de todos os tempos.

E eu ainda quero ver uma sequência de verdade disso aqui, Microsoft filha da puta!

Nota: 7

 
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